EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A atualidade da obra-prima do escritor espanhol Miguel de Cervantes [1547-1616] é tema do especial "Cervantes e a Lenda de Dom Quixote", que o History Channel leva ao ar hoje, a partir das 21h. Com cerca de uma hora de duração, o programa mescla, com agilidade, imagens de adaptações para o cinema e TV de "Dom Quixote de La Mancha" e depoimentos de escritores, estudiosos e até de um psiquiatra. O principal objetivo: apontar por que o livro, que este ano completa 400 anos, permanece atual, tendo se tornado o livro mais publicado depois da Bíblia.
A atração defende que o cavaleiro andante e seu duplo, o fiel escudeiro Sancho Pança, representam as contradições essenciais do ser humano, como o sonho versus o pragmatismo, arquétipos repetidos em outras obras de ficção, de Sherlock Holmes e o Sr. Watson, a "O Gordo e o Magro" e os robôs C3PO e R2-D2, de "Guerra nas Estrelas".
O programa contextualiza historicamente a obra de Cervantes, lembrando como o livro, considerado o romance moderno inaugural, representou uma crítica do autor aos livros de cavalaria, tão banais à época (século 17) quanto alguns conteúdos televisivos de hoje em dia. O especial também destaca a importância da biografia do próprio Cervantes na sua obra, como as experiências com guerras e a prisão.
Entre os entrevistados, estão alguns famosos como o escritor alemão Günter Grass, o português José Saramago e o peruano Mario Vargas Llosa, em depoimentos que se debruçam sobre o que representa o personagem de Cervantes hoje. Um ingênuo, capaz de assumir uma missão tão decente que nos faz sentir sórdidos, como defende Llosa; um louco lúcido, que enfrenta moinhos, metáfora do homem superado pelas máquinas; e um idealista, xerife do mundo ideal, como John Wayne nos faroestes americanos.