São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Crítica/bom

Diretor mergulha na brutalidade e, com grande marca pessoal, ilumina o humano

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O universo dos filmes de Cláudio Assis é sórdido -mas nem por isso é desumano. Ao contrário: Assis tem coragem de iluminar áreas sombrias do homem, negligenciadas pelo cinema, com uma marca extremamente pessoal.
"Amarelo Manga" pintava um anticartão-postal de Recife, oscilando entre a autenticidade e a caricatura. "Baixio das Bestas", ainda que seduzido pela estetização, vai mais longe.
No cenário da Zona da Mata de Pernambuco, em meio às plantações de cana que geram riqueza e exploração extremas, "Baixio..." desfila seu painel humano. São relações predatórias, quando não sádicas. Um tipo de exercício de poder que se espalha no cotidiano e termina em brutalidade.
A brutalidade pode vir do discurso: as palavras, ácidas, saem para machucar, não raro com humor. Aí, o filme flerta com a graça fácil, mas que logo acaba.
A exploração sexual é a conseqüência primeira desse tipo de relação humana que subjuga o corpo; as mulheres, as maiores vítimas. Essa exploração está no trabalho, mas se infiltra entre todos os tipos de relação.
O sexo, como efeito do poder sobre o corpo, é o foco: há o velho que explora a nudez da neta menor de idade, os freqüentadores do puteiro que se acham no direito de fazer o que quiserem com as prostitutas. O dinheiro é o personagem invisível: é o elemento de corrupção e desumanização.
Para tornar esse universo crível, Assis conta com um elenco de primeira -com destaque para Fernando Teixeira, como o velho explorador, e Caio Blat, estudante que passa os fins de semana com a família. Blat vive um bom ano após atuações marcantes em "Batismo de Sangue" e "Proibido Proibir".
Em "Baixio...", Assis caminha por um terreno pelo qual outros cineastas brasileiros já se aventuraram, como Roberto Moreira, em "Contra Todos", e Sérgio Bianchi, em "Cronicamente Inviável". Mas Assis parece ser o que mais fielmente enfrenta a sordidez como um universo a ser encarado, e não criticado de fora. É pessimista pelo que vê e não pelo que, simplesmente, despreza.


AVALIAÇÃO: bom

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