São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Crítica

Lanny Gordin põe guitarra a serviço das melodias

No primeiro disco com seu nome, ele reúne colegas tropicalistas e nova geração

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Filho de pai russo e mãe polonesa, tendo nascido na China e passado seis anos em Israel, Lanny Gordin, 55, é um dos maiores guitarristas brasileiros. A barafunda global passa a fazer sentido quando se ouve "Lanny Duos".
Por causa dos problemas de saúde que teve e de inteligência que o Brasil tem, é o primeiro disco que leva seu nome.
Por saber muito da vida e de música, Lanny pega todas as possibilidades de sua guitarra e, em vez de empilhá-las em solos virtuosísticos, organiza-as em originais grupos de acordes.
Embora exuberante, tudo o que faz é a serviço das melodias que interpreta e não se choca com as vozes dos convidados do CD -produzido por Péricles Cavalcanti, que também canta em "Farol da Jamaica".
Em "O Homem que Matou o Homem que Matou o Homem Mau", cantada por Max de Castro, o suingue único do autor, Jorge Ben Jor, está ali, nas entrelinhas da interpretação de Lanny, mas ele mostra outros caminhos passeando pelo country e pelo blues.
Exemplo da capacidade de Tom Jobim de ser econômico e grandioso, "Dindi" ganha, com Lanny, vários movimentos, sendo a levada da bossa nova só um deles -há até a evocação de um berimbau. Íntima da canção e do estilo do guitarrista, Gal Costa se permite um "scat" (improviso vocal com onomatopéias) suave. Companheiro dos tropicalistas nos anos 70, Lanny revê produções ao lado de Caetano Veloso ("Enquanto Seu Lobo Não Vem"), Gilberto Gil ("Abra o Olho") e Jards Macalé ("Let's Play That"), nas três com um pé (ou mão) lá e outro(a) no presente.
Com a turma mais nova do que ele, Lanny circunda com sua guitarra e seu baixo o violão-base de Rodrigo Amarante, expandindo a melodia de "Evaporar", composição do hermano; despe Fernanda Takai de seu figurino roqueiro e mostra em "Mucuripe" que ela pode ser boa intérprete; e sublinha de maneira firme e discreta as marcações da letra e da voz de Arnaldo Antunes em "O Sol".
Se for avaliado como produto, "Lanny Duos" não pode ser chamado de perfeito, por causa desse modelo irregular de disco com participações -as faixas oscilam conforme as composições e os convidados, havendo pontos de menor destaque, como "Era Você", de e com Vanessa da Mata. Mas o que importa é a guitarra de Lanny, sempre íntegra e imprevisível.
Um grande exemplo é o tema que encerra o CD, o único solo.
A melodia de Tom Jobim fica mais límpida sem os diversos efeitos que Lanny cria, mas sua versão para "Corcovado" ilumina como é possível brincar com andamentos, esticar notas e inventar harmonias sem violentar um clássico. Coisa de quem sabe muito da vida e de música.


LANNY DUOS
Gravadora:
Barravento
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: ótimo


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