São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999 |
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MPB volta a cuidar, 40 anos depois, da MPB
SERGIO TORRES da Sucursal do Rio Pela primeira vez em 40 anos, compositores de primeira linha da música popular brasileira assumem uma entidade representativa da categoria, a histórica UBC (União Brasileira de Compositores), para lutar contra o não-pagamento de direitos autorais. Os compositores Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Abel Silva formam a nova direção da UBC, principal sociedade arrecadadora do país. Letrista do Clube da Esquina (nome pelo qual ficou conhecido o grupo de compositores mineiros surgido nas décadas de 60 e 70), autor de "Travessia", sucesso com Milton Nascimento, Brant é o secretário-geral da UBC. "A canção é um direito de propriedade, está na lei. Mas, no Brasil, se utiliza a canção sem pedir autorização ao autor e sem pagar. Resolvi entrar nessa briga", afirma Brant. Parceiro de Dominguinhos, Sueli Costa, Fagner, João Bosco, Jards Macalé e Robertinho de Recife, Abel Silva vê o empenho de letristas como uma questão até de sobrevivência. Ele é diretor administrativo da UBC. "É o letrista que vive do direito autoral. Ele não tem palco, bilheteria ou disco. Nunca pensei ser diretor de uma associação. É novo para mim. Mas, se não fôssemos nós, não seria ninguém", disse. Os compositores contam que foram para a UBC em apoio ao presidente da sociedade, José Antônio Perdomo. Diretor-superintendente da EMI Music Publishing (editora da gravadora EMI), Perdomo assumiu a UBC em 89 com a meta de transformar o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) em entidade técnica. Criado em 1973, o Ecad é formado por sete sociedades arrecadadoras, entre elas a UBC. A reação foi violenta. Em 1º de junho de 1992, Perdomo quase morreu. Quatro tiros foram disparados contra ele. Estilhaços o feriram na cabeça. Até hoje, anda com seguranças. Os autores do ataque são desconhecidos. Os compositores decidiram se unir em torno de Perdomo. O primeiro a aderir à UBC foi Paulo Sérgio Valle, há seis anos. Depois vieram Paulinho Tapajós, Edmundo Souto (autores de "Andança" e vogais da atual direção), Abel, Brant e Ronaldo Bastos. "É uma situação emergencial. Vamos levantar nossa associação da mesma forma que os metalúrgicos levantaram o sindicato deles. Para que a música brasileira sobreviva. Uma canção move o mundo e dá sentido à vida. Se não pagarem a quem cria, estarão matando a galinha dos ovos de ouro", disse Bastos, diretor de distribuição da UBC. Redes de TV por assinatura e a cabo, exibidores de cinema, casas de espetáculos de grande porte e organizadores de shows e festivais estão entre os principais sonegadores, segundo a UBC. O Ecad calcula que a dívida da sonegação atinge R$ 220 milhões. Por mês, o Ecad arrecada R$ 100 milhões. Fica com 20% e repassa o resto para as sociedades, a quem cabe 5% do total. Para os compositores, vão 75%. Para divulgar as atividades da nova direção, a UBC lançou a revista "Pauta", de circulação bimensal, editada por Márcio Borges (autor de "Para Lennon e McCartney", com Lô Borges e Brant). A confiança no trabalho da UBC se reflete no crescimento do número de associados e na importância das novas filiações. São recentes associados compositores da importância de Edu Lobo, Wagner Tiso, Erasmo Carlos e Dorival Caymmi, além dos herdeiros de Tom Jobim, Pixinguinha e Cartola. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Sociedade surgiu em 1942 Índice |
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