São Paulo, Quarta-feira, 11 de Agosto de 1999
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Autor cria biografia e biografado

da Reportagem Local

William Boyd ganhou destaque no ano passado por um golpe quase perfeito. A coisa veio à tona aos poucos. Primeiro, o escritor lançou uma biografia do artista Nat Tate.
Publicado pela editora 21 Publishing, do roqueiro David Bowie, um dos grandes colecionadores de arte hoje na Inglaterra, o livro "Nat Tate, an American Artist" chegou a ganhar elogios públicos de escritores como Gore Vidal.
Em um longo artigo na revista inglesa "Modern Painters", que também tem o camaleão Bowie como acionista, Boyd detalhou como conheceu a obra de Tate.
Caminhando pela rua 57, em Nova York, ele resolveu entrar na galeria Alice Singer. Lá, em meio a obras de artistas tarimbados, como Andy Warhol e Cy Twombly, estava a tela "Bridge nº 122", de Nat Tate.
Encantado com o trabalho, que ele achou semelhante às célebres pinturas expressionistas abstratas de Jackson Pollock, Boyd resolveu cavoucar a trajetória de Tate, de quem nada tinha ouvido falar.
Na biografia que fez, explicou que esse "gênio" desconhecido da pintura ganhou a obscuridade por ter destruído todas as suas obras antes de pular da ponte de Staten Island (NY), nos anos 60. Só restara aquela pintura da exposição.
Tudo muito bem, tudo muito bom, não fosse um jornalista inglês chamado David Lister.
Ele esteve no lançamento do livro e perguntou aos presentes se alguém conhecia Nat Tate. Para sua surpresa, boa parte dos convivas disse que sim.
E todos eles mentiam. Pouco depois, Lister conseguiu fazer Boyd, o biógrafo, reconhecer que inventara seu biografado. Tate nunca existiu. O melhor viria logo depois. A única pintura atribuída ao artista tinha sido feita pelo próprio escritor. (CASSIANO ELEK MACHADO)


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