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LITERATURA
Autor de "O Carteiro e o Poeta" vem ao Brasil na semana que vem para participar de dois eventos, em MG e RS
Skármeta fala das letras no estrangeiro
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor chileno Antonio
Skármeta, 60, é simpático, risonho e ocupado. Desde 2000, é embaixador de seu país em Berlim,
com a principal tarefa de difundir
a cultura do Chile.
Na semana que vem, o autor de
"O Carteiro e o Poeta" desembarca em Belo Horizonte, para duas
falas, e de lá segue para Passo
Fundo, no Rio Grande do Sul (veja quadro nesta página).
Viajante incansável, falou à Folha, por telefone, de Locarno, na
Suíça, onde está como membro
do júri do festival de cinema local.
"Aliás, começou com um brasileiro, "Bicho de Sete Cabeças"."
Como jurado, o embaixador não
pôde dar sua opinião sobre o filme de Laís Bodanzky -"mas
posso dizer o que todo mundo
viu: foi muito bem recebido e mereceu um aplauso emocionado".
Entre outros temas, falou do seu
mais novo livro, "La Chica del
Trombón" (a menina do trombone). O romance será lançado aqui
pela Record, no primeiro semestre de 2002, e compõe uma trilogia com "As Bodas do Poeta", publicado pela mesma editora em
2000, e um volume que ele ainda
não comenta, mas que se passa
em Nova York e já tem uma primeira versão. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista.
Folha - Como serão as palestras?
Antonio Skármeta - Em Minas
Gerais, são dois eventos. O primeiro é uma mesa-redonda sobre
literatura e os novos meios; o outro é sobre como eu vejo minha
própria obra. Pediram que me
concentrasse mais em "O Carteiro e o Poeta" e "As Bodas do Poeta". Se der, vou apresentar trechos
do filme que eu fiz de "O Carteiro
e o Poeta", "Ardiente Paciéncia".
Em Passo Fundo estão dando
uma ênfase especial à literatura
para jovens.
Folha - O sr. lançou este ano "La
Chica del Trombón", uma continuação de "As Bodas do Poeta".
Pode contar um pouco do livro?
Skármeta -Ela é levada menina
da Europa para o Chile, por um
trombonista, porque seus pais desaparecem na Segunda Guerra.
Lá, cria uma relação com uma
pessoa que presume-se ser seu
avô -não há certeza, mas pouco
importa, porque se cria uma relação de carinho e amizade. Ela
quer ser independente, não se deixar esmagar como sua avó, na Europa. Seu nome é Magdalena, mas
renuncia a ele para chamar-se como a avó: Alia Emar -a protagonista de "As Bodas do Poeta".
Folha - O sr. descende de europeus e nasceu em Antofagasta, para onde Magdalena é levada. O que
"La Chica del Trombón" tem de
suas lembranças de infância?
Skármeta -Meus avós vieram da
Dalmácia (região da ex-Iugoslávia) e me contavam muitas coisas.
O imigrante deixa sua terra muito
jovem; tem lá algumas vivências e,
justo quando começa a amadurecer, tem de abandonar esse país.
No novo país, é um estranho.
Para criar uma identidade, conta
coisas. E, contando, recria o mundo que perdeu e dá sentido a seu
presente: "Conto, logo existo".
As histórias da minha infância
me inquietavam; 50 anos depois,
todas essas imagens de meus avós
estavam frescas quando escrevi
"As Bodas do Poeta" e "La Chica
del Trombón" -que termina em
1970, em Santiago, no momento
luminoso em que Salvador Allende ganha, com seu socialismo pacífico, as eleições presidenciais.
Folha - É também o momento antes de o sr. mesmo virar estrangeiro, exilado pelo golpe de Pinochet.
Skármeta - Eu me fui em 73; tenho não só a experiência de meus
avós, mas também a minha, que
afetou muito minha vida e está
nesses dois livros. E também em
"O Carteiro e o Poeta", que escrevi no exílio. É a recriação, por alguém muito ferido pela situação,
de um modesto paraíso perdido,
onde o poeta e o homem do povo
dividiam os mesmos sonhos.
Folha - Como diplomata em missão cultural, que autores chilenos o
sr. citaria ao leitor brasileiro?
Skármeta -Alberto Fuguet é um
favorito. "Baixo Astral", que saiu
no Brasil [Record", é bastante
bom. Mas também há outros, e há
um grande movimento de literatura de mulheres. Poderia dar 30
nomes. O movimento literário é
forte, e quase sempre chilenos são
lidos por chilenos, que os mantêm no alto das vendas.
Folha - E como leitor, do que gosta na literatura do Brasil?
Skármeta -À raiz de sua morte,
gostaria de dizer que alegria tive
por ler Jorge Amado. Em criança,
li "Capitães da Areia". Depois vários, com muita paixão.
Na universidade, líamos Guimarães Rosa. Não era um escritor
popular, mas "Grande Sertão: Veredas" me impressionou muito.
Também Clarice Lispector.
E, na rua, Vinicius de Moraes,
uma sorte lê-lo. Gosto muito de
Dalton Trevisan, Erico Verissimo,
Ignácio de Loyola Brandão, Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles,
Ziraldo, João Ubaldo Ribeiro...
São tantos nomes!
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