|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Adaptação para cinema une duas obras
da Sucursal do Rio
A mais conhecida obra de João
Cabral de Melo Neto, "Morte e Vida Severina", foi adaptada para o
cinema pelo cineasta Zelito Viana
em 1974. Mas o filme é, na verdade, uma união de dois trabalhos
de João Cabral.
A iniciativa de adaptar a obra
partiu do cineasta. Foi vendo sua
encenação no teatro em 1968, em
São Paulo, que Viana decidiu levá-la para o cinema.
"Quando assisti, me deu uma
vontade louca de adaptá-la", explicou o cineasta.
Foi por sugestão de João Cabral,
segundo Viana, que a versão cinematográfica de "Morte e Vida Severina" se uniu a outra obra do
poeta pernambucano.
"O Rio", um poema que descreve a vida e a miséria das populações que vivem às margens do rio
Capiberibe, no Recife, acabou
dando o ingrediente plástico e visual de que o cineasta precisava
para o filme.
"A sugestão dele me ajudou
muito do ponto de vista cinematográfico", disse Zelito Viana.
Na avaliação do cineasta, João
Cabral não considerava "Morte e
Vida Severina" um poema tão
grande quanto o público o considera e, por essa razão, teria pedido a ele que a adaptação fosse
uma união das duas obras.
A versão cinematográfica das
obras foi premiada apenas uma
vez, em 1975, com a "Margarida
de Prata", concedida pela CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil).
O filme, segundo Viana, teve
sua exportação proibida pela censura do regime militar por conter
imagens consideradas desprestigiosas para o Brasil.
"O mais lamentável disso tudo é
que essa obra do João Cabral foi
encenada no teatro nos anos 60,
foi para o cinema nos anos 70 e,
posteriormente, foi representada
na TV, e, durante todos esses
anos, a realidade do Nordeste
continua a mesma", concluiu Zelito Viana.
O cineasta considerou a morte
de João Cabral "a perda do maior
poeta vivo do Brasil, criador de
um ritmo poético diferente de tudo que existia".
(LETÍCIA KFURI)
Texto Anterior: João Cabral despoetizou o poema Próximo Texto: Morte que assombra Índice
|