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Crítica
Lanny Gordin põe guitarra a serviço das melodias
No primeiro disco com seu nome, ele reúne colegas tropicalistas e nova geração
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Filho de pai russo e mãe
polonesa, tendo nascido na China e passado
seis anos em Israel, Lanny Gordin, 55, é um dos maiores guitarristas brasileiros. A barafunda global passa a fazer sentido
quando se ouve "Lanny Duos".
Por causa dos problemas de
saúde que teve e de inteligência
que o Brasil tem, é o primeiro
disco que leva seu nome.
Por saber muito da vida e de
música, Lanny pega todas as
possibilidades de sua guitarra e,
em vez de empilhá-las em solos
virtuosísticos, organiza-as em
originais grupos de acordes.
Embora exuberante, tudo o
que faz é a serviço das melodias
que interpreta e não se choca
com as vozes dos convidados do
CD -produzido por Péricles
Cavalcanti, que também canta
em "Farol da Jamaica".
Em "O Homem que Matou o
Homem que Matou o Homem
Mau", cantada por Max de Castro, o suingue único do autor,
Jorge Ben Jor, está ali, nas entrelinhas da interpretação de
Lanny, mas ele mostra outros
caminhos passeando pelo
country e pelo blues.
Exemplo da capacidade de
Tom Jobim de ser econômico e
grandioso, "Dindi" ganha, com
Lanny, vários movimentos,
sendo a levada da bossa nova só
um deles -há até a evocação de
um berimbau. Íntima da canção e do estilo do guitarrista,
Gal Costa se permite um "scat"
(improviso vocal com onomatopéias) suave. Companheiro
dos tropicalistas nos anos 70,
Lanny revê produções ao lado
de Caetano Veloso ("Enquanto
Seu Lobo Não Vem"), Gilberto
Gil ("Abra o Olho") e Jards Macalé ("Let's Play That"), nas
três com um pé (ou mão) lá e
outro(a) no presente.
Com a turma mais nova do
que ele, Lanny circunda com
sua guitarra e seu baixo o violão-base de Rodrigo Amarante,
expandindo a melodia de "Evaporar", composição do hermano; despe Fernanda Takai de
seu figurino roqueiro e mostra
em "Mucuripe" que ela pode
ser boa intérprete; e sublinha
de maneira firme e discreta as
marcações da letra e da voz de
Arnaldo Antunes em "O Sol".
Se for avaliado como produto, "Lanny Duos" não pode ser
chamado de perfeito, por causa
desse modelo irregular de disco
com participações -as faixas
oscilam conforme as composições e os convidados, havendo
pontos de menor destaque, como "Era Você", de e com Vanessa da Mata. Mas o que importa é a guitarra de Lanny,
sempre íntegra e imprevisível.
Um grande exemplo é o tema
que encerra o CD, o único solo.
A melodia de Tom Jobim fica
mais límpida sem os diversos
efeitos que Lanny cria, mas sua
versão para "Corcovado" ilumina como é possível brincar com
andamentos, esticar notas e inventar harmonias sem violentar um clássico. Coisa de quem
sabe muito da vida e de música.
LANNY DUOS
Gravadora: Barravento
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: ótimo
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