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Crítica/regular
Universo em que mais fortes devoram mais fracos é olhado de fora por Assis
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Baixio das Bestas"
confirma o que
"Amarelo Manga"
(2002) já havia demonstrado:
no cenário de pasmaceira dominante do atual cinema brasileiro de ficção, é natural que se
acompanhe de perto, e com interesse, a parceria de inconfundível personalidade entre o diretor Cláudio Assis e o roteirista Hilton Lacerda -que também colaborou em "Baile Perfumado" (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, e "Árido
Movie" (2004), de Ferreira.
Em "Amarelo Manga", ao
menos duas vigas sustentavam
a busca por uma abordagem de
risco: o feixe de personagens
atípicos, comprimidos em panela de pressão que parece o
tempo todo prestes a explodir,
com uma série de dramas interligados pelo fio um tanto esgarçado do acaso; e o rigoroso tratamento estético -com ênfase
na fotografia de Walter Carvalho e na direção de arte de Renata Pinheiro- que procurava
integrar o conjunto.
"Baixio..." reúne o mesmo
núcleo de colaboradores (reforçado pelo operador de câmera Lula Carvalho e anabolizado pela filmagem em esplendoroso super 35 mm) e radicaliza as duas coordenadas: a beleza da textura e dos enquadramentos serve ao horror da sociedade de consumo em estado
bruto, sem perspectivas -certa
miséria existencial que leva a
um desenho do mundo como
uma gaiola em que os mais fortes devoram os mais fracos,
mas continuam presos ali.
Cria-se, no entanto, um ruído: esse universo de barbárie
não é exposto de dentro, pelas
suas próprias entranhas, mas
de fora, por um olhar que se
apresenta como estrangeiro e,
nas cenas de violência sexual
contra mulheres, um tanto voyeurístico, abdicando do poder
de sugestão das imagens em
nome da crueza descritiva.
A opção distancia "Baixio das
Bestas" de um filme admirável
com o qual mantém parentesco
formal e de visão de mundo: "A
Humanidade" (1999), do francês Bruno Dumont -que, ao
mergulhar em uma cidade no
meio do nada onde vive um infanticida, potencializa o horror
por abordá-lo via elipse e, longe
do escândalo fácil, obtém resultado devastador.
AVALIAÇÃO: regular
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