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CINEMA/ESTRÉIAS
"O TEMPO DE CADA UM"
Filme dirigido por Rebecca Miller venceu Sundance
Histórias alcançam ponto de vista feminino sem clichês
Divulgação
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Parker Posey, que interpreta a personagem principal do segundo episódio de "O Tempo de Cada Um', longa de Rebecca Miller |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Mesmo desgastado, o cinema
independente americano se
propõe desafios legítimos. Um
deles é a busca de um ponto de
vista feminino que se oponha aos
clichês despejados nas eternas releituras da fábula da Cinderela ou
nas visões mais degradantes de
filmes como "Atração Fatal" e o
mais recente "Infidelidade".
Essa realidade triste torna mais
do que relevante a experiência de
Rebecca Miller em "O Tempo de
Cada Um", que venceu o Sundance Film Festival do ano passado e
agora chega ao circuito brasileiro.
O filme é formado por três episódios independentes unidos por
uma costura propositadamente
frouxa e inspirados em contos escritos pela cineasta, filha do dramaturgo Arthur Miller. As personagens centrais são mulheres que
conseguem se livrar de um relacionamento sufocante. Miller
busca um desenho multifacetado
e complexo para suas personagens e, em vários momentos, chega bem perto disso.
Uma das propostas interessantes do filme é unir dois aspectos
aparentemente contraditórios. A
cineasta adota uma narrativa clássica, de estrutura quase literária, e
a combina com uma imagem suja, captada em vídeo digital com
uma urgente câmera na mão,
bem ao estilo do Dogma.
Desse casamento de estilos surge um formato que aproxima e
afasta o espectador das personagens, criando um distanciamento
crítico em relação ao realismo
proposto pela imagem. Dramaturgicamente, no entanto, o filme
é cheio de pontos nebulosos. Talvez porque falte a "O Tempo de
Cada Um", justamente, tempo.
Em uma entrevista recente, Rebecca Miller declarou que seu filme, basicamente, "são três longas
em que as partes chatas ficaram
de fora". É como se ela mesma
não confiasse na sua capacidade
de contar aqueles escritos na forma de cinema. Se essa falha quase
não se faz sentir nos dois primeiros episódios (sobre uma mulher
que apanha do marido e outra
que tem problemas com a traição), no capítulo final ela surge
com força total. Mas, até aí, o recado já estava dado.
O Tempo de Cada Um
Personal Velocity: Three Portraits
Produção: EUA, 2002
Direção: Rebecca Miller
Com: Kyra Sedgwick, Parker Posey
Onde: a partir de hoje nos cines
Cineclube DirecTV 1 e Top Cine 1
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