São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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DANÇA/CRÍTICA
Grupo Corpo estréia coreografia com sobriedade e sem ornamentos

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na trajetória do grupo Corpo, algumas obras tornaram-se emblemáticas pela transformação que representaram no repertório da companhia.
Uma delas foi "21", de 1992, incluída no programa da atual temporada no teatro Alfa, que marca a estréia de "O Corpo", nova coreografia de Rodrigo Pederneiras, com música especialmente encomendada a Arnaldo Antunes.
Quando surgiu, "21" assinalou um vocabulário atento à cultura popular brasileira, alimentado por compositores capazes de dar singularidade a tal direção, como Marco Antonio Guimarães, José Miguel Wisnik, Tom Zé.
Na época, essa opção também correspondia às expectativas de platéias estrangeiras, entre as quais o Corpo passava a marcar presença com maior intensidade. Ainda vital, "21" continua sendo uma das obras mais bem resolvidas do repertório do grupo, após fertilizar peças subsequentes, como "Nazareth" e "Parabelo".
Agora, com "O Corpo", Pederneiras procura escapar de elementos de linguagem consolidados e, para tanto, recorre ao caráter urbano da música de Antunes.
Movido principalmente por estímulos sonoros, Pederneiras costuma buscar na música a fonte geradora de suas coreografias. Com a trilha de Antunes, ele se afasta da exuberância para se situar na sobriedade.
Gestos que se tornaram marcas registradas do grupo -como os trejeitos brejeiros e sensuais de braços e quadris- foram quase totalmente eliminados em "O Corpo". Mais enxuta, sem ornamentos, a composição coreográfica agora aponta para as manifestações urbanas, como o hip hop, que inspira certos movimentos robóticos, marciais.
Como sempre, a execução precisa soma-se ao acabamento impecável do espetáculo como um todo. Essencialmente, no entanto, "O Corpo" se sustenta nas bases de obras anteriores, sem o germe transformador de "21". Com eficiência, mas sem ousadias, a coreografia complementa a música, mas não ultrapassa as dimensões já delimitadas pelo grupo.
Adaptada à personalidade da trilha, deixa de experimentar possibilidades próprias, que os versos de Antunes, relativos ao corpo, poderiam suscitar.
No conjunto cênico, entretanto, há um ponto alto: o trio de mulheres que ondula perante um quadrado branco (como no "Paris, Texas", de Wenders, surge como uma languidez casual em meio a um trajeto árido).
Como que expondo o sangue mencionado na música, a cenografia vermelha acolhe os figurinos negros de Fernando Velloso e Freusa Zechmeister, que mais uma vez revelam talento em "vestir" a dança. No cenário, por outro lado, faz falta a participação de Velloso, que talvez pudesse propor soluções melhores do que o pisca-pisca de luzes vermelhas, concebido por Paulo Pederneiras.


O Corpo    
Quando: até dia 20 (qua. a sáb., às 21h); dom., às 18h Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0800-558191) Quanto: R$ 20 a R$ 50




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