São Paulo, Quarta-feira, 11 de Agosto de 1999
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Fragilidade entre culturas

de Londres

Numa época em que a celebração do cinema do Irã, da literatura da África ou da chamada "world music" é um dos últimos gritos da moda no Ocidente, o ganense William Boyd construiu uma fábula para mostrar o vão de desentendimento que há na inserção da produção cultural do Terceiro Mundo no "mainstream".
"O Destino de Natalie X", conto que dá nome à coletânea recém-lançada no Brasil pelo escritor, relata a história de um cineasta africano, de um país imaginário, que torna-se conhecido internacionalmente e se vê, de uma hora para outra, envolto numa produção ao estilo hollywoodiano.
Nos bastidores, Aurélien No, nome do personagem, assiste seu filme ser modificado, suas idéias não-compreendidas se perdem, a atriz principal desaparece. A opinião do personagem se perde até para o leitor a quem só fica a dica ao final do conto: o filme é premiado nos EUA, mas Aurélien No "não está retornando ligações".
O olhar do estrangeiro volta em outros contos. "Alpes Maritimes" traz um adolescente inglês em Nice apaixonado por duas gêmeas escandinavas, "Cork" apresenta um ensaio breve sobre os limites do amor e da insanidade tendo como protagonista um atormentado poeta português.
"Jamais Vi o Brasil", traz a história de um taxista inglês que é obcecado por música brasileira, tendo-a como catarse para as suas frustrações.
O personagem se vê atraído por uma portuguesa, supondo que ela fale português e que conheça a cultura de que ele tanto gosta. Quando enfim se aproxima e vê que ela é italiana, percebe a fragilidade do conhecimento que tem da sua própria obsessão.
Em todas as histórias, Boyd arma-se da ironia e do distanciamento que seu olhar estrangeiro lhe proporciona. Oferece, além das intrigas romanescas das histórias, uma visão crítica da fragilidade da compreensão entre culturas. (SC)


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