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CRÍTICA
Filme e HQ são "pessoas" diferentes
DO ENVIADO À CIDADE DO MÉXICO
Há duas maneiras de olhar
para "Constantine", o filme.
A primeira delas independe
das histórias em quadrinhos.
John Constantine é um sujeito de meia-idade, fumante
compulsivo, que vive sozinho
em Los Angeles como uma espécie de ocultista de aluguel.
Graças a um dom percebido
ainda na infância, o anti-herói
de cabelos negros, sempre trajado em um elegante terno preto, consegue detectar a presença de anjos e demônios que, no
universo do filme, misturam-se
com humanos no dia-a-dia.
O dom, não tarda, vira sina, e
Constantine tenta cometer suicídio, mas é reavivado dois minutos depois, não sem antes ter
sua alma confiscada por Lúcifer (Peter Stormare).
Mudamos para os quadrinhos, onde Constantine não
cometeu suicídio quando jovem, mas teve seu primeiro encontro com o demônio Nergal
durante uma experiência de
magia negra malsucedida.
No mundo das HQs, ele é loiro, nasceu em Liverpool e veste
um sobretudo bege. Criado pelo escritor Alan Moore na HQ
"Monstro do Pântano", sua
inspiração foi o cantor Sting.
Como a versão encarnada
por Reeves, é um espertalhão
cínico e egoísta, mais preocupado em ajustar as suas contas
com o Inferno do que em fazer
do mundo um lugar melhor.
E é nesse aspecto, na tal "essência do personagem", que filme e HQ se tocam. Quando decide apelar ao anjo Gabriel (Tilda Swinton), Constantine não
quer perdão por seus pecados,
mas apenas uma mãozinha
"amiga" para não arder no fogo do Inferno. A cena em que
acende um cigarro dentro do
hospital logo depois de ser informado que possui um câncer
terminal é puro Constantine.
Quem mais levaria um papo
tão frio e divertido com Lú, para os íntimos, do que John
Constantine? (E olha que, nisso, Reeves também se saiu bem
em "O Advogado do Diabo").
Agora: um médium tatuado,
que carrega uma espingarda
dourada em forma de cruz para
explodir hordas de demônios
em computação gráfica; ágil
como um puma, apesar de ter
um câncer no pulmão; e que
não faz nenhuma parada estratégica num pub para tomar um
traguinho, ah, esse não é o velho John Constantine.
São "pessoas" diferentes. Como "Constantine" e "Hellblazer" são coisas diferentes. Com
o primeiro, você terá um bom
filme de ação com pano de fundo religioso - superior a fiascos como "Stigmata", "O Fim
dos Dias" e a recente "preqüência" de "O Exorcista". O problema é que "Hellblazer", a
HQ, é "O Bebê de Rosemary"
dos quadrinhos. Se não mais...
(DA)
Constantine
Constantine
Direção: Francis Lawrence
Produção: EUA, 2004
Com: Keanu Reeves, Rachel Weisz,
Tilda Swinton
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Butantã e circuito
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