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[+]análise
Um artesão vigilante do ofício de ator
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Livrando-se com desenvoltura de perguntas rasas,
pairando sobre o charco das
fofocas sem pretender atingir o Olímpo dos inovadores,
Fagundes reivindica o caminho do meio: é um artesão.
Nem gênio nem celebridade instantânea, há décadas
cumpre o papel de garantir
uma iniciação ao teatro para
quem o conhece das novelas
-"o seu João e a dona Maria", segundo sua cartilha.
Encerrar Fagundes no rótulo de "comercial" seria esquecer momentos importantes de sua carreira, como
"Morte Acidental de um
Anarquista", peça de Dario
Fo na qual fazia a platéia repetir "o governo é sempre
f.d.p." em uma época em que
isso ainda não era tranqüilo.
Arriscou-se no experimental, embora relutante,
tendo sido um dos primeiros
atores brasileiros dirigidos
por Gerald Thomas, em
"Carmem com Filtro".
Lembro-me de vê-lo diante de uma marca mais abstrata criada por Ulisses Cruz,
em "Macbeth", dividido entre a obediência devida por
ofício ao diretor e a preocupação com a dona Maria, sua
fã habitual: "Eu faço. Mas antes me explica por quê".
Ator-empresário, nos moldes românticos de Kean a
Procópio, e com um faro
comprovado para o sucesso,
seu teatro é aquele que ele
gosta de fazer. Seu amor é pelo ritual em si, a fila na bilheteria, o silêncio na platéia, o
debate com o público.
Suas brigas antológicas são
sempre com os contraventores, os que querem banalizar
a vulnerabilidade do artista
que se apresenta ao vivo, por
maus hábitos adquiridos
diante da televisão.
Nem sempre concordei
com as escolhas de Antonio
Fagundes. Mas nunca duvidei de suas intenções -que
são, em última análise, fazer
frente à mediocridade que
cada vez mais obscurece o
ofício do ator.
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