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CANNES
"Vatel" eclipsa Godard na abertura do festival
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Gilles Jacob, o diretor artístico
que se despede de Cannes neste
ano, venceu ontem a primeira batalha. "Vatel", superprodução
franco-britânica de Roland Joffé,
é o melhor filme de abertura do
festival em muito tempo.
O sucesso de "Vatel" eclipsou a
nobre introdução, com o novo
curta de Jean-Luc Godard. "Das
Origens do Século 21" repete a estrutura ensaística dos episódios
de "Histoire(s) du Cinéma", há
pouco exibidos no Brasil pela Eurochannel. Godard revê o século
do fim para o começo, frisando
sua visão trágica na abertura, com
um ônibus de refugiados centro-europeus de 1990, e no desfecho,
com uma dança burguesa de Max
Ophuls.
Já a fórmula de "Vatel" tinha tudo para desandar: um drama histórico, falado em inglês, sobre os
bastidores da corte de Luís 14, o
Rei Sol, com Gérard Depardieu
encabeçando o elenco no papel-título. Como sempre, o milagre
originou-se num sólido roteiro,
adaptado para o inglês pelo dramaturgo Tom Stoppard ("Shakespeare Apaixonado") a partir
do original de Jeanne Labrune.
Não é difícil ver a mão de Stoppard no jogo metalinguístico que
retrata a arte do personagem Vatel. Por três dias, em abril de 1671,
coube a Vatel entreter o rei e sua
corte, transpostos de Versalhes
para o castelo do príncipe de Condé em Chantilly.
Condé quer conquistar Luís 14 e
ser apontado para chefiar uma
campanha militar contra a Holanda. Seu primeiro exército, de
criados, artesãos e cozinheiros, é
liderado por Vatel.
No filme de Joffé, ele surge como o grande diretor do espetáculo da realeza. Dos segredos de culinária aos efeitos especiais, todas
as artes são por ele dominadas.
Desde "Casanova e a Revolução",
de Ettore Scola, as intrigas da corte não surgiam na tela com tanto
charme e complexidade.
Depardieu compõe Vatel com
inédita introspecção, acompanhado por um irônico Luís 14 de
Julian Sands. Tim Roth faz um
ciumento marquês de Lauzun e
Uma Thurman seduz a todos como uma das acompanhantes da
rainha.
Foi um começo de festival mais
que promissor. A disputa da Palma de Ouro começa hoje, com
Ken Loach devassando a cisão social nos EUA, em "Bread & Roses" (Pão & Rosas), e com o francês "Harry, un Ami Qui vous Veut
du Bien" (Harry, um Amigo Que
lhe Quer Bem), de Dominik Moll.
O crítico Amir Labaki está em Cannes a
convite da organização do festival
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