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MÚSICA
Grupo da nova cena de Nova York, liderado por vocalista latino, desafia gravadoras ao oferecer MP3 em seu próprio CD
Elefant chega para incomodar a indústria
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Um Elefant tem incomodado
muita gente na cena roqueira
americana. Incomodado e entusiasmado. A novíssima banda nova-iorquina Elefant (sim, mais
uma novíssima banda nova-iorquina) está virando "o" assunto
do rock não só pelo glamouroso
som que moderniza Cure, David
Bowie e Smiths e reafirma a era
romântica do pop de NY.
O recente lançamento do primeiro álbum, "Sunlight Makes
me Paranoid", e a estréia na MTV
dos EUA do lindíssimo e estiloso
clipe "Now that I Miss Her", entusiasma a cena independente americana porque seu líder é o tipaço
Diego Garcia... argentino.
O disco incomoda a poderosa
união das gravadoras dos EUA, a
RIAA. Na capa de "Sunlight Makes me Paranoid" (Kemado Records, importado) vem pregado
um selo que oferece, além do áudio normal das dez faixas, os MP3
de cada uma das músicas, em alta
qualidade, com todas as informações contidas nos arquivos.
O selo ainda traz a recomendação: insira o disco em seu computador e transfira o conteúdo para
a sua pasta de MP3. E o computador estará pronto para espalhar
músicas do Elefant pelo mundo.
O grupo nova-iorquino peita a
RIAA exatamente no momento
mais caloroso da polêmica questão da distribuição gratuita de arquivos de música na internet, em
que a entidade representante da
indústria de discos começa espalhar processos de até US$ 150 mil
por música contra usuários dos
programas de troca de arquivos.
"A era da música na internet
chegou para ficar. Não dá para
mudar isso. Ou você se ajusta a estes tempos ou vai ficar falando sozinho. É irreversível", justifica à
Folha o vocalista Diego Garcia.
"Em vez de parar de criar "boys
band" e ficar processando garotos
que adoram música a ponto de
dedicar a ela horas e horas diante
do computador, as gravadoras
deviam entender que, principalmente para bandas iniciantes como a nossa, quanto mais gente
conhecer e gostar de canções, melhor para a cena, melhor para a
exposição, gera mais público em
shows, comprando revistas e, por
que não?, os discos oficiais", diz.
Nascido por "acidente" em Detroit, Diego Garcia, 25, foi fruto de
dois argentinos que correram para a América para fugir ao peronismo. "A primeira coisa que
meu pai fez, depois de tratar da
certidão de nascimento, foi me
botar como sócio do Belgrano, time de Córdoba, região onde mora toda minha família", conta.
Diego segue a passos largos para
se transformar no novo "darling"
do rock americano. Alto, não
muito bonito, mas com um rosto
no formato Bryan Ferry (mas que
canta como Morrissey) e fashionista, o líder do Elefant já começa
a ilustrar editoriais de moda.
Garcia acabou de ser eleito pela
revista "New York" como um dos
50 mais carismáticos habitantes
de Manhattan. E mais sexy cantor. "É o meu tipo latino que está
causando isso. Eles acham inusitado ter um argentino em uma
banda de rock badalada. Aqui, latino na música lembra cantores
de músicas lixo como Rick Martin
e gostosas como Jennifer Lopez."
"Acho essa atenção uma bobagem. Mas, já que isso está levando
cada vez mais pessoas a ouvir as
músicas, estou achando até divertido", revela. O Elefant, mais um
da enorme fila da estirpe "novos
Strokes", nutre lembranças do
rock dos anos 80, com uma forte
carga romântica que remete a baladas de Cure e David Bowie, mas
marcadas por uma guitarra nervosa e urgente típica dos anos 00.
O clipe de "Now that I Miss
Her" é belíssimo e explora o potencial "new romantic" latino de
Garcia. Uma cara sofrida de quem
perdeu o grande amor, vocal lamurioso, um jogo de espelhos, em
cenário de casarão abandonado.
Diego sofre demais, mas com estilo. O Elefant ainda é pequeno,
mas, quando crescer, dá pinta de
que vai causar um bom estrago.
SUNLIGHT MAKES ME PARANOID.
Artista: Elefant. Lançamento: Kemado
Records, importado. Quanto: R$ 39, em
média. Onde encomendar: Indie Records
(r. Inácio Pereira da Rocha, 622, SP, tel.
0/xx/11/3816-1220).
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