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TEATRO
Estréia em SP quarta peça de Dionisio Neto, que segue estrutura linear e está repleta de citações visuais e sonoras
"Antiga" quer desmontar as aparências
VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As aparências enganam, mas,
enfim, aparecem. Os atalhos poéticos do paranaense Paulo Leminski podem servir de pista para
a nova peça do diretor e ator maranhense Dionisio Neto.
Em "Antiga - A Milagrosa História da Imagem que Perdeu Seu
Herói", que entra em cartaz hoje
no Centro Cultural São Paulo,
Dionisio desconstrói, aos poucos,
as máscaras do que ele define como uma "família-frankenstein".
Numa metrópole contemporânea, um magnata das comunicações, sua mulher reclusa, garimpada no sertão baiano, sua filha
adotiva, moldada nos padrões da
moda, e um rapaz da periferia,
que usa a "arte de pichar" como
arma para conquistar seu lugar ao
sol, compõem os desvãos de um
labirinto que culmina em uma
festa de Réveillon.
"São personagens arquétipos,
inspirados na alta roda paulistana
e na cultura marginal, que podem
ser encontrados em qualquer festa, em qualquer esquina", afirma
Dionisio Neto.
Em cena, ele interpreta Capricórnio, uma espécie de "terrorista-poeta" que sonha invadir o
Museu de Arte de São Paulo, o
Masp, para pichar versos seus e
ganhar as manchetes dos jornais.
"Toda a trajetória pessoal dele é
a de um "outsider" consciente,
lembra um Marcelo D2, um Chico
Science, um Renato Russo, enfim,
a nossa geração perdida", continua Dionisio, que já trabalhou
com José Celso Martinez Corrêa e
Antunes Filho.
A nova peça diz respeito não só
aos filhos sem norte, mas também
aos pais, daí a perspectiva de um
núcleo familiar.
O mentor é Vittorio (José Rubens Chachá), homem das comunicações, "espécie de Assis Chateaubriand, de Cidadão Kane dos
trópicos", fascinado pelo poder,
pela modernidade (na peça, ele
inclusive é amigo de Hélio Oiticica) e postulante ao cargo de presidente da República.
"O que me fascina no personagem é a possibilidade de mostrar
os homens públicos que sabemos
se tratar de grandes escrotos. No
entanto são filtrados por um verniz que a mídia passa", diz Chachá, cuja bagagem inclui trabalhos da verve comediante do grupo Ornitorrinco, de Cacá Rosset.
Musa do cinema novo, Helena
Ignez interpreta a mãe, Crista, que
suporta um casamento de 12
anos. Segundo a atriz, trata-se de
"uma diva idosa, charmosa e reclusa, sertaneja "desradicada" à
procura de suas raízes, nem que
seja por meio dos sonhos".
"Antiga" promove nova reunião no palco de Helena e sua filha, Djin Sganzerla, que interpreta
Gertrúria. Elas atuaram no início
do ano, no mesmo Centro Cultural São Paulo, em "Savannah
Bay", de Marguerite Duras, dirigida por Rogério Sganzerla.
"A modelo Gertrúria também é
usada pelo pai, Vittorio, como
uma forma de atrair a mídia",
afirma Djin. A personagem conhece Capricórnio em uma rave.
Ela se apaixona, mas também estabelece com ele uma relação de
poder de classes.
Em sua quarta peça, depois da
"trilogia do rebento" ("Perpétua",
"Desembest@i" e "Opus Profundum"), Dionisio afirma que se
apropriou de uma forma clássica
para escrever o texto, uma história com início, meio e fim, que se
passa em quatro espaços cênicos
diferentes.
Estão lá as fragmentações, as citações (os cineastas Glauber Rocha, com quem Helena foi casada,
e o italiano Michelangelo Antonioni), a banda de garagem tocando ao vivo, uma trilha eclética
(DJ Noizyman, Stockhausen, Villa-Lobos).
Outro elemento recorrente no
teatro de Dionisio Neto, o vídeo,
surge em "Antiga" como personagem, "contracenando" com os
atores.
Os figurinos são assinados pelo
estilista Reinaldo Lourenço. A cenografia é de Loira, e a iluminação, de Silvia Godoy.
Sobre o título, "Antiga", Dionisio afirma querer estabelecer correspondência entre os tempos do
passado e do futuro no mundo
contemporâneo que celebra o
descartável.
ANTIGA - Onde: Centro Cultural São
Paulo - sala Adhemar Guerra (r.
Vergueiro, 1.000, Paraíso, SP, tel. 0/xx/
11/ 3277-3611). Quando: estréia hoje, às
20h30; de qua. a sáb., às 20h30; dom., às
19h30. Quanto: R$ 12. Até 22/12.
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