|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTRÉIA
Novo filme do diretor de "Contos Proibidos do Marquês de Sade" só marca pela pretensão e frustração
Kaufman promove catástrofe psicocriminal
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Desde que fez sucesso com
"Os Eleitos" (83), Philip
Kaufman acabou adstrito à categoria de realizador de filmes literários ou quase isso: "A Insustentável Leveza do Ser", Henry Miller, Anaïs Nin e marquês de Sade
foram seus fregueses.
Estranho destino, pois "Os Eleitos" era um filme que se urdia no
não-dito, enquanto daí por diante
Kaufman se viu às voltas com
uma teia quase incontornável:
símbolos (do saber iluminado,
não raro não reconhecido por seu
tempo) cintilam nesses filmes,
dispostos a esmagar o espectador.
Passemos pela careca ridícula de
Henry Miller no filme...
O certo é que parecia animador
ver Kaufman às voltas com um
bom e velho filme de gênero, um
mero "thriller" policial. "A Marca" é, no entanto, um desses trabalhos marcantes apenas pela
mistura explosiva de pretensão e
frustração.
Temos lá a recém-promovida
inspetora Shepard (Ashley Judd),
uma policial intrépida. Se fosse
homem, seria como o Harry Callahan de Clint Eastwood. Não
sendo, a primeira providência é
enviá-la a um psicólogo para saber por que ela é violenta.
A partir daí já sabemos que o filme está arruinado. Todo o restante consiste na acumulação de detalhes sobre a vida pessoal da garota, que começa com o hábito de
pegar homens para aventuras de
uma noite até o de ter esses mesmos homens mortos, um após o
outro.
E quem será o assassino? O loirinho ex-namorado que vive no pé
dela? O novo e "latin lover" parceiro (Andy Garcia)? Ou ela mesma? Eis aí problemas para a polícia e para o psicólogo. Problemas
que podem parecer fascinantes a
eles, mas não ao espectador.
Talvez por isso os produtores
deste filme tenham providenciado, para dar mais emoção, um colega vilão que se opõe a ela -não
ajuda em nada, mas um pouco de
conflito dá a impressão de animar
o longa-metragem.
O que temos ao final do filme é
uma ruína psicocriminal quase da
estatura de novela de televisão.
Não dá pé.
A Marca
Twisted
Direção: Philip Kaufman
Produção: EUA/Alemanha, 2004
Com: Ashley Judd, Samuel L. Jackson,
Andy Garcia
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Frei Caneca Unibanco
Arteplex, Paulista, West Plaza e circuito
Texto Anterior: Música: Rosinha de Valença morre aos 62 anos Próximo Texto: DVDs/lançamentos - "Ao vivo de Bagdá": Guerra do Golfo ganha longa sobre atuação da CNN Índice
|