São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2001

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Máfia a la Tarantino


Guy Ritchie fala de seu novo filme, "Snatch", se defende das críticas por machismo e se diz fascinado por subculturas

Sebastian Person/Divulgação
"BAD BOY" O ator Benicio del Toro recebe arma em cena de "Snatch", novo longa-metragem do inglês Guy Ritchie; próximo projeto do cineasta será um drama ambientado no século 16

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Ele já foi chamado de gênio (explica-se: a trama de seus filmes é tão complicadamente emaranhada que só poderia ser bolada por imbecis ou gênios e, na dúvida, ele sai beneficiado), de Tarantino inglês (por causa da linguagem "pulpfictiana" que usa), de hipócrita (nasceu em berço esplêndido, mas se identifica mesmo com a classe trabalhadora inglesa) e de machista (seus filmes são testosterona em estado puro).
Mas Guy Ritchie, 32, também conhecido como o marido de Madonna, defende-se dizendo que é apenas um homem fascinado por subculturas, sejam elas quais forem. E com "Snatch" -cuja história envolve roubo de diamantes, lutas de boxe e porcos-, esse roteirista/diretor que abandonou os estudos aos 15 anos prova que é craque em um gênero cinematográfico só seu, o da comédia do gângster pós-moderno infiltrado na classe trabalhadora inglesa. Mas essa fórmula deve acabar aqui, já que seu próximo filme é um drama passado no século 16.
Foi para o lançamento de "Snatch" -que, a propósito, entre outras coisas, é uma das gírias para identificar a genitália feminina- que Ritchie recebeu a Folha em Los Angeles. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha - Suas histórias são sempre complicadas, cheias de divisões e subdivisões. Como você faz para organizar as idéias no roteiro?
Guy Ritchie -
Não sei, não sou roteirista e só decidi escrever os filmes que queria dirigir depois de não encontrar quem o fizesse. O processo é todo caótico, e o roteiro que está nas minhas mãos no começo das filmagens nunca é o mesmo do final. Eu mudo as coisas diariamente. Mudo cenas, frases, a história.

Folha - E isso é culpa da sua notória baixa resistência à monotonia?
Ritchie -
Exatamente. Não posso correr o risco de ficar entediado, estou sempre inventando. Em "Snatch", instituí um sistema de multas. Havia multa para quem chegasse atrasado, multa para quem não decorasse os diálogos.

Folha - Quanto pelo atraso?
Ritchie -
Cem libras.

Folha - Quem foi o mais multado?
Ritchie -
[rindo" É vergonhoso, mas fui eu. Quando Madonna me ligava, eu esquecia da hora.

Folha - Brad Pitt pediu para trabalhar com você?
Ritchie -
Depois de assistir a "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", ele ligou e disse que adoraria trabalhar em meu próximo filme. Como dizer não a Brad Pitt? Só que não tinha um papel para ele em "Snatch" e tive de reescrever um personagem, que originalmente pesava 200 quilos.

Folha - Alguma coisa contra sexo em seus filmes?
Ritchie -
Não gosto de sexo no cinema, não diz nada e são cenas sempre tediosas. Eu quero ação.

Folha - Que tal ação com mulheres, para acabar com essa imagem de que seus filmes são machistas?
Ritchie -
Sem dúvida. Um de meus próximos projetos é baseado em mulheres que arrebentam. Mulheres em meus filmes sempre vão arrebentar.

Folha - Podemos esperar Madonna no elenco?
Ritchie -
Podem esperar que façamos um filme juntos, mas ainda não sei qual.


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