São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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O maestro russo Vladimir Ashkenazy rege a Orquestra Jovem da União Européia em três apresentações em SP

Ode à união

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro e pianista Vladimir Ashkenazy, 66, chega neste mês a São Paulo como regente e solista da Orquestra Jovem da União Européia. Ele é uma das grandes unanimidades mundiais entre os intérpretes de música erudita.
Russo naturalizado islandês, será a quarta vez em dez anos que se apresenta por aqui. O primeiro concerto será no dia 18, domingo, às 19h, na Sala São Paulo, com renda revertida para a CIP (Congregação Israelita Paulista).
Segundo o rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da CIP, "ter Ashkenazy junto à Orquestra Juvenil da União Européia em um concerto em prol das obras sociais da CIP constitui uma verdadeira ode à união entre os povos".
Na quarta-feira, dia 21, Ashkenazy estará com a orquestra às 11h no parque Ibirapuera. E no dia seguinte, quinta-feira, dia 22, apresenta-se às 21h no Municipal.
A orquestra, com músicos de 17 a 24 anos, foi criada em 1976 e se tornou bem mais que um laboratório para a formação de bons instrumentistas. É um conjunto de padrão técnico invejável. Ela esteve em São Paulo em 1996, também sob a regência de Ashkenazy.
O maestro e pianista será o solista do "Concerto para Piano e Orquestra nš 3", de Ludwig van Beethoven. Nos programas, também obras de Wolfgang Amadeus Mozart, Piotr Tchaikovski, Bedrich Smetana e Antonín Dvorak.
Leia trechos da entrevista de Ashkenazy à Folha.

Folha - Para quem já regeu as grandes orquestras mundiais, qual é o diferencial em trabalhar com uma orquestra jovem?
Vladimir Ashkenazy -
É uma orquestra que acrescenta bastante à minha experiência de músico. Ela possui um frescor e uma espontaneidade incríveis. Tenho sempre a certeza de que todos eles darão o melhor de si mesmos.

Folha - Uma de suas constantes tem sido defender e divulgar a obra de Dmitri Chostakovich. Qual a razão que o levou a excluí-lo do programa da turnê ao Brasil?
Ashkenazy -
As negociações em torno do repertório são sempre um pouco confusas. Normalmente as entidades que nos convidam exprimem preferências que procuramos satisfazer. A turnê que faremos nos foi proposta de surpresa. Soubemos que ela se realizaria há apenas alguns meses. A direção da orquestra se dispôs então a acomodar o programa com que viajaríamos aos desejos de nossos anfitriões.

Folha - Há nos catálogos das gravadoras 98 CDs seus. Quais os compositores que lhe são inéditos e que gostaria de gravar?
Ashkenazy -
Em verdade minhas gravações estão em torno de 200, o que a meu ver não é tanto assim. Creio que gravarei ainda bem mais. Um dos exemplos do que pretendo gravar: sinto-me muito próximo dos poloneses, mesmo porque fui um dos concorrentes do Concurso Chopin, em 1955. Meus amigos pediram-me para gravar peças para piano de Szymanowski [Karol Szymanowski (1882-1937)], o que pretendo em breve fazer. Ainda há algumas semanas gravei Ottorino Respighi -"Fontane di Roma" e "Pini di Roma".

Folha - Qual orquestra o sr. regeu nessa gravação?
Ashkenazy -
A Filarmônica da Rádio da Holanda.

Folha - Ainda sobre orquestras, em seis meses o sr. estará assumindo a direção musical da Sinfônica NHK, de Tóquio. Qual a particularidade de uma orquestra do Oriente?
Ashkenazy -
Todos os países têm seus diferenciais. No caso do Japão eles ingressaram na música erudita ocidental há pouco tempo. O espantoso é que em poucas décadas esse repertório já se tornava para eles "natural". Foi uma incorporação cultural muito bem-sucedida. Quanto à NHK, ela já passou pelas mãos de excelentes maestros. Foi o caso de Wolfgang Sawallisch [até recentemente o diretor da Orquestra de Filadélfia], que deu a ela uma capacitação espantosa na interpretação do repertório alemão.

Folha - Por que o sr. ainda não regeu ou gravou ópera?
Ashkenazy -
Por falta de tempo. Ópera é algo que exige uma preparação demorada e sessões de gravação mais demoradas ainda. Ser pianista e maestro já consome todas as minhas energias. Também nunca acreditei que a ópera fosse uma de minhas prioridades.

Folha - Se pedissem, o sr. faria?
Ashkenazy -
Em verdade eu regerei na próxima temporada, no Japão, uma versão de concerto de "As Valquírias", de Wagner. É uma música belíssima. E será minha primeira experiência.

Folha - Quando o sr. está sozinho em casa, que tipo de música escolhe na sua estante de CDs?
Ashkenazy -
Milhares de coisas diferentes. É impossível responder de forma concisa.


VLADIMIR ASHKENAZY E A ORQUESTRA JOVEM DA UNIÃO EUROPÉIA.
Quando e onde: dia 18, às 19h, na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, Campos Elíseos, tel. 3337-5414); dia 21, às 11h, no parque Ibirapuera; dia 22, às 21h, no Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, São Paulo, tel. 222-8698). Ingressos: na Sala São Paulo, de R$ 50 a R$ 450; no Municipal, de R$ 50 a R$ 250; grátis no Ibirapuera. Patrocinadores: Varig, Daimler Chrysler, Sara Lee (Café do Ponto), Telefônica e Unilever.



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