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Para curador da Virada, rap ficou estigmatizado
Confusão em show dos Racionais em 2007 afastou o gênero da programação
Responsável pela escolha dos artistas, José Mauro Gnaspini diz que evento quase foi cancelado em 2006 por causa do PCC
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"O problema não é o hip hop.
O problema foi o que aconteceu
com o Racionais. A banda ficou
estigmatizada como um grupo
que é inimigo da polícia. Mas
não podemos demonizar um
movimento que não se resume
a uma banda. Mas foi o que
aconteceu com esse episódio.
Ficou o patrulhamento em cima do Racionais e, por tabela,
do hip hop como um todo."
Este é José Mauro Gnaspini,
36, que oficialmente é supervisor de programação da Secretaria da Cultura de São Paulo
-mais conhecido como o programador da Virada Cultural.
O episódio a que ele se refere
foi a pancadaria ocorrida durante show do Racionais MCs
no evento em 2007. A apresentação foi interrompida por um
confronto entre fãs e PMs.
Para Gnaspini, que organiza
as atrações da Virada Cultural
desde a primeira edição, em
2005, este foi o principal problema enfrentado até aqui.
Por isso, o rap foi praticamente limado da escalação do
evento -foi deslocado para palcos em unidades do CEU na periferia; na região central da cidade, o hip hop é representado
por grafite, dança de rua e DJs.
"Todos tiveram culpa. A banda não soube controlar o público. A polícia desceu o cacete. O
público também não soube se
comportar", opina Gnaspini,
que é advogado formado na faculdade do lgo. São Francisco.
Nascido na Saúde, em São
Paulo, foi guitarrista da banda
performática Quasímodo.
Em 2003, defendeu a tese
"Di-Glauber: Filme como Funeral Reprodutível" em mestrado na USP, sobre o "Di", de
Glauber Rocha (1939-81)
-Gnaspini questionou a decisão judicial que, em 1981, proibiu exibições de "Di", no qual
Glauber filma o enterro de Di
Cavalcanti (1897-1976).
Seu co-orientador do mestrado era Calos Augusto Calil.
Ao assumir a pasta da Cultura
na gestão Serra, em abril de
2005, Calil colocou Gnaspini
como assessor na secretaria.
Naquele ano, foi criada a Virada Cultural. "Havia uma visão na administração que deveríamos interditar alguma grande avenida para fazer shows de
Ivete Sangalo, Zezé Di Camargo, por 24 horas", lembra.
"Mas insistimos por um
evento pulverizado. Não queríamos juntar 1 milhão de pessoas em um palco, mas 1 milhão
de pessoas em vários palcos."
Em 2005, o orçamento da Virada foi de R$ 600 mil. Neste
ano, é de R$ 8 milhões.
Além do episódio com o Racionais MCs, Gnaspini cita como um dos piores momentos
da Virada os ataques do PCC
ocorridos em 2006, uma semana antes do evento.
"Pensamos em cancelar. Não
havia como adiar porque os
músicos têm uma agenda a
cumprir. Mas em reunião com
o Kassab ele decidiu fazer a Virada. E deu certo. A população
entendeu e saiu às ruas. E foi ali
que percebemos que o povo
preferia os palcos do centro."
Uma das críticas que se faz à
Virada Cultural é quanto à programação: neste ano, há shows
de medalhões como os americanos Living Colour, que já vieram algumas vezes ao país.
"Sim, vieram, mas nunca para tocar em evento gratuito.
Não termos o Municipal [o teatro está em obras] foi uma perda grande", diz Gnaspini.
"Ali no Municipal a gente
conseguia montar apresentações especiais, como os de artistas tocando discos antigos. E
estamos tentando correr riscos. Neste ano teremos pela
primeira vez na Virada um palco de reggae."
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