São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999
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Adaptação para cinema une duas obras

da Sucursal do Rio

A mais conhecida obra de João Cabral de Melo Neto, "Morte e Vida Severina", foi adaptada para o cinema pelo cineasta Zelito Viana em 1974. Mas o filme é, na verdade, uma união de dois trabalhos de João Cabral.
A iniciativa de adaptar a obra partiu do cineasta. Foi vendo sua encenação no teatro em 1968, em São Paulo, que Viana decidiu levá-la para o cinema.
"Quando assisti, me deu uma vontade louca de adaptá-la", explicou o cineasta.
Foi por sugestão de João Cabral, segundo Viana, que a versão cinematográfica de "Morte e Vida Severina" se uniu a outra obra do poeta pernambucano.
"O Rio", um poema que descreve a vida e a miséria das populações que vivem às margens do rio Capiberibe, no Recife, acabou dando o ingrediente plástico e visual de que o cineasta precisava para o filme.
"A sugestão dele me ajudou muito do ponto de vista cinematográfico", disse Zelito Viana.
Na avaliação do cineasta, João Cabral não considerava "Morte e Vida Severina" um poema tão grande quanto o público o considera e, por essa razão, teria pedido a ele que a adaptação fosse uma união das duas obras.
A versão cinematográfica das obras foi premiada apenas uma vez, em 1975, com a "Margarida de Prata", concedida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O filme, segundo Viana, teve sua exportação proibida pela censura do regime militar por conter imagens consideradas desprestigiosas para o Brasil.
"O mais lamentável disso tudo é que essa obra do João Cabral foi encenada no teatro nos anos 60, foi para o cinema nos anos 70 e, posteriormente, foi representada na TV, e, durante todos esses anos, a realidade do Nordeste continua a mesma", concluiu Zelito Viana.
O cineasta considerou a morte de João Cabral "a perda do maior poeta vivo do Brasil, criador de um ritmo poético diferente de tudo que existia".
(LETÍCIA KFURI)


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