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"APRENDI COM MEU PAI"
Personalidades contam lições paternas
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
"Meu pai foi o homem da
minha vida. Casei várias
vezes porque procurava nos homens alguém que tivesse a ver
com ele", diz Alice Carta, sem receio de sugerir um complexo de
Electra pelo pai, Jorge Besterman,
pioneiro do ramo automobilística. O depoimento está em
"Aprendi com Meu Pai", livro
concebido pelo jornalista Luís
Colombini, no qual 54 personalidades contam qual foi a maior lição que o genitor lhes ensinou.
A obra dialoga com o sucesso
brasileiro "Dois Filhos de Francisco", filme que mostra a importância da figura paterna na formação
de uma dupla de cantores sertanejos. Não por acaso o testemunho da dupla Zezé Di Camargo e
Luciano como que sela com chave
de ouro o volume.
Mas a lição mais comovente do
gênero continua exposta no romance do russo Ivan Turguêniev,
cujo título é justamente "Pais e Filhos" (Cosacnaify).
Nele, o estudante Bazárov chega
à casa dos pais, modestos proprietários de terras, após uma ausência de três anos. Sua estada é curta. Embora os velhinhos façam tudo para agradá-lo, o jovem revolucionário não se sente à vontade
com o passado senhorial que eles
representam.
Desconsolada com a partida
abrupta do filho, a mãe diz ao marido: "Que se há de fazer, Vássia?
Um filho é um pedaço cortado de
nós. Ele é um falcão: sentiu vontade, voou para cá; sentiu vontade,
voou para longe; mas eu e você,
como cogumelos no oco de uma
árvore, ficamos pertinho um do
outro, sem sair do lugar".
Para fazer justiça à herança de
cada pai, os depoimentos do livro
de Colombini, também o imobilizam em momento ou momentos
do passado. Eles tornam-se cogumelos ou árvore, para os atuais filhos-falcões.
Cássio Gabus Mendes recorda-se do pai, o novelista Cassiano,
procurando defender da polícia
uns garotos que vendiam água
sem licença no parque do Ibirapuera. Maurício de Souza lembra
seu Antonio reunido com amigos
seresteiros numa casa funerária.
Entre flores e caixões, o grupo
costumava entoar sucessos da Rádio Nacional.
Em Turguêniev, o conflito se dá
pelo choque de gerações na velha
Rússia czarista. Aqui não há propriamente conflito (a não ser em
poucos casos, como o de Arnaldo
Jabor, para quem o pai moralista
lhe traz "fantasias de extinção")
mas também, de par com as lições, mostra nacos recuperados
da história brasileira.
Seja na cena do pai de Roberto
Duailibi investindo contra padres
salesianos em Campo Grande; seja na prova de que o pai de Paulo
Autran, para o desprazer do filho
pequeno, era um delegado incorruptível; sejam nas pinceladas de
artista diletante do pai de José
Mindlin: em qualquer um destes e
em outros casos, evidencia-se a
nostalgia por um tempo que só
não se sepultou porque as lembranças e o saber transmitidos
aos filhos hoje bem-sucedidos
continuam a reproduzi-lo como
exemplo ao futuro.
Aprendi com Meu Pai
Autor: Luís Colombini (organizador)
Editora: Versar
Quanto: R$ 34,90 (256 págs.)
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