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CRÍTICA CULTURAL
Livro de colunista da Folha é fruto de curso de jornalismo
Coelho mapeia e interpreta debate cultural do século 20
FÁBIO DE SOUZA ANDRADE
COLUNISTA DA FOLHA
A formação e o percurso do
articulista da Folha Marcelo
Coelho adensam os dois termos
que segmentam a sobriedade com
que o título apresenta o espinhoso
assunto de seu último livro, a crítica cultural jornalística.
Sociólogo uspiano que nunca
fugiu à mediação dos conceitos
para melhor entender os fenômenos da cultura em sua raiz histórica, o autor afinou tom e escolhas
ao longo de mais de 20 anos de
contínuo exercício da crítica de
arte na imprensa.
Ao contrário de coletâneas anteriores, como "Gosto se Discute"
(Ática, 1994) e "Trivial Variado"
(Revan, 1997), que reuniam textos
diversos publicados ao longo dos
anos, este "Crítica Cultural - Teoria e Prática" nasce de uma experiência didática precisa -Coelho
foi professor de alunos de graduação na Faculdade Cásper Líbero,
entre 1997 e 2003- e uma inquietação: como iniciar os alunos aos
problemas do jornalismo cultural
brasileiro, hoje, sem cair no lugar-comum e meia-verdade de um
diagnóstico catastrofista e apocalíptico do estado de coisas atual,
conservador por natureza?
A estratégia encontrada, feliz,
foi ordenar as dificuldades envolvidas em torno de quatro debates
cruciais à melhor compreensão
dos papéis jogados contemporaneamente pelos artistas e pela crítica de arte, no Brasil e no mundo,
apresentando-os por uma leitura
cerrada de textos críticos exemplares, num espectro amplo que
vai da resenha ao ensaio de fôlego.
A vantagem desse mosaico teórico está em situar o choque de
idéias, evidenciando movimentos
ideológicos e interesses envolvidos, sem perder o chão da forma
concreta que eles assumiram na
expressão dos críticos.
Assim, a análise detida de "Paranóia ou mistificação?", como
passou a ser conhecido o texto em
que Monteiro Lobato reagia, em
1917, à novidade da pintura expressionista de Anita Malfatti, é
pretexto para o exame da linguagem polêmica em que crítica conservadora e manifestos vanguardistas curiosamente se encontram e para a discussão dos mecanismos pelos quais convenções
formais datadas deslizam para
normas naturalizadas, sempre
encontrando seus cães de guarda.
O debate especificamente local
se desdobra na chave mais geral
das relações entre o moderno e os
movimentos de vanguarda do alto modernismo em escala mundial. Coelho apresenta, sem facilitar, as várias e contraditórias faces
que assumem a defesa da arte moderna e a reação a ela. Convocando nomes como Ortega y Gasset,
Clement Greenberg, Eliot e Valéry, Weber, Bloch e Lukács, explicita os critérios por trás de seu
repúdio ou acolhimento do humanismo clássico, do realismo, de
suas posturas elitistas ou democratizantes em relação à arte como instituição.
A decisão de recuar ao modernismo e à disputa de valores em
torno dos fenômenos da cultura
de massas não impede o livro de
voltar-se para questões estéticas
imediatamente presentes no debate atual. A leitura que Ferreira
Gullar faz de dois poemas de João
Cabral, por exemplo, serve à discussão do binômio nacionalismo/cosmopolitismo, e encerra o
volume a polêmica em torno do
conceito de pós-moderno, igualmente apoiada em exemplos generosos. Didático, mas não sensaborão, "Crítica Cultural - Teoria e
Prática" mostra um crítico atilado
que não se furta ao exame contínuo de seus pressupostos nem esconde a história de seus critérios.
Crítica Cultural - Teoria e Prática
Autor: Marcelo Coelho
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 39 (352 págs.)
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