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3ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI
Escritores que lançam livros no evento, como Salman Rushdie e Gonçalo Tavares, diferenciam-no de grandes feiras literárias
Para autores, Flip é alternativa a "circo"
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
Confiando no que dizem os escritores, a Flip (Festa Literária Internacional de Parati) está encontrando um lugar confortável em
um circuito que deixa muitos autores desconfortáveis: o dos festivais de literatura. "Hoje é possível
viver de feira em feira literária.
Agora me consideram escritor e
posso viver como turista literário.
Certamente conseguiria ser muito mais conhecido do que sou hoje sem a necessidade de escrever
mais livros", afirmou Chico Buarque, astro da Flip 2004, em recente entrevista ao jornal espanhol
"La Vanguardia".
Principal nome da Flip 2005, o
anglo-indiano Salman Rushdie
disse que não costuma participar
de muitos eventos como esse, mas
quis fazer em Parati o lançamento
internacional de "Shalimar, o
Equilibrista", seu novo romance,
por ser amigo da inglesa Liz Calder, idealizadora da festa, e de
Luiz Schwarcz, dono da editora
Companhia da Letras.
"Está sendo muito mais agradável lançar aqui do que naqueles
eventos nos Estados Unidos, que
são maçantes, com uma entrevista atrás da outra", afirmou ele, reconhecendo que "há 30 anos não
havia essa expectativa de o escritor ser um vendedor de livros".
"Muitos autores lamentam isso,
eu não. Mas preferiria falar de um
livro muito depois de ele ter sido
lançado, para que as pessoas já tivessem lido", disse Rushdie, que
relativizou sua condição de "celebridade literária": "Não sou uma
Britney Spears. Acho que as pessoas que me procuram têm algum
interesse no que eu escrevo".
O português Pedro Rosa Mendes, autor de "Baía dos Tigres",
disse que nem poderia ter vindo a
Parati, pois está atolado de trabalho, mas não resistiu a conhecer a
cidade histórica, ainda mais depois do incentivo do angolano José Eduardo Agualusa, seu amigo e
um dos destaques da Flip 2004.
"Ele me disse que não era desses
encontros em que os autores ficam intelectualizando tudo e, no
fundo, vão apenas viajar. Estar em
um festival literário deve ser conseqüência do seu trabalho, não
um lugar para exibição", disse ele,
para quem "há um certo circo"
nas feiras de livros.
Gonçalo Tavares, que está lançando dois livros no Brasil, tem
em comum com Mendes a nacionalidade e os conselhos de Agualusa para que participasse da Flip.
Ele disse que acabara de recusar
dois convites quando aceitou vir a
Parati. "É preciso ter equilíbrio. A
divulgação tem que ser feita, mas
ficar nesse circuito, de feira em
feira, é prejudicial. Meu trabalho é
ler e escrever", disse ele, que passou 11 anos lendo e escrevendo, e
nos últimos três lançou 16 livros.
O romancista israelense David
Grossman afirmou que encontros
literários o atraem por causa da
possibilidade de "cheirar escritores que só conhecemos pelos livros". Ele disse ter adorado a "atmosfera" da Flip e que já sonhava
há muito tempo conhecer o Brasil. "Tinham me dito que há uma
cultura do meio-termo no Brasil,
de acomodação das diferenças. É
tudo o que não temos e devíamos
ter em Israel", contou.
Para o autor de livros policiais
José Latour, cubano radicado no
Canadá, participar da Flip é um
"trabalho". "Não é turismo, pois
vim conhecer outros escritores,
outras opiniões, outras tendências, e isso influi na minha literatura", disse Latour, que já participou de feiras nos EUA, na Espanha e na Holanda, mas considera
a Flip singular. "São 600, 700 pessoas pensando em literatura, filas
de autógrafos, é surpreendente.
Nunca vi nada assim", afirmou.
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