São Paulo, segunda, 11 de agosto de 1997.



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CRÍTICA
Música da orquestra cede espaço à pirotecnia

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

O público que se aventurou a ir ao parque Ibirapuera no Dia dos Pais devia estar mesmo a fim de ouvir a Filarmônica de Israel, regida pelo maestro Zubin Mehta.
Frio, ameaça (não concretizada) de chuva, desconforto e precárias condições acústicas foram os principais obstáculos enfrentados.
Repetiu-se o eterno conflito das apresentações ao ar livre, entre espectadores de pé e sentados.
Quem chega antes procura se instalar, de pé, o mais próximo possível do palco; os retardatários ficam sentados, mas, querendo ver alguma coisa, começam a reclamar de quem está na frente.
"Senta! Senta!", foram os brados que permearam a primeira meia hora do concerto, quando a Guarda Civil Metropolitana conseguiu persuadir os mais recalcitrantes a finalmente tomarem assento na terra úmida.
O som amplificado não é exatamente a melhor forma de ouvir uma sinfônica: no concerto de domingo, cada crescendo parecia pôr em risco a aparelhagem de som, e em uma das caixas ouviu-se um forte estalo logo no início da récita, na abertura da ópera "Oberon", de Weber.
De qualquer forma, a organização do evento marcou pontos ao fazer o concerto começar sem atraso, às 11h, e ao escalar o violista Marcelo Jaffé para explicar ao público as peças do programa.
Fica difícil conhecer, com um repertório constituído quase inteiramente por itens de bis -como as polcas de Johann Strauss e as danças de Brahms e Dvorák- os reais limites de uma orquestra.
Ou seja: não dá para dizer que a filarmônica tocou mal. Mas também não dá para saber o quão bem eles podem tocar.
Em meio a tanta superficialidade, acabou se salvando a rica leitura do poema sinfônico "Till Eulenspiegel", de Richard Strauss -uma espécie de ensaio para o concerto marcado para as 21h do mesmo dia, no Teatro Municipal, com música de verdade e ingressos caros (R$ 15 e R$ 170).
Se a música estava destinada a ceder espaço à pirotecnia então não poderia haver final mais adequado que a "Abertura 1.812" de Tchaikovski.
Seu espalhafato choca as sensibilidades mais afeitas às salas de concerto; entretanto, foi muito aplaudida pelo público do Ibirapuera, talvez por ter tido aí a única chance de ouvir instrumentos não prejudicados pela aparelhagem de som -os quatro canhões do Exército que acompanharam a peça.



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