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Fragilidade entre culturas
de Londres
Numa época em que a celebração do cinema do Irã, da literatura
da África ou da chamada "world
music" é um dos últimos gritos da
moda no Ocidente, o ganense William Boyd construiu uma fábula
para mostrar o vão de desentendimento que há na inserção da produção cultural do Terceiro Mundo no "mainstream".
"O Destino de Natalie X", conto
que dá nome à coletânea recém-lançada no Brasil pelo escritor, relata a história de um cineasta africano, de um país imaginário, que
torna-se conhecido internacionalmente e se vê, de uma hora para outra, envolto numa produção
ao estilo hollywoodiano.
Nos bastidores, Aurélien No,
nome do personagem, assiste seu
filme ser modificado, suas idéias
não-compreendidas se perdem, a
atriz principal desaparece. A opinião do personagem se perde até
para o leitor a quem só fica a dica
ao final do conto: o filme é premiado nos EUA, mas Aurélien No
"não está retornando ligações".
O olhar do estrangeiro volta em
outros contos. "Alpes Maritimes"
traz um adolescente inglês em Nice apaixonado por duas gêmeas
escandinavas, "Cork" apresenta
um ensaio breve sobre os limites
do amor e da insanidade tendo
como protagonista um atormentado poeta português.
"Jamais Vi o Brasil", traz a história de um taxista inglês que é
obcecado por música brasileira,
tendo-a como catarse para as suas
frustrações.
O personagem se vê atraído por
uma portuguesa, supondo que ela
fale português e que conheça a
cultura de que ele tanto gosta.
Quando enfim se aproxima e vê
que ela é italiana, percebe a fragilidade do conhecimento que tem
da sua própria obsessão.
Em todas as histórias, Boyd arma-se da ironia e do distanciamento que seu olhar estrangeiro
lhe proporciona. Oferece, além
das intrigas romanescas das histórias, uma visão crítica da fragilidade da compreensão entre culturas.
(SC)
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