São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para curador da Virada, rap ficou estigmatizado

Confusão em show dos Racionais em 2007 afastou o gênero da programação

Responsável pela escolha dos artistas, José Mauro Gnaspini diz que evento quase foi cancelado em 2006 por causa do PCC


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

"O problema não é o hip hop. O problema foi o que aconteceu com o Racionais. A banda ficou estigmatizada como um grupo que é inimigo da polícia. Mas não podemos demonizar um movimento que não se resume a uma banda. Mas foi o que aconteceu com esse episódio. Ficou o patrulhamento em cima do Racionais e, por tabela, do hip hop como um todo."
Este é José Mauro Gnaspini, 36, que oficialmente é supervisor de programação da Secretaria da Cultura de São Paulo -mais conhecido como o programador da Virada Cultural.
O episódio a que ele se refere foi a pancadaria ocorrida durante show do Racionais MCs no evento em 2007. A apresentação foi interrompida por um confronto entre fãs e PMs.
Para Gnaspini, que organiza as atrações da Virada Cultural desde a primeira edição, em 2005, este foi o principal problema enfrentado até aqui.
Por isso, o rap foi praticamente limado da escalação do evento -foi deslocado para palcos em unidades do CEU na periferia; na região central da cidade, o hip hop é representado por grafite, dança de rua e DJs.
"Todos tiveram culpa. A banda não soube controlar o público. A polícia desceu o cacete. O público também não soube se comportar", opina Gnaspini, que é advogado formado na faculdade do lgo. São Francisco.
Nascido na Saúde, em São Paulo, foi guitarrista da banda performática Quasímodo.
Em 2003, defendeu a tese "Di-Glauber: Filme como Funeral Reprodutível" em mestrado na USP, sobre o "Di", de Glauber Rocha (1939-81) -Gnaspini questionou a decisão judicial que, em 1981, proibiu exibições de "Di", no qual Glauber filma o enterro de Di Cavalcanti (1897-1976).
Seu co-orientador do mestrado era Calos Augusto Calil. Ao assumir a pasta da Cultura na gestão Serra, em abril de 2005, Calil colocou Gnaspini como assessor na secretaria.
Naquele ano, foi criada a Virada Cultural. "Havia uma visão na administração que deveríamos interditar alguma grande avenida para fazer shows de Ivete Sangalo, Zezé Di Camargo, por 24 horas", lembra.
"Mas insistimos por um evento pulverizado. Não queríamos juntar 1 milhão de pessoas em um palco, mas 1 milhão de pessoas em vários palcos."
Em 2005, o orçamento da Virada foi de R$ 600 mil. Neste ano, é de R$ 8 milhões.
Além do episódio com o Racionais MCs, Gnaspini cita como um dos piores momentos da Virada os ataques do PCC ocorridos em 2006, uma semana antes do evento.
"Pensamos em cancelar. Não havia como adiar porque os músicos têm uma agenda a cumprir. Mas em reunião com o Kassab ele decidiu fazer a Virada. E deu certo. A população entendeu e saiu às ruas. E foi ali que percebemos que o povo preferia os palcos do centro."
Uma das críticas que se faz à Virada Cultural é quanto à programação: neste ano, há shows de medalhões como os americanos Living Colour, que já vieram algumas vezes ao país.
"Sim, vieram, mas nunca para tocar em evento gratuito. Não termos o Municipal [o teatro está em obras] foi uma perda grande", diz Gnaspini.
"Ali no Municipal a gente conseguia montar apresentações especiais, como os de artistas tocando discos antigos. E estamos tentando correr riscos. Neste ano teremos pela primeira vez na Virada um palco de reggae."


Texto Anterior: Virada aumenta também no interior de SP
Próximo Texto: Opinião: Programação arrisca pouco e está careta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.