São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000


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Seminário discute paraíso digital

DO ENVIADO A CANNES

Se alguma certeza restou dos três intensos períodos de discussão, anteontem e ontem no Hotel Majestic de Cannes, é que o decantado consenso sobre as maravilhas da revolução digital do cinema é pura balela. Cannes permitiu-se dois dias de raríssima pausa iluminista para seu mais importante colóquio recente, intitulado "Le Cinéma à Venir" (O Cinema do Futuro).
A importância da iniciativa, co-organizada pelo vespertino "Le Monde", pôde ser medida por sua abertura pela ministra da Cultura e do Espetáculo, Catherine Tasca, e por seu encerramento, ontem à tarde, pelo próprio primeiro-ministro socialista Lionel Jospin.
Não menos impressionante foi a lista eclética de cineastas participantes, 24 ao todo. Na sessão de abertura, Walter Salles sentava-se entre o otimista Brian DePalma e um calado Wim Wenders. Hollywood de ontem e de hoje eram vizinhos com Sidney Lumet ("Rede de Intrigas") e Sam Mendes ("Beleza Americana"). Um pólo terceiro-mundista era formado pela iraniana Samira Makhmalbaf ("A Maçã") e o indiano Murali Nair.
A intervenção de abertura da ministra Tasca aqueceu o debate. Tasca disse que "uma quarta revolução, a do digital e da Internet, altera o consumo do filme".
Que revolução é essa? É a que aposenta o tradicional filme de celulóide em favor de fitas de vídeo digital, que poderiam ter seu conteúdo transmitido por meio de sinais em cabo, via satélite ou da Internet.
Tasca sustentou que "o que há a preservar é, antes de tudo, a diversidade", temerosa de que o salto tecnológico concentre ainda mais o poder de distribuição e amplie o virtual monopólio do mercado internacional pela produção americana. Na mesma direção, Salles sustentava ontem que "multiplicação (de canais) não é necessariamente sinônimo de polifonia".
DePalma contra-argumentou que, com a chegada da banda larga, que permite maior velocidade no fluxo de imagens via Internet, "todo computador vai virar uma TV, e tudo que nós aqui produzimos vai ser consumido lá". Lumet, por sua vez, disse que "em cinco anos o filme vai embora".
Ainda assim, Lumet é otimista: "Telas enormes estão voltando".
O "senso de comunidade" forjou um pacto entre Lumet e a iraniana. "Ninguém ri sozinho de um filme de Groucho Marx", disse Lumet. "Se todo mundo pode fazer café, por que os cafés estão cheios?", disse a cineasta. (AL)



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