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O DIABO MORA AO LADO
Para diretor, mudanças em relação aos quadrinhos não significam infidelidade ao personagem
Constantine "loiro e inglês" não é essência
DO ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO
Leia a seguir a continuação das
entrevistas com o ator Keanu
Reeves e Francis Lawrence, diretor do filme "Constantine".
(DA)
Pergunta - A que tipo de preparação você teve de se submeter para
interpretar Constantine? Você
aprendeu latim para as cenas de
exorcismo? Leu os quadrinhos?
Keanu Reeves - Não aprendi latim. Foi uma preparação muito
prática. Apenas tive de me familiarizar com o personagem, sua
linguagem, seus gestos. Tentei me
relacionar com o que achava que
ele pensaria e faria em diversas situações, encontrar os maneirismos, conectar meu corpo ao papel. Para isso, os quadrinhos foram importantes. A maioria das
coisas que estão no filme vem da
série "Hábitos Perigosos", então
eu li algumas dessas histórias.
Olhava os painéis, a arquitetura.
Pergunta - O filme é diferente dos
quadrinhos em aspectos-chaves: o
Constantine das HQs é loiro, vive
em Londres, não em Los Angeles...
Francis Lawrence - O projeto do
filme já existia seis ou sete anos
antes de eu embarcar. Não sei
quando, nesse processo, ele foi
transformado num americano,
ou por quê. Houve até uma outra
encarnação, com outro diretor,
em que Constantine seria Nicolas
Cage. Não havia muito o que fazer. Keanu já estava lá antes de
mim. Poderia dizer que foi ele
quem me contratou, e não o contrário. Eu não tinha familiaridade
com a HQ até que comecei a pesquisar o personagem. Para mim,
o que faz o Constantine é o sarcasmo, o cinismo, seu jeito autodestrutivo, como ele sempre coloca
seus amigos em risco. Ele é um
homem condenado. São essas
coisas juntas que fazem dele o que
ele é. Você tira tudo isso e faz dele
inglês e loiro, não é suficiente.
Pergunta - Em diversos momentos do filme há uma tensão para
que Constantine e Angela [Rachel
Weisz] se beijem, mas isso não
acontece. Por quê?
Lawrence - Decidimos isso logo
no começo. Acho que o filme funciona melhor quando não é previsível. Se tivéssemos deixado os
dois juntos, qualquer um no cinema poderia adivinhar. Viramos
isso de ponta-cabeça, impedimos
que acontecesse. Não acho que
Constantine seja do tipo romântico, que vai sair por aí beijando. Se
ele tiver um momento com uma
garota, será numa cama ou contra
a parede. Ele é um solitário: é mais
provável que saia com uma prostituta do que atrás de um relacionamento sério com uma garota.
Pergunta - Há muitas mensagens
antitabagismo no filme. Por um
momento, somos até levados a
pensar que enfim Constantine vai
trocar o cigarro pelos chicletes...
Reeves - O fato é que isso estava
no roteiro, é parte do argumento.
A ambição do filme não é passar
uma imagem antitabagista, mas
representar o que acontece na
HQ, que fala de um cara autodestrutivo que escolhe levar a sua vida dessa forma. Pense o que quiser. Não houve outra intenção.
Lawrence - Você está brincando?
[Risos] Constantine sem um cigarro? Aquele chiclete não vai durar nem cinco minutos. Ele provavelmente estaria acendendo outro
assim que pisasse na calçada...
Pergunta - Por que o Inferno lembra tanto a cidade de Los Angeles?
Lawrence - Há uma ironia ali: o
trânsito de LA é um inferno! Mas
a verdade é que o Inferno do roteiro original era descrito apenas
como algo escuro, cheio de ossos.
Era muito chato. Nós tentamos
encontrar regras para como o
mundo funciona. Se existe o Bem
e o Mal por aí, seria legal se tivéssemos também o Céu e o Inferno
rondando. Onde quer que você
estivesse, haveria a versão do Céu
e a versão do Inferno desse mesmo lugar. Parece com Los Angeles
porque a história se passa lá. Se,
na seqüência, ele estiver na Índia,
o Inferno será a Índia.
Pergunta - Vai haver seqüência?
Reeves - Eu toparia, me diverti
muito interpretando o Constantine. Só não faria se o Francis não fizesse. Mas antes precisamos ver
se o público vai gostar e então os
produtores podem começar a
pensar nessa oportunidade.
Pergunta - Antes disso...
Reeves - Terminei de filmar "A
Scanner Darkly". É baseado em
um conto de Philip K. Dick, com
Robert Downey Jr., Woody Harrelson e Winona Ryder. Foi todo
captado em digital para ser animado depois [em rotoscopia].
Mas já posso garantir uma coisa: a
adaptação é muito fiel!
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