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CINEMA/ESTRÉIA
"LENDAS DA VIDA"
Diretor se apóia em elenco jovem e produção esmerada para contar a história de um "herói surrado"
Redford reedita velha história de purgação
CRÍTICO DA FOLHA
Rannulph Junuh (Matt
Damon) é um "herói surrado": depois de ter trocado o campo de golfe de sua terra natal pelos
campos de batalha europeus na
Primeira Guerra Mundial, o garoto de ouro de Savannah se tornou
um niilista.
Sua mulher esquecida (vivida
por Charlize Theron), cujo pai
empresário engrossou as estatísticas de suicídio do período da
Grande Depressão, decide promover um grande torneio de golfe
para não ser obrigada a vender o
campo que herdou.
Sedutora, ela alicia duas figuras
lendárias do esporte para a competição, enquanto um garoto da
localidade (Michael Moncrief, cujo personagem, da criança idólatra, é recorrente no cinema americano) tenta convencer Junuh de
que o auto-exílio não irá levá-lo a
lugar nenhum.
Nessa velha história de purgação e redenção que é "Lendas da
Vida", o diretor Robert Redford
pretendeu encontrar uma preciosa metáfora: retomando, no grande torneio, tanto o gosto pelo esporte quanto pela mulher (na base de "jogo é jogado, lambari é
pescado"), Junuh redescobre, numa espécie de "vontade de potência", o sentido da vida.
Trata-se apenas, no final das
contas, de retornar à grande competição da vida. Uma questão
hormonal -o que Junuh readquire, enfim, é seu nível normal
de testosterona- que Robert
Redford transforma em missão
mística.
É aí que entra o personagem de
Will Smith, Bagger Vance, o carregador de tacos que se consagra
como conselheiro espiritual do
golfista. Todo o (des)propósito do
filme está nesse personagem(-título). A aura sobre-humana que o
roteiro lhe dá e a petulância que
Smith lhe empresta podem tornar
irrelevante o fato de o personagem, negro, propor-se voluntariamente a servir um playboy sulista, nos Estados Unidos dos anos
30 -Smith tem ao menos o mérito, nesse sentido, de transformar
(involuntariamente) a figura clássica do "bom negro" num "mala
sem alça". Mas as lições místicas
que o personagem reserva ao jogo
de golfe já são difíceis de engolir.
Vance pretende salvar a alma de
Junuh, fazendo-o recuperar o seu
"suingue autêntico", isto é, o ponto em que o corpo (do golfista)
entra em harmonia com o todo
(do campo de golfe). Na verdade,
o tal "suingue autêntico" é o Rosebud (isto é, um pseudo-argumento) de Redford.
Convencional, o diretor, cujas
preocupações não são místicas,
mas financeiras, aposta aqui mais
uma vez na dobradinha "produção esmerada/jovem elenco de talento".
Ao menos ele descobriu o garoto Moncrief e confirmou Theron,
uma bem-sucedida mistura de
Jean Harlow com Marilyn Monroe, como a starlet do momento.
(TIAGO MATA MACHADO)
Lendas da Vida
The Legend of Bagger Vance
Direção: Robert Redford
Produção: EUA, 2000
Com: Matt Damon, Charlize Theron, Will
Smith
Quando: a partir de hoje nos cines
Jardim Sul, Belas Artes, Anália Franco, SP
Market, Pátio Higienópolis e circuito
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