|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Música da orquestra cede espaço à pirotecnia
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
O público que se aventurou a ir
ao parque Ibirapuera no Dia dos
Pais devia estar mesmo a fim de
ouvir a Filarmônica de Israel, regida pelo maestro Zubin Mehta.
Frio, ameaça (não concretizada)
de chuva, desconforto e precárias
condições acústicas foram os principais obstáculos enfrentados.
Repetiu-se o eterno conflito das
apresentações ao ar livre, entre espectadores de pé e sentados.
Quem chega antes procura se
instalar, de pé, o mais próximo
possível do palco; os retardatários
ficam sentados, mas, querendo ver
alguma coisa, começam a reclamar de quem está na frente.
"Senta! Senta!", foram os brados que permearam a primeira
meia hora do concerto, quando a
Guarda Civil Metropolitana conseguiu persuadir os mais recalcitrantes a finalmente tomarem assento na terra úmida.
O som amplificado não é exatamente a melhor forma de ouvir
uma sinfônica: no concerto de domingo, cada crescendo parecia pôr
em risco a aparelhagem de som, e
em uma das caixas ouviu-se um
forte estalo logo no início da récita,
na abertura da ópera "Oberon",
de Weber.
De qualquer forma, a organização do evento marcou pontos ao
fazer o concerto começar sem
atraso, às 11h, e ao escalar o violista
Marcelo Jaffé para explicar ao público as peças do programa.
Fica difícil conhecer, com um repertório constituído quase inteiramente por itens de bis -como as
polcas de Johann Strauss e as danças de Brahms e Dvorák- os reais
limites de uma orquestra.
Ou seja: não dá para dizer que a
filarmônica tocou mal. Mas também não dá para saber o quão bem
eles podem tocar.
Em meio a tanta superficialidade, acabou se salvando a rica leitura do poema sinfônico "Till Eulenspiegel", de Richard Strauss
-uma espécie de ensaio para o
concerto marcado para as 21h do
mesmo dia, no Teatro Municipal,
com música de verdade e ingressos
caros (R$ 15 e R$ 170).
Se a música estava destinada a
ceder espaço à pirotecnia então
não poderia haver final mais adequado que a "Abertura 1.812" de
Tchaikovski.
Seu espalhafato choca as sensibilidades mais afeitas às salas de concerto; entretanto, foi muito aplaudida pelo público do Ibirapuera,
talvez por ter tido aí a única chance
de ouvir instrumentos não prejudicados pela aparelhagem de som
-os quatro canhões do Exército
que acompanharam a peça.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|