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CRÍTICA
Obra desvela as contradições do conquistador
CRÍTICO DA FOLHA
O livro "Malu de Bicicleta" apresenta dois
movimentos narrativos. Um
é o conflito pontual entre
Luiz e Malu, cujo entrecho
poderia caber num conto.
Outro, entremeado e esse, o
trajeto das conquistas amorosas de Luiz.
Adolescente, ele tenta seduzir a auxiliar de cozinheira. Em seguida vem a faxineira e então a prima do
amigo. A reviravolta ocorre
quanto uma namorada ciumenta o ameaça à ponta de
faca. E aí que Luiz decide tornar-se galinha "convicto".
A ameaça fálica de lhe penetrarem as carnes o leva a
intensificar suas investidas,
fazendo com que conquiste
ainda mais mulheres. Voltemos à transa com a prima.
A jovem pertence a uma
boa família, embora tenha
"jeito de menina do mato,
pele escura".
O termo que Luiz cogita
quando procura os aposentos da moça é significativo:
"senzala". Com uma única
palavra revive os ataques dos
fazendeiros contra suas mucamas e escravas.
Luiz não representa a oligarquia fazendeira (ele descende de imigrantes italianos), mas herdou a idéia da
posse. O rapaz intui as contradições dessa ordem perversa, do poder pela posse.
Mas, se deixa de ser galinha
na prática, continua galinha
em espírito. Não pode acreditar que Malu o ame desinteressadamente. Logo encontra indícios de traição.
Em sua miragem doméstica, Luiz não consegue desvencilhar-se do papel de
provedor ou dominador.
Continua aspirando à posse,
não sexual agora, mas anímica. Quando se recusa a
entregar-se por completo,
Malu inverte a situação.
É o possuidor quem está
sendo possuído. A liberdade
de Malu é uma faca que Luiz
não consegue aceitar.
Malu de Bicicleta
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 27,90 (224 págs.)
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