São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000


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CANNES

"Vatel" eclipsa Godard na abertura do festival

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Gilles Jacob, o diretor artístico que se despede de Cannes neste ano, venceu ontem a primeira batalha. "Vatel", superprodução franco-britânica de Roland Joffé, é o melhor filme de abertura do festival em muito tempo.
O sucesso de "Vatel" eclipsou a nobre introdução, com o novo curta de Jean-Luc Godard. "Das Origens do Século 21" repete a estrutura ensaística dos episódios de "Histoire(s) du Cinéma", há pouco exibidos no Brasil pela Eurochannel. Godard revê o século do fim para o começo, frisando sua visão trágica na abertura, com um ônibus de refugiados centro-europeus de 1990, e no desfecho, com uma dança burguesa de Max Ophuls.
Já a fórmula de "Vatel" tinha tudo para desandar: um drama histórico, falado em inglês, sobre os bastidores da corte de Luís 14, o Rei Sol, com Gérard Depardieu encabeçando o elenco no papel-título. Como sempre, o milagre originou-se num sólido roteiro, adaptado para o inglês pelo dramaturgo Tom Stoppard ("Shakespeare Apaixonado") a partir do original de Jeanne Labrune.
Não é difícil ver a mão de Stoppard no jogo metalinguístico que retrata a arte do personagem Vatel. Por três dias, em abril de 1671, coube a Vatel entreter o rei e sua corte, transpostos de Versalhes para o castelo do príncipe de Condé em Chantilly.
Condé quer conquistar Luís 14 e ser apontado para chefiar uma campanha militar contra a Holanda. Seu primeiro exército, de criados, artesãos e cozinheiros, é liderado por Vatel.
No filme de Joffé, ele surge como o grande diretor do espetáculo da realeza. Dos segredos de culinária aos efeitos especiais, todas as artes são por ele dominadas. Desde "Casanova e a Revolução", de Ettore Scola, as intrigas da corte não surgiam na tela com tanto charme e complexidade.
Depardieu compõe Vatel com inédita introspecção, acompanhado por um irônico Luís 14 de Julian Sands. Tim Roth faz um ciumento marquês de Lauzun e Uma Thurman seduz a todos como uma das acompanhantes da rainha.
Foi um começo de festival mais que promissor. A disputa da Palma de Ouro começa hoje, com Ken Loach devassando a cisão social nos EUA, em "Bread & Roses" (Pão & Rosas), e com o francês "Harry, un Ami Qui vous Veut du Bien" (Harry, um Amigo Que lhe Quer Bem), de Dominik Moll.


O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite da organização do festival

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