São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2005

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O Diabo mora ao lado

Em "Constantine", Keanu Reeves enfrenta demônios das histórias em quadrinhos e do seu passado

DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A CIDADE DO MÉXICO

O México é um bom lugar para lançar "Constantine", o filme. Referências à morte estão em todo canto, signos do catolicismo disputam espaço com representações profanas dos deuses astecas, sempre sedentos por sangue, espalhadas pela poluída capital mexicana. Aqui, John Constantine, protagonista da série de HQs de horror "Hellblazer" que inspirou a adptação, se sentiria em casa.
O mesmo não acontece com Keanu Reeves, o Constantine de carne-e-osso. Com o diretor estreante Francis Lawrence, ele está na cidade para promover o filme, que estréia hoje no Brasil e conta a história de um mago duplamente condenado: por um câncer de pulmão em estágio avançado e por um encontro mal-resolvido com o diabo em pessoa.
Vestindo preto, barba malfeita e bochechas rosadas -uma assessora diria mais tarde que era por causa de uma gripe forte-, Reeves não demonstra muita paciência diante das perguntas insistentes dos jornalistas locais: "Se morresse agora, preferiria ir para o Céu ou para o Inferno?", "Você está pronto para realizar um exorcismo na vida real?", "Por que Neo [de "Matrix'] e Constantine são tão parecidos?" etc. etc. etc.
Com uma atitude blasé própria do personagem, um anti-herói da linha adulta de HQs da mesma editora de Batman e Superman, Reeves é monossilábico na hora de responder. "Eu não tenho uma definição firme do que seja Céu ou Inferno", "Não, eu não estou pronto para fazer um exorcismo", "Se Neo e Constantine têm algo em comum, é que ambos vivem a jornada de um herói" etc. etc. etc.
Parte do mau-humor pode ser entendida como autodefesa. Afinal, após o relativo fracasso de crítica das duas continuações da série "Matrix" e considerando o argumento fantástico do novo "Constantine", história repleta de anjos, demônios e efeitos especiais e com uma série de liberdades em relação à versão do personagem idolatrado nos quadrinhos, o ator tem motivos de sobra para estar pisando em ovos:
A inexperiência de Lawrence, que só havia dirigido clipes de Justin Timberlake, Shakira e Aerosmith, no cinema; um gordo orçamento a ser compensado de cerca de US$ 100 milhões; além da seqüência de adaptações de personagens de quadrinhos fracassadas dos estúdios Warner, desde "Batman Returns" (1992) até "Mulher-Gato", vencedor absoluto do prêmio Framboesa de Ouro como o pior filme de 2004.
Poucos minutos antes do fim da coletiva, realizada em 24 de fevereiro, no luxuoso Four Seasons da Cidade do México, outro repórter traz uma nova descarga de tensão ao clima do encontro: "Keanu, o que você acha de possuir o rosto mais inexpressivo de Hollywood hoje?". Silêncio. "Você viu o filme?", responde, constrangido, antes de encerrar a coletiva diante de nova indagação bizarra sobre "se tivesse asas, para onde gostaria de voar", ou algo do tipo...
Horas depois, a Folha participou de uma mesa-redonda com Lawrence e Reeves e mais sete jornalistas da América Latina. Leia a seguir trechos da entrevista.

 

Pergunta - "Constantine" é o seu primeiro filme. Como lidou com a pressão dentro dos estúdios?
Lawrence -
No início me senti nervoso. Tenho amigos nesse universo, que me contaram histórias horríveis. Fazer cinema era algo com que eu sempre sonhei, mas tive medo de que pudesse odiar. Foi uma experiência fantástica. Fizemos um filme bastante estranho para os padrões dos estúdios. Eles nos deram total liberdade, recursos e um ótimo elenco.

Pergunta - Como foi trabalhar com um diretor estreante?
Reeves -
Quando nos conhecemos, ele tinha uma parede forrada de referências visuais, que explicavam o seu conceito para o filme. Francis tem feito vídeos há dez anos, portanto sabe onde colocar as câmeras, conduzir a história, ensaiar os atores. Nunca me senti como se estivesse falando com um estreante.


O jornalista Diego Assis viajou a convite da Warner

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