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MÚSICA
Cantora lança álbum dedicado à obra do compositor e conta como o conheceu num show de Angela RoRo
Cássia Eller se rende à unidade de Cazuza
Dadá Cardoso/Folha Imagem
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Cássia Eller, que acaba de lançar disco dedicado à obra de Cazuza
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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio
Cássia Eller, 34, muda de direção
em seu quinto disco, que chega às
lojas nesta semana. Sempre acostumada ao ecletismo na escolha de
repertório, ela dedica "Veneno
Antimonotonia" exclusivamente à
obra do roqueiro Cazuza, morto
em 1990 -mesmo ano em que ela
estreou em disco.
Outra novidade: sempre ovelha
desgarrada, a cantora ganha a tutela do poeta Waly Salomão, que,
outrora responsável pelo lendário
show-disco "Fatal", de Gal Costa,
assina a direção do projeto Cazuza.
Leia trechos da entrevista que
Eller concedeu à Folha, no Rio.
Folha - A diversidade na escolha
de compositores tem sido uma de
suas características mais marcantes. Um disco todo dedicado ao Cazuza significa que você está abdicando dessa diversidade?
Cássia Eller - Um cara completo
como ele não tem uma característica própria, sua obra tem de tudo.
Isso contribui para eu continuar
nessa coisa da diversidade.
Folha - Ele não traz uma unidade
que seus outros CDs não tinham?
Eller - Acho que é meu disco
que tem mais unidade, mas não é
por ser o mesmo compositor. O
disco tem um produtor de verdade. Antes ninguém me via, só viam
o disco que ia ser produzido. Waly
Salomão está me vendo, pensando
no meu jeito de ser. Ele olhou pra
mim, me sacou, tentou me conhecer, ver minhas inseguranças.
Folha - Como foi esse encontro?
Eller - Foi sugestão do meu empresário, de que ele dirigisse o
show "Violões". Levei um susto,
achei que ele era muito esquisito,
muito diferente de mim. Fiquei
com medo, amarelei mesmo. Aí
combinamos fazer um disco com
ele, para então ele dirigir um show
-o que vai acontecer agora.
Folha - Você não tinha o plano de
fazer um CD só de inéditas?
Eller - Sim. Tinha umas três
músicas escolhidas, que mostrei
ao Waly. Ele fez um muxoxo, não
gostou. Disse que sabia que eu
queria fazer um disco de Cazuza, e
que tinha que ser agora.
Quando ele falou isso, me ganhou. Eu não acreditava que as
pessoas fossem gostar, que o disco
fosse ser bem aceito.
Folha - Qual é o principal ponto
de identidade entre Cássia Eller e
Cazuza?
Eller - A alegria de viver, as coisas da hora. Ele não tem preocupação com o futuro. É o que mais me
impressiona nele. Isso se reflete na
maneira de ele cantar (e na minha
também): não sabe cantar, mas
canta. Não tenho preocupação de
cantar afinado. Improviso demais,
arrisco demais. O Cazuza também.
Folha - Você procurou fazer versões parecidas às originais?
Eller - Procurei respeitar os riffs
das músicas, que são já bem marcantes. O mais difícil foi esquecer
as interpretações dele. Acho que
canto parecido com ele, então procurei pensar em outros cantores.
Em "Bete Balanço" eu pensei na
Angela RoRo, em "Pro Dia Nascer
Feliz", na Rita Lee, em "A Orelha
de Eurídice", no Renato Russo, em
"Preciso Dizer Que Te Amo", na
Marina... Tinha que sair fora do
Cazuza para não ficar tudo igualzinho a ele. Waly, não. Queria que
eu "recebesse" o Cazuza.
Folha - Você teve a preocupação
de atualizar o trabalho dele?
Eller - Não, sou "véia" mesmo.
Tudo é atual, ninguém inventa nada. O que falta é peito nos caras novos. Nem todo mundo tem talento.
Não precisei transformar coisas de
15 anos atrás para atuais. Quando a
coisa é boa, é para sempre.
Folha - Dá para comparar a postura do Cazuza, de não se furtar a
falar de homossexualismo e drogas, à sua?
Eller - Quando resolvi não esconder o que sou -foi quando
meu filho nasceu-, passei a ser
mais bem recebida. Estou vendo
que, quanto menos você se esconde, melhor se dá com as situações.
Desde quando eu era careta, sem
fumar, cheirar, beber, já gostava
da capacidade de John Lennon e
Jimi Hendrix de botar tudo pra fora quando estão doidões. Eu era
careta na época, só tinha comido
bombom com licor... Não sei falar
sobre isso, é difícil...
O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a
convite da gravadora PolyGram.
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