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DANÇA/CRÍTICA
Grupo Corpo estréia coreografia com sobriedade e sem ornamentos
ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na trajetória do grupo
Corpo, algumas obras tornaram-se emblemáticas pela
transformação que representaram no repertório da companhia.
Uma delas foi "21", de 1992, incluída no programa da atual temporada no teatro Alfa, que marca
a estréia de "O Corpo", nova coreografia de Rodrigo Pederneiras,
com música especialmente encomendada a Arnaldo Antunes.
Quando surgiu, "21" assinalou
um vocabulário atento à cultura
popular brasileira, alimentado
por compositores capazes de dar
singularidade a tal direção, como
Marco Antonio Guimarães, José
Miguel Wisnik, Tom Zé.
Na época, essa opção também
correspondia às expectativas de
platéias estrangeiras, entre as
quais o Corpo passava a marcar
presença com maior intensidade.
Ainda vital, "21" continua sendo
uma das obras mais bem resolvidas do repertório do grupo, após
fertilizar peças subsequentes, como "Nazareth" e "Parabelo".
Agora, com "O Corpo", Pederneiras procura escapar de elementos de linguagem consolidados e, para tanto, recorre ao caráter urbano da música de Antunes.
Movido principalmente por estímulos sonoros, Pederneiras costuma buscar na música a fonte geradora de suas coreografias. Com
a trilha de Antunes, ele se afasta
da exuberância para se situar na
sobriedade.
Gestos que se tornaram marcas
registradas do grupo -como os
trejeitos brejeiros e sensuais de
braços e quadris- foram quase
totalmente eliminados em "O
Corpo". Mais enxuta, sem ornamentos, a composição coreográfica agora aponta para as manifestações urbanas, como o hip hop,
que inspira certos movimentos
robóticos, marciais.
Como sempre, a execução precisa soma-se ao acabamento impecável do espetáculo como um
todo. Essencialmente, no entanto,
"O Corpo" se sustenta nas bases
de obras anteriores, sem o germe
transformador de "21". Com eficiência, mas sem ousadias, a coreografia complementa a música,
mas não ultrapassa as dimensões
já delimitadas pelo grupo.
Adaptada à personalidade da
trilha, deixa de experimentar possibilidades próprias, que os versos
de Antunes, relativos ao corpo,
poderiam suscitar.
No conjunto cênico, entretanto,
há um ponto alto: o trio de mulheres que ondula perante um quadrado branco (como no "Paris,
Texas", de Wenders, surge como
uma languidez casual em meio a
um trajeto árido).
Como que expondo o sangue
mencionado na música, a cenografia vermelha acolhe os figurinos negros de Fernando Velloso e
Freusa Zechmeister, que mais
uma vez revelam talento em "vestir" a dança. No cenário, por outro lado, faz falta a participação de
Velloso, que talvez pudesse propor soluções melhores do que o
pisca-pisca de luzes vermelhas,
concebido por Paulo Pederneiras.
O Corpo
Quando: até dia 20 (qua. a sáb., às 21h);
dom., às 18h
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 0800-558191)
Quanto: R$ 20 a R$ 50
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