|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
CD dá dignidade aos 80
do enviado especial
Cássia Eller tem se esmerado,
em sua carreira, em ressaltar o
brilho de representantes do
pop dos 80, década estéril em
produzir gênios pop inquestionáveis. Em "Veneno Antimonotonia", ela sublinha a obra
do gênio questionável Cazuza,
artista que encontrou a morte
dolorosa na rota do reconhecimento puro de sua obra.
Mais uma vez, se não desvenda valores ocultos de seus companheiros de geração (já o fizera com Renato Russo, Arnaldo
Antunes, Herbert Vianna e
Paulo Ricardo, entre outros),
forra o legado dos 80 de dignidade -e entusiasmo.
Encara Cazuza com reverência, com austeridade -tanto
que primores de melodia para
tocar no rádio, como "Bete
Balanço" e "Ponto Fraco",
aparecem tensas, quase antipop. Por isso também "Billy
Negão" perde o humor.
O poder melódico cai para segundo plano, a voz trovejante
salta à frente. E chega mais furiosa ("Obrigado") e mais plena ("Brasil") que nunca.
Esta última abre o trabalho
num pagode heavy (matizes incomuns na obra de Eller) em
que o vozeirão se expõe em estado de graça.
Quando a artista arrefece a
fúria e opta pelo sussurro -caso específico de "Preciso Dizer
Que Te Amo"-, o resultado é
quase genial.
É também no rock'n'roll à
Iggy Pop de "A Orelha de Eurídice" -a maior revelação do
CD- e no rito de uso de maconha que abre "Por Que a Gente
É Assim?".
No resto do tempo, Cazuza
propicia a Eller o que lhe é de
natureza: o blues ("Blues da
Piedade" ou "Só as Mães São
Felizes"). E ela aparece conservadora, num que não está entre
seus mais inventivos trabalhos.
Mas assim é Eller, que vem
cantar, modesta que é, virtudes
menores que as que ela possui
de fato. Por enquanto, ela segue a praxe de que não conhece
Eller quem não conferir "in loco" sua estrondosa presença de
palco. É aguardar o show de
"Veneno", pelas mãos calejadas de Waly Salomão.
(PAS)
Disco: Veneno Antimonotonia
Artista: Cássia Eller
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 18, em média
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|