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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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CRÍTICA

Obra desvela as contradições do conquistador

CRÍTICO DA FOLHA

O livro "Malu de Bicicleta" apresenta dois movimentos narrativos. Um é o conflito pontual entre Luiz e Malu, cujo entrecho poderia caber num conto. Outro, entremeado e esse, o trajeto das conquistas amorosas de Luiz.
Adolescente, ele tenta seduzir a auxiliar de cozinheira. Em seguida vem a faxineira e então a prima do amigo. A reviravolta ocorre quanto uma namorada ciumenta o ameaça à ponta de faca. E aí que Luiz decide tornar-se galinha "convicto".
A ameaça fálica de lhe penetrarem as carnes o leva a intensificar suas investidas, fazendo com que conquiste ainda mais mulheres. Voltemos à transa com a prima.
A jovem pertence a uma boa família, embora tenha "jeito de menina do mato, pele escura".
O termo que Luiz cogita quando procura os aposentos da moça é significativo: "senzala". Com uma única palavra revive os ataques dos fazendeiros contra suas mucamas e escravas.
Luiz não representa a oligarquia fazendeira (ele descende de imigrantes italianos), mas herdou a idéia da posse. O rapaz intui as contradições dessa ordem perversa, do poder pela posse. Mas, se deixa de ser galinha na prática, continua galinha em espírito. Não pode acreditar que Malu o ame desinteressadamente. Logo encontra indícios de traição.
Em sua miragem doméstica, Luiz não consegue desvencilhar-se do papel de provedor ou dominador. Continua aspirando à posse, não sexual agora, mas anímica. Quando se recusa a entregar-se por completo, Malu inverte a situação.
É o possuidor quem está sendo possuído. A liberdade de Malu é uma faca que Luiz não consegue aceitar.


Malu de Bicicleta   
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 27,90 (224 págs.)



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