São Paulo, quarta, 11 de junho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
Cantora lança álbum dedicado à obra do compositor e conta como o conheceu num show de Angela RoRo
Cássia Eller se rende à unidade de Cazuza

Dadá Cardoso/Folha Imagem
Cássia Eller, que acaba de lançar disco dedicado à obra de Cazuza


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio

Cássia Eller, 34, muda de direção em seu quinto disco, que chega às lojas nesta semana. Sempre acostumada ao ecletismo na escolha de repertório, ela dedica "Veneno Antimonotonia" exclusivamente à obra do roqueiro Cazuza, morto em 1990 -mesmo ano em que ela estreou em disco.
Outra novidade: sempre ovelha desgarrada, a cantora ganha a tutela do poeta Waly Salomão, que, outrora responsável pelo lendário show-disco "Fatal", de Gal Costa, assina a direção do projeto Cazuza.
Leia trechos da entrevista que Eller concedeu à Folha, no Rio.

Folha - A diversidade na escolha de compositores tem sido uma de suas características mais marcantes. Um disco todo dedicado ao Cazuza significa que você está abdicando dessa diversidade?
Cássia Eller -
Um cara completo como ele não tem uma característica própria, sua obra tem de tudo. Isso contribui para eu continuar nessa coisa da diversidade.
Folha - Ele não traz uma unidade que seus outros CDs não tinham?
Eller -
Acho que é meu disco que tem mais unidade, mas não é por ser o mesmo compositor. O disco tem um produtor de verdade. Antes ninguém me via, só viam o disco que ia ser produzido. Waly Salomão está me vendo, pensando no meu jeito de ser. Ele olhou pra mim, me sacou, tentou me conhecer, ver minhas inseguranças.
Folha - Como foi esse encontro?
Eller -
Foi sugestão do meu empresário, de que ele dirigisse o show "Violões". Levei um susto, achei que ele era muito esquisito, muito diferente de mim. Fiquei com medo, amarelei mesmo. Aí combinamos fazer um disco com ele, para então ele dirigir um show -o que vai acontecer agora.
Folha - Você não tinha o plano de fazer um CD só de inéditas?
Eller -
Sim. Tinha umas três músicas escolhidas, que mostrei ao Waly. Ele fez um muxoxo, não gostou. Disse que sabia que eu queria fazer um disco de Cazuza, e que tinha que ser agora.
Quando ele falou isso, me ganhou. Eu não acreditava que as pessoas fossem gostar, que o disco fosse ser bem aceito.
Folha - Qual é o principal ponto de identidade entre Cássia Eller e Cazuza?
Eller -
A alegria de viver, as coisas da hora. Ele não tem preocupação com o futuro. É o que mais me impressiona nele. Isso se reflete na maneira de ele cantar (e na minha também): não sabe cantar, mas canta. Não tenho preocupação de cantar afinado. Improviso demais, arrisco demais. O Cazuza também.
Folha - Você procurou fazer versões parecidas às originais?
Eller -
Procurei respeitar os riffs das músicas, que são já bem marcantes. O mais difícil foi esquecer as interpretações dele. Acho que canto parecido com ele, então procurei pensar em outros cantores.
Em "Bete Balanço" eu pensei na Angela RoRo, em "Pro Dia Nascer Feliz", na Rita Lee, em "A Orelha de Eurídice", no Renato Russo, em "Preciso Dizer Que Te Amo", na Marina... Tinha que sair fora do Cazuza para não ficar tudo igualzinho a ele. Waly, não. Queria que eu "recebesse" o Cazuza.
Folha - Você teve a preocupação de atualizar o trabalho dele?
Eller -
Não, sou "véia" mesmo. Tudo é atual, ninguém inventa nada. O que falta é peito nos caras novos. Nem todo mundo tem talento. Não precisei transformar coisas de 15 anos atrás para atuais. Quando a coisa é boa, é para sempre.
Folha - Dá para comparar a postura do Cazuza, de não se furtar a falar de homossexualismo e drogas, à sua?
Eller -
Quando resolvi não esconder o que sou -foi quando meu filho nasceu-, passei a ser mais bem recebida. Estou vendo que, quanto menos você se esconde, melhor se dá com as situações.
Desde quando eu era careta, sem fumar, cheirar, beber, já gostava da capacidade de John Lennon e Jimi Hendrix de botar tudo pra fora quando estão doidões. Eu era careta na época, só tinha comido bombom com licor... Não sei falar sobre isso, é difícil...


O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora PolyGram.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.