São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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CINEMA/ESTRÉIA

Novo filme do diretor de "Contos Proibidos do Marquês de Sade" só marca pela pretensão e frustração

Kaufman promove catástrofe psicocriminal

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Desde que fez sucesso com "Os Eleitos" (83), Philip Kaufman acabou adstrito à categoria de realizador de filmes literários ou quase isso: "A Insustentável Leveza do Ser", Henry Miller, Anaïs Nin e marquês de Sade foram seus fregueses.
Estranho destino, pois "Os Eleitos" era um filme que se urdia no não-dito, enquanto daí por diante Kaufman se viu às voltas com uma teia quase incontornável: símbolos (do saber iluminado, não raro não reconhecido por seu tempo) cintilam nesses filmes, dispostos a esmagar o espectador. Passemos pela careca ridícula de Henry Miller no filme...
O certo é que parecia animador ver Kaufman às voltas com um bom e velho filme de gênero, um mero "thriller" policial. "A Marca" é, no entanto, um desses trabalhos marcantes apenas pela mistura explosiva de pretensão e frustração.
Temos lá a recém-promovida inspetora Shepard (Ashley Judd), uma policial intrépida. Se fosse homem, seria como o Harry Callahan de Clint Eastwood. Não sendo, a primeira providência é enviá-la a um psicólogo para saber por que ela é violenta.
A partir daí já sabemos que o filme está arruinado. Todo o restante consiste na acumulação de detalhes sobre a vida pessoal da garota, que começa com o hábito de pegar homens para aventuras de uma noite até o de ter esses mesmos homens mortos, um após o outro.
E quem será o assassino? O loirinho ex-namorado que vive no pé dela? O novo e "latin lover" parceiro (Andy Garcia)? Ou ela mesma? Eis aí problemas para a polícia e para o psicólogo. Problemas que podem parecer fascinantes a eles, mas não ao espectador.
Talvez por isso os produtores deste filme tenham providenciado, para dar mais emoção, um colega vilão que se opõe a ela -não ajuda em nada, mas um pouco de conflito dá a impressão de animar o longa-metragem.
O que temos ao final do filme é uma ruína psicocriminal quase da estatura de novela de televisão. Não dá pé.


A Marca
Twisted
 
Direção: Philip Kaufman
Produção: EUA/Alemanha, 2004
Com: Ashley Judd, Samuel L. Jackson, Andy Garcia
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Paulista, West Plaza e circuito




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