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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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CINEMA/ESTRÉIAS

"O TEMPO DE CADA UM"

Filme dirigido por Rebecca Miller venceu Sundance

Histórias alcançam ponto de vista feminino sem clichês

Divulgação
Parker Posey, que interpreta a personagem principal do segundo episódio de "O Tempo de Cada Um', longa de Rebecca Miller


PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Mesmo desgastado, o cinema independente americano se propõe desafios legítimos. Um deles é a busca de um ponto de vista feminino que se oponha aos clichês despejados nas eternas releituras da fábula da Cinderela ou nas visões mais degradantes de filmes como "Atração Fatal" e o mais recente "Infidelidade".
Essa realidade triste torna mais do que relevante a experiência de Rebecca Miller em "O Tempo de Cada Um", que venceu o Sundance Film Festival do ano passado e agora chega ao circuito brasileiro.
O filme é formado por três episódios independentes unidos por uma costura propositadamente frouxa e inspirados em contos escritos pela cineasta, filha do dramaturgo Arthur Miller. As personagens centrais são mulheres que conseguem se livrar de um relacionamento sufocante. Miller busca um desenho multifacetado e complexo para suas personagens e, em vários momentos, chega bem perto disso.
Uma das propostas interessantes do filme é unir dois aspectos aparentemente contraditórios. A cineasta adota uma narrativa clássica, de estrutura quase literária, e a combina com uma imagem suja, captada em vídeo digital com uma urgente câmera na mão, bem ao estilo do Dogma.
Desse casamento de estilos surge um formato que aproxima e afasta o espectador das personagens, criando um distanciamento crítico em relação ao realismo proposto pela imagem. Dramaturgicamente, no entanto, o filme é cheio de pontos nebulosos. Talvez porque falte a "O Tempo de Cada Um", justamente, tempo.
Em uma entrevista recente, Rebecca Miller declarou que seu filme, basicamente, "são três longas em que as partes chatas ficaram de fora". É como se ela mesma não confiasse na sua capacidade de contar aqueles escritos na forma de cinema. Se essa falha quase não se faz sentir nos dois primeiros episódios (sobre uma mulher que apanha do marido e outra que tem problemas com a traição), no capítulo final ela surge com força total. Mas, até aí, o recado já estava dado.


O Tempo de Cada Um
Personal Velocity: Three Portraits
   
Produção: EUA, 2002
Direção: Rebecca Miller
Com: Kyra Sedgwick, Parker Posey
Onde: a partir de hoje nos cines Cineclube DirecTV 1 e Top Cine 1



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