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RELÂMPAGOS
Xucro
JOÃO GILBERTO NOLL
Ela dançava, dançava, enquanto eu, atrás de uma coluna, acompanhava certo movimento relutante, já avulso,
quase extraviado daquele primeiro ensaio que me permitiam observar. Ela dançava... E
eu pensava sobre o que faríamos nós dois depois do ensaio.
Talvez fosse bom que a música
se alongasse. O tempo de eu
deglutir, em seus gratos compassos, alguns entulhos do dia.
Ou de fugir talvez, involuntariamente, como quem fosse ao
banheiro e se afogasse no espelho. E fui. E voltei. As luzes,
agora, apagadas. Ao tatear no
silêncio, eu fabricava uma periclitante, cega coreografia. Até
encontrar a porta. Trancada.
Alguém brincava comigo? "E
alguém me ouve?", eu repetia,
sempre no mesmo tom, sem
modulações, como um canto
gregoriano apelando à surdez
daquela escuridão...
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