São Paulo, segunda, 11 de agosto de 1997.



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CONCERTO
O maestro indiano e a Orquestra Filarmônica de Israel reuniram entre 30 e 35 mil pessoas ontem de manhã no parque Ibirapuera
Zubin Mehta rege israelenses "pela paz"

João Wainer/Folha Imagem
Público assite a concerto de Zubin Mehta no Ibirapuera, ontem


ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local

O maestro indiano Zubin Mehta 61, comandou ontem de manhã, no parque Ibirapuera, em São Paulo, um concerto que classificou de "pacifista".
A palavra um tanto desgastada ganha relevância quando se considera que o regente conduziu a Filarmônica de Israel.
"Sempre que a orquestra percorre o mundo, toca cada nota em nome da paz. Não há outra razão para viajarmos tanto. Queremos espalhar a fraternidade. A paz depende dos políticos, mas nós, da orquestra, fazemos questão de semear a boa vontade", explicou durante breve entrevista, logo após deixar o palco.
O espetáculo -que começou às 11h06- reuniu entre 30 mil e 35 mil pessoas, segundo estimativas da Guarda Civil Metropolitana e dos organizadores do concerto.
É um público modesto para os padrões de Mehta, que visita o país pela oitava vez.
Em 1987, por exemplo, à frente da Filarmônica de Nova York, o maestro conseguiu que 100 mil pessoas o acompanhassem no mesmo parque. Seis anos depois, já regendo a orquestra israelense, levou mais 100 mil espectadores também para o Ibirapuera.
A baixa audiência de ontem, no entanto, não o frustrou. "Adorei, adorei", repetiu, quando lhe indagaram se gostou do concerto.
O regente jogou nas "condições climáticas" a culpa pelo público "um pouco menor" que o das outras vezes. "O frio atrapalhou."
Minutos antes do espetáculo, enquanto se sentava em uma das dezenas de cadeiras reservadas para convidados vips, o rabino Henri Sobel, da comunidade judaica de São Paulo, associou o concerto à busca do entendimento entre árabes e judeus.
"O anseio de paz e o som dos violinos superam o barulho das bombas. A música une os povos de todos os credos."
O presidente da Congregação Israelita Paulista, Mário Adler, outro convidado dos organizadores, também tratou de acenar bandeira branca. Mencionou o "desejo de amizade entre as nações", mas o resumiu numa frase tão concisa quanto irônica: "O petróleo de Israel é a cultura".
Curiosamente, a orquestra encerrou o espetáculo, às 12h40, com a "Abertura 1.812", que o compositor Tchaikovski (1840-1893) concebeu para celebrar uma façanha bélica -a vitória dos russos sobre as tropas de Napoleão Bonaparte.
Enquanto a filarmônica executava a peça, quatro canhões disparavam tiros de salva nos trechos mais vibrantes.
"Não há perigo. Os tiros são de mentirinha, só fazem barulho e fumaça", esclareceu o tenente do Exército Juliano Oliveira, membro do 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve.
Comandando 25 homens, o oficial seguia as orientações de um maestro israelense -que, de partitura em punho, indicava o momento certo de os canhões atirarem. Cada obuseiro se posicionou diante de um lago, perto da praça da Paz, o local onde a orquestra se apresentou.
Nas quase duas horas de concerto, Mehta confirmou a característica que o maestro cearense Eleazar de Carvalho lhe atribuía em tom crítico: a de jogar para a torcida. O indiano dirigiu o repertório de dez obras com o gestual exaltado de sempre e comoveu a platéia.
Não bastasse, fez duas concessões raras, mas de efeito muito popular, para uma estrela de alcance planetário e cachês encorpados.
Permitiu que a banda marcial do colégio João 23, localizado na Vila Prudente (zona sudeste de São Paulo), acompanhasse a filarmônica durante a "Abertura 1.812".
"Poucos maestros dão espaço para amadores. É uma honra estar aqui", festejava Kleber Alexandre, que toca tuba na banda.
Mehta também convidou o violista brasileiro Marcelo Jaffé -que fazia as vezes de mestre-de-cerimônia- para assumir o posto de um dos titulares da orquestra em três músicas.



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