São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009

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Crítica/Astropolis

Festival tem programação exigente

Em sua 15ª edição, evento francês de música eletrônica investe em artistas de vanguarda, deixando conforto de lado

SAMY ADGHIRNI
EM BREST (FRANÇA)

Enquanto os eventos de música eletrônica mundo afora apostam cada vez mais em estruturas profissionais e line-ups de apelo popular, o festival francês Astropolis completou ontem 15 anos de vida mantendo a fórmula inicial, que mescla organização caseira e programação exigente.
Em 2009, como em anos anteriores, a decoração foi sumária, faltaram banheiros e lugares para descansar. Num ambiente permissivo impensável para padrões brasileiros, o staff do evento parecia se divertir tanto quanto o público no jardim do castelo de Keroual, palco principal do evento.
O cofundador de Astropolis, Matthieu Guerre-Berthelot, 38, disse à Folha que estruturas mais confortáveis custam muito caro para um festival sem patrocínio. Segundo ele, o espirito "rave roots" faz parte do evento, que prefere investir em artistas de vanguarda.

Destaques
DJs comerciais como Sasha, Fatboy Slim e Tiesto, figuras carimbadas em grandes eventos brasileiros, não cabem na agenda de Astropolis. Os destaques deste ano ano foram o alemão Sven Vath, o canadense Richie Hawtin, o francês Laurent Garnier, o inglês Roni Size e o brasileiro Gui Boratto, além de bandas de eletrorock como Ebony Bones e Sexy Sushi. Ao todo, foram ao menos 50 artistas espalhados em seis palcos.
Boratto admitiu que nunca ouvira falar de Astropolis até ser procurado pelos organizadores. "Achei demais essa mistura de tribos. O público francês é um dos meus preferidos, e não fica esperando sempre que eu toque hits", disse o produtor paulistano antes de se apresentar em Brest, cidade portuária no extremo oeste da França.
O sucesso de Astropolis, mais antigo evento do gênero na França, é indissociável da região onde acontece. Com pelo menos 70 festivais anuais, a Bretanha é tida como uma das regiões mais festeiras e animadas do país. A música eletrônica ganhou espaço privilegiado desde que os tecneiros ingleses atravessaram o canal da Mancha, no início dos anos 90, para fugir da caça às raves promovida pelo governo linha-dura de Margareth Thatcher.
O festival teve altos e baixos. Em 1999, um assassinato a facadas obrigou os organizadores a trocarem o castelo de Keriolet, ao sul da Bretanha, por Brest. Em 2001, Astropolis teve o line-up mais caro de sua historia (com Jeff Mills, Carl Cox, Luke Slater), mas a falta de público, por causa da chuva, quebrou as finanças do evento, que por pouco não foi enterrado.
O maior orgulho dos organizadores foi a apresentação, em 2005, do time completo do Underground Resistance, mítico selo americano anticomercial, geralmente avesso a grandes festivais. "Fazemos Astropolis porque acreditamos na nossa visão das coisas", disse Guerre-Berthelot.

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