São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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MÔNICA BERGAMO

Nilton Fukuda/Folha Imagem
Convidados tomam sol em frente ao iate Spirit Ferretti, avaliado em R$ 2,5 milhões, em exposição durante todo o evento; uma carreta viajou três noites a partir de Alphaville para transportar o barco

O estilo pólo de ser e viver

ASSOCIAR-SE A um clube de pólo como o Helvétia, em Indaiatuba, custa R$ 200 mil; um cavalo, até R$ 100 mil; levá-lo de avião a um torneio, R$ 50 mil. E não é que o pólo está na moda no Brasil? Ao menos entre a turma de famílias como Klabin, Diniz e Souza Aranha, que viram dobrar o número de praticantes nos últimos cinco anos -de 300 para 600- e o de campos para o esporte, de 30 para 60 no Rio e no Helvétia. Nos próximos dias, será criada a confederação nacional do esporte.

 

No último fim de semana, o Helvétia sediou o Pólo Day, que celebrou, segundo o convite, "o estilo pólo de ser e viver", com moda, leilão de arte e outras delícias. Às 11h, já se servia champanhe gelado à vontade.
 

Desde que o pólo virou moda em circuitos descolados do Rio, Nazira tem cumprido à risca sua rotina de treinos. Ela acorda diariamente às 7h, toma um café da manhã reforçado, com bastante aveia, e pega firme nos exercícios. Depois do almoço, é visitada pelo dr. Alamir, que confere se sua saúde está OK. Nazira é a égua predileta do consultor financeiro Abel Rocha, amante de pólo e dono de outros 20 animais em sua propriedade em Itaguaí, espécie de Helvétia do Rio de Janeiro.
 

Abel, 57, pratica pólo desde os 32. Nesta semana, ele inaugura como vice-presidente a primeira confederação brasileira do esporte. "A entidade foi criada porque o pólo cresceu muito, tem muitos apaixonados no Brasil", explica. O Brasil se tornou, em 2004, tricampeão mundial de pólo amador, na França, e coleciona atletas de destaque internacional, como Fábio Diniz, Olavo Junqueira e Ricardo Mansur.
 

Para quem não conhece o jogo: são quatro cavaleiros em cada time que, com tacadas, tentam acertar uma bola no gol. Wolf Klabin, da família dona da maior exportadora de papel do país, se diz um atleta "viciado", apesar de só jogar aos finais de semana. Wolf jogava no amistoso da festa Helvétia Pólo Day, em que Brasil bateu Argentina por 16 a 9.
 

"À noite, só se fala disso lá em casa", conta ele após a partida, enquanto um "peticero" (tratador de animais) arranca suas botas. A modelo Daniella Sarahyba, sua namorada há um ano e eleita musa do Pólo Day 2006, tira fotos de Wolf com uma câmera digital.
 

"Adoro essa coisa de pólo", diz Daniella, que ficou amiga dos cavaleiros. "São jovens realizados, felizes e de famílias muito bacanas." Daniella mora em Nova York e Wolf no Rio de Janeiro -a cada 15 dias, um dos dois pega o avião e parte ao encontro do outro.
 

Namoradas lindas e famosas são uma dádiva freqüente na vida dos jovens "de famílias muito bacanas" do pólo. Pedro Henrique Ganon, 26, conquistou a modelo Milena Cestari, 25, que já apareceu seminua em fotos do site "Terra" e da revista "Trip". Ele é uma das promessas do esporte. "Desde que nasci, meu pai já gostava de pólo. Acho bom esse momento atual, com o esporte mais divulgado, mais aberto."
 

Tão aberto que já está começando a "selecionar melhor" os freqüentadores dos principais eventos. O Pólo Day, que no ano passado distribuiu 3.000 convites, imprimiu a metade disso dessa vez. "Caprichamos muito em tudo, porque se trata de uma comunidade muito especial", diz Claudemir Siquini, dono da festa, da propriedade no Helvétia, cercada por casas de R$ 10 milhões, e presidente da confederação.
 

Na festa, os garçons servem tudo à vontade: champanhe Chandon e sorvete Häagen Dazs, almoço do bufê do hotel Sofitel. No palco, Fernanda Abreu, Paula Lima e Ivo Meirelles (cachê total estimado em R$ 50 mil) comandam o som em um palco coberto. E eis que, ao cair da tarde, que barulho é este? Um conjunto escocês tocando gaitas de foles (cachê médio: R$ 7 mil) surge na festa, contornando o estacionamento de helicópteros, o gramado do torneio e o iate.
 

Ah, sim, havia um iate por lá. Era o Spirit Special (três quartos, dois banheiros, sala de estar, cozinha...), embarcação de cerca de R$ 2,5 milhões da italiana Ferretti, um dos patrocinadores que esperavam encontrar clientes na festa. Aloísio Christiansen, sócio da fábrica brasileira da companhia, conta que o mercado nacional dos iates está aquecidíssimo. "Fabricamos mais de 40 por ano e já vendemos toda a produção de 2006. Encomendas, só para 2007." O Brasil, diz ele, "tem uma costa que pouca gente conhece. Você não tem idéia do prazer que é acordar em Abrolhos [BA] com as baleias encostando no casco, ou lavar o barco em cachoeiras, ou fazer jantar com lagosta para 12 pessoas pagando R$ 200 em tudo, porque o pescador nem tem noção de quanto aquilo custa."
 

A poucos metros dali, Dudu Linhares comemorava a vitória do Brasil. Filho do agropecuarista Francisco Linhares, que tem casa no Helvétia, ele é apontado como uma das revelações do esporte. Estuda Relações Públicas, trabalha e treina quatro vezes por semana. "Adoro o esporte e as pessoas são muito amigas. Tem muita gente legal, da família Junqueira, Souza Aranha, Matarazzo... Vamos juntos à Disco, à Lotus, somos bem unidos..."
 

Entre as mulheres, Kristie Hanbury, 36, é a mais famosa, também por sua história de superação: ficou tetraplégica aos 17 anos, usou a equitação como fisioterapia e hoje é uma das melhores do país. No Pólo Day, dá uma entrevista atrás da outra. "O pólo cria boas embaixadoras do Brasil, com mulheres inteligentes, que falam várias línguas. Brasil não é só futebol, samba e mulata", diz a uma emissora de TV.
 

Khristie está à procura de patrocinadores para a equipe Amazons Pólo Team, que acaba de fundar. Ela e outras cinco amigas precisam de cerca de R$ 2 milhões por ano para passagens, animais (são seis por atleta e podem custar de R$ 500, o pior, a milhares de reais), funcionários (salários em torno de R$ 700) e outras despesas.
 

Marineida Basano, criadora de cavalos da raça puro-sangue inglês, diz que, mesmo com o incremento de esportes como o pólo, o Brasil ainda é um mercado fraco para a criação de animais de competição. "Meus cavalos são de corrida e no Brasil os prêmios são uma miséria. No máximo, R$ 60 mil", desabafa. "Compensa criar aqui, porque a manutenção é barata, mas depois levar os cavalos para Dubai ou para os EUA."
 

A corrida predileta de Marineida acontece em Santa Anita, Califórnia, onde o juiz aguarda o vencedor com um saco cheio de dinheiro. "É maravilhoso! Um milhão de dólares em cash! Dá pra acreditar?"


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