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O Diabo mora ao lado
Em "Constantine", Keanu Reeves enfrenta demônios das histórias em quadrinhos e do seu passado
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A CIDADE DO MÉXICO
O México é um bom lugar para
lançar "Constantine", o filme. Referências à morte estão em todo
canto, signos do catolicismo disputam espaço com representações profanas dos deuses astecas,
sempre sedentos por sangue, espalhadas pela poluída capital mexicana. Aqui, John Constantine,
protagonista da série de HQs de
horror "Hellblazer" que inspirou
a adptação, se sentiria em casa.
O mesmo não acontece com
Keanu Reeves, o Constantine de
carne-e-osso. Com o diretor estreante Francis Lawrence, ele está
na cidade para promover o filme,
que estréia hoje no Brasil e conta a
história de um mago duplamente
condenado: por um câncer de
pulmão em estágio avançado e
por um encontro mal-resolvido
com o diabo em pessoa.
Vestindo preto, barba malfeita e
bochechas rosadas -uma assessora diria mais tarde que era por
causa de uma gripe forte-, Reeves não demonstra muita paciência diante das perguntas insistentes dos jornalistas locais: "Se morresse agora, preferiria ir para o
Céu ou para o Inferno?", "Você
está pronto para realizar um exorcismo na vida real?", "Por que
Neo [de "Matrix'] e Constantine
são tão parecidos?" etc. etc. etc.
Com uma atitude blasé própria
do personagem, um anti-herói da
linha adulta de HQs da mesma
editora de Batman e Superman,
Reeves é monossilábico na hora
de responder. "Eu não tenho uma
definição firme do que seja Céu
ou Inferno", "Não, eu não estou
pronto para fazer um exorcismo",
"Se Neo e Constantine têm algo
em comum, é que ambos vivem a
jornada de um herói" etc. etc. etc.
Parte do mau-humor pode ser
entendida como autodefesa. Afinal, após o relativo fracasso de crítica das duas continuações da série "Matrix" e considerando o argumento fantástico do novo
"Constantine", história repleta de
anjos, demônios e efeitos especiais e com uma série de liberdades em relação à versão do personagem idolatrado nos quadrinhos, o ator tem motivos de sobra
para estar pisando em ovos:
A inexperiência de Lawrence,
que só havia dirigido clipes de
Justin Timberlake, Shakira e Aerosmith, no cinema; um gordo orçamento a ser compensado de
cerca de US$ 100 milhões; além da
seqüência de adaptações de personagens de quadrinhos fracassadas dos estúdios Warner, desde
"Batman Returns" (1992) até
"Mulher-Gato", vencedor absoluto do prêmio Framboesa de Ouro
como o pior filme de 2004.
Poucos minutos antes do fim da
coletiva, realizada em 24 de fevereiro, no luxuoso Four Seasons da
Cidade do México, outro repórter
traz uma nova descarga de tensão
ao clima do encontro: "Keanu, o
que você acha de possuir o rosto
mais inexpressivo de Hollywood
hoje?". Silêncio. "Você viu o filme?", responde, constrangido,
antes de encerrar a coletiva diante
de nova indagação bizarra sobre
"se tivesse asas, para onde gostaria de voar", ou algo do tipo...
Horas depois, a Folha participou de uma mesa-redonda com
Lawrence e Reeves e mais sete jornalistas da América Latina. Leia a
seguir trechos da entrevista.
Pergunta - "Constantine" é o seu
primeiro filme. Como lidou com a
pressão dentro dos estúdios?
Lawrence - No início me senti
nervoso. Tenho amigos nesse universo, que me contaram histórias
horríveis. Fazer cinema era algo
com que eu sempre sonhei, mas
tive medo de que pudesse odiar.
Foi uma experiência fantástica.
Fizemos um filme bastante estranho para os padrões dos estúdios.
Eles nos deram total liberdade, recursos e um ótimo elenco.
Pergunta - Como foi trabalhar
com um diretor estreante?
Reeves - Quando nos conhecemos, ele tinha uma parede forrada de referências visuais, que explicavam o seu conceito para o filme. Francis tem feito vídeos há
dez anos, portanto sabe onde colocar as câmeras, conduzir a história, ensaiar os atores. Nunca me
senti como se estivesse falando
com um estreante.
O jornalista Diego Assis viajou a convite
da Warner
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