São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2005

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O DIABO MORA AO LADO

Para diretor, mudanças em relação aos quadrinhos não significam infidelidade ao personagem

Constantine "loiro e inglês" não é essência

DO ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO

Leia a seguir a continuação das entrevistas com o ator Keanu Reeves e Francis Lawrence, diretor do filme "Constantine". (DA)

 

Pergunta - A que tipo de preparação você teve de se submeter para interpretar Constantine? Você aprendeu latim para as cenas de exorcismo? Leu os quadrinhos?
Keanu Reeves -
Não aprendi latim. Foi uma preparação muito prática. Apenas tive de me familiarizar com o personagem, sua linguagem, seus gestos. Tentei me relacionar com o que achava que ele pensaria e faria em diversas situações, encontrar os maneirismos, conectar meu corpo ao papel. Para isso, os quadrinhos foram importantes. A maioria das coisas que estão no filme vem da série "Hábitos Perigosos", então eu li algumas dessas histórias. Olhava os painéis, a arquitetura.

Pergunta - O filme é diferente dos quadrinhos em aspectos-chaves: o Constantine das HQs é loiro, vive em Londres, não em Los Angeles...
Francis Lawrence -
O projeto do filme já existia seis ou sete anos antes de eu embarcar. Não sei quando, nesse processo, ele foi transformado num americano, ou por quê. Houve até uma outra encarnação, com outro diretor, em que Constantine seria Nicolas Cage. Não havia muito o que fazer. Keanu já estava lá antes de mim. Poderia dizer que foi ele quem me contratou, e não o contrário. Eu não tinha familiaridade com a HQ até que comecei a pesquisar o personagem. Para mim, o que faz o Constantine é o sarcasmo, o cinismo, seu jeito autodestrutivo, como ele sempre coloca seus amigos em risco. Ele é um homem condenado. São essas coisas juntas que fazem dele o que ele é. Você tira tudo isso e faz dele inglês e loiro, não é suficiente.

Pergunta - Em diversos momentos do filme há uma tensão para que Constantine e Angela [Rachel Weisz] se beijem, mas isso não acontece. Por quê?
Lawrence -
Decidimos isso logo no começo. Acho que o filme funciona melhor quando não é previsível. Se tivéssemos deixado os dois juntos, qualquer um no cinema poderia adivinhar. Viramos isso de ponta-cabeça, impedimos que acontecesse. Não acho que Constantine seja do tipo romântico, que vai sair por aí beijando. Se ele tiver um momento com uma garota, será numa cama ou contra a parede. Ele é um solitário: é mais provável que saia com uma prostituta do que atrás de um relacionamento sério com uma garota.

Pergunta - Há muitas mensagens antitabagismo no filme. Por um momento, somos até levados a pensar que enfim Constantine vai trocar o cigarro pelos chicletes...
Reeves -
O fato é que isso estava no roteiro, é parte do argumento. A ambição do filme não é passar uma imagem antitabagista, mas representar o que acontece na HQ, que fala de um cara autodestrutivo que escolhe levar a sua vida dessa forma. Pense o que quiser. Não houve outra intenção.

Lawrence - Você está brincando? [Risos] Constantine sem um cigarro? Aquele chiclete não vai durar nem cinco minutos. Ele provavelmente estaria acendendo outro assim que pisasse na calçada...

Pergunta - Por que o Inferno lembra tanto a cidade de Los Angeles?
Lawrence -
Há uma ironia ali: o trânsito de LA é um inferno! Mas a verdade é que o Inferno do roteiro original era descrito apenas como algo escuro, cheio de ossos. Era muito chato. Nós tentamos encontrar regras para como o mundo funciona. Se existe o Bem e o Mal por aí, seria legal se tivéssemos também o Céu e o Inferno rondando. Onde quer que você estivesse, haveria a versão do Céu e a versão do Inferno desse mesmo lugar. Parece com Los Angeles porque a história se passa lá. Se, na seqüência, ele estiver na Índia, o Inferno será a Índia.

Pergunta - Vai haver seqüência?
Reeves -
Eu toparia, me diverti muito interpretando o Constantine. Só não faria se o Francis não fizesse. Mas antes precisamos ver se o público vai gostar e então os produtores podem começar a pensar nessa oportunidade.

Pergunta - Antes disso...
Reeves -
Terminei de filmar "A Scanner Darkly". É baseado em um conto de Philip K. Dick, com Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Ryder. Foi todo captado em digital para ser animado depois [em rotoscopia]. Mas já posso garantir uma coisa: a adaptação é muito fiel!


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