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São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

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PRINCIPAL INVESTIDORA NO CINEMA, BR CORTA PATROCÍNIO

A meio tanque


Estatal quer reduzir pela metade incentivo a 70 projetos selecionados na gestão FHC


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A BR Distribuidora, uma das principais patrocinadoras culturais do Brasil, deverá cortar pela metade o investimento em 70 projetos selecionados pela administração da estatal no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Relatório interno da BR obtido pela Folha revela que, para 2003, fora a verba já comprometida por contrato, a estatal programou para a nova gestão um gasto de R$ 38,6 milhões na área cultural. Desse valor, 80% (R$ 31 milhões) iriam para o cinema e os 20% restantes se dividiriam entre artes cênicas, visuais, música e outros.
A BR quer reduzir os R$ 38,6 milhões previstos para R$ 18 milhões, fazendo uma economia de R$ 20,6 milhões. "Estamos renegociando caso a caso os projetos que de alguma forma haviam estabelecido vínculo de patrocínio com a empresa, como troca de correspondência, por exemplo. Precisamos encaixar o número de projetos que teve patrocínio prometido com o orçamento que temos de pilotar", diz Sérgio Bandeira de Mello, gerente de comunicação e marketing da BR.
Esses ajustes fazem parte de determinação do ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), que se envolveu em polêmica com cineastas sobre critérios para o patrocínio da BR ao cinema (leia abaixo).
A controvérsia veio à tona no final de abril, quando o cineasta Cacá Diegues e o produtor Luiz Carlos Barreto acusaram o governo de "dirigismo cultural", após a divulgação das primeiras regras de patrocínio cultural estatal.
Gushiken recuou publicamente, num encontro no Rio, mas manteve a orientação de contrapartidas para patrocínio, argumentando que a política vem desde o governo FHC. Acabou ganhando apoio de um grupo de cineastas, liderados por Nelson Pereira dos Santos, que rachou publicamente com a turma de Cacá.
O ministro avalia que a BR tem exagerado no patrocínio direto (que não tem dedução na Receita Federal através das leis de renúncia fiscal) e que precisa rever critérios de incentivo à cultura.

Os cortes
Dentre os cortes que estão sendo negociados, alguns poderão chegar a quase 50% do valor estipulado pela gestão passada.
A maior redução deverá ser na edição 2003 do Festival do Rio BR, mostra internacional de cinema promovida pelo grupo Estação.
A nova diretoria propõe a redução dos R$ 4 milhões previstos para R$ 2,4 milhões. Para compensar o corte, a BR abre mão de ter seu nome no título do festival.
Filmes também estão sofrendo redução de investimento. "A Taça do Mundo É Nossa" (do Casseta & Planeta), por exemplo, deverá ter seu patrocínio reduzido de R$ 1 milhão para R$ 750 mil. Em "Cazuza", de Sandra Werneck e Walter Carvalho, o incentivo caiu de R$ 1 milhão para R$ 800 mil.
"Até entendo mudanças na política, mas, com os R$ 200 mil a menos, tive de cortar sequências que estavam previstas. Isso foi horrível para mim", diz Werneck.
Estão em renegociação outros filmes cuja previsão original era de R$ 1 milhão, como "Veneno da Madrugada (Ruy Guerra) e "Sonhos da Cidade" (Carlos Alberto Ricelli).

Pistas
Em comentários que constam do documento interno obtido pela Folha, a BR dá algumas pistas de quais projetos deverão ser menos ou mais sacrificados.
O filme "Minha Vida de Menina", da cineasta Helena Solberg ("Banana Is My Business"), é descrito no relatório como "projeto social bastante comprometido, [com] negociação de contrapartidas sociais envolvendo outras instituições". Segundo a Folha apurou, a nova administração decidiu manter integralmente os R$ 500 mil prometidos pela anterior.
Foi o que aconteceu também com "Achados e Perdidos", de José Joffily. Com o comentário "contrato enviado para assinatura do proponente", conseguiu levar os R$ 700 mil que esperava.

Garantidos
Outros 137 projetos aprovados na gestão anterior, que também constam do relatório interno, deverão receber o patrocínio nos valores integrais, porque seus autores já haviam formalizado um contrato com a empresa.
Com esse grupo, a BR gastará R$ 32,6 mi em 2003 e R$ 10,9 mi em 2004. De acordo com o relatório, há alguns patrocínios que podem ser agraciados com reajustes e verba extra em 2005 e até 2006.
Entre eles, está a manutenção do cine Odeon BR (orçada em R$ 1,86 milhões), na Cinelândia (Rio de Janeiro), gerenciado pelo grupo Estação, o mesmo que produz o Festival do Rio BR.
(KENNEDY ALENCAR, SILVANA ARANTES, LAURA MATTOS E IVAN FINOTTI)


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