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CINEMA
Diretor americano visita cidades do país à procura de material para novo filme
Coppola busca inspiração no Brasil
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Em novo filme, sem data de início de filmagens, o diretor norte-americano Francis Ford Coppola,
64, quer uma cidade em que engarrafamentos, poluição e violência sejam assuntos do passado.
Um lugar assim, no roteiro de
um longa, só pode existir no futuro. Ruas, edifícios e habitantes de
"Megalópolis" (o nome da produção) já estão ganhando forma na
cabeça do diretor, que veio ao
Brasil buscar inspiração.
Para tornar o projeto mais realista sem recorrer à ficção científica, Coppola iniciou há cerca de
uma semana uma viagem por cidades brasileiras para conhecer
projetos urbanos. Está pesquisando soluções que facilitam a vida
dos cidadãos e que possam se encaixar no roteiro que vem escrevendo. A cidade é utópica. Para o
diretor, ela precisa reunir quatro
elementos: criatividade, celebração, aprendizado e ensino.
O cineasta começou a jornada
por Curitiba, mas vai passar também por Foz do Iguaçu, Belém,
Recife e Salvador.
A capital do Paraná pode se enquadrar no que ele pretende
transferir para a tela. Na cidade,
ele passeou de ônibus, cujas linhas centrais podem ajudar a
acertar o horário de relógios, conheceu as estações de passageiros
de aparência futurista e caminhou
por parques e pelo calçadão da
rua 15 de Novembro, equipado
com câmeras de vigilância.
Coppola soube de Curitiba ainda nos EUA. Ao chegar à cidade,
teve uma reunião com o ex-governador Jaime Lerner, arquiteto
e responsável pela criação de muitos dos projetos que elevaram Curitiba à condição de excelência urbana no país. O cineasta chegou a
elogiar a limpeza da cidade.
As pessoas foram descritas como "hospitaleiras" e "calmas".
Num restaurante na avenida Batel, um dos pontos mais requintados da capital, o cineasta foi à cozinha e preparou uma pizza para
ele e alguns convidados.
Na Universidade Tuiuti, deu palestra para alunos de cinema.
Coppola está voltando a filmar
após seis anos. Seu último filme
foi "O Homem que Fazia Chover"
("The Rainmaker"), de 97.
Segundo a coordenadora do
curso, Denise Araujo, Coppola
disse ter apostado na produção de
vinhos para conquistar sua segurança financeira. Ninguém melhor do que ele para falar no assunto, após investir em projetos
bem caros nos anos 80. Ele tem vinhedos em Nappa Valley, região
no norte da Califórnia, de onde sai
a matéria-prima para os vinhos
que levam o nome da família.
"Megalópolis", segundo ele, é
um projeto acalentado há dez
anos. Em paz com as finanças, o
diretor disse na palestra que já era
hora de retornar às telas e ver a
obra concretizada. Ao responder
perguntas dos alunos, o cineasta
lembrou que nem sempre foi assim. Confessou só ter aceitado filmar a segunda parte de "O Poderoso Chefão" (74) por causa de
problemas financeiros. Acabou
ganhando o Oscar de melhor diretor, prêmio que ele disse ter certeza de que conquistaria na primeira sequência. "Apocalypse
Now" (79) foi "um filme caro e difícil", que ficou pronto após quatro anos de produção, mas que,
segundo Coppola, acabou lhe
dando um "ótimo retorno".
Sobre o cinema brasileiro, o diretor disse aos alunos conhecer
pouco, por causa da falta de divulgação e distribuição nos EUA. O
último a que assistiu foi "Central
do Brasil" (98). Coppola disse, por
meio de sua assessoria, que quer
aproveitar o tempo em Curitiba
para colher subsídios que poderão ser transportados para o roteiro de "Megalópolis". Ainda segundo sua assessoria, ele embarcaria para Foz do Iguaçu hoje.
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