São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Crítica/"Folha Explica Tom Jobim"

Autor acerta em recorte sobre obra de Jobim

LUIZ TATIT
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para explicar Tom Jobim em poucas páginas é preciso acertar no recorte. Os fatos cruciais que marcaram a trajetória do compositor pela música brasileira e internacional são quase sempre acompanhados de anedotas que retiram o foco da sua obra. Assumindo o ponto eqüidistante entre os universos erudito e popular, o mesmo em que o maestro se situou desde sua aparição nos anos 50, Cacá Machado pôde explicar como suas famosas composições se beneficiaram ao mesmo tempo dos formatos sinfônico e cancional, das influências de Villa-Lobos e de Pixinguinha, dos recursos do jazz e do samba e até mesmo da seriedade e do prazer dispensados a cada peça. Isso permitiu que já se distinguisse, logo de início, as particularidades da atuação musical de Jobim no meio artístico brasileiro. Embora tenha sido um dos mais prolíficos cancionistas da nossa história, o criador de "Águas de Março" concentrou sua produção em 11 discos-solo, enquanto nossos compositores de primeira grandeza surgidos nos anos 60 exibem dezenas de álbuns ao longo do mesmo período. Acontece que o trabalho de Jobim -como compositor, arranjador e pianista- em colaboração com outros autores, intérpretes e músicos, nacionais e estrangeiros, constitui a outra face, também imensamente explorada, de sua identidade artística. Foi por esse canal, aliás, que Jobim conseguiu ultrapassar as fronteiras históricas e geográficas que, até o período bossa nova, impediam que nossa sonoridade desse vôos mais amplos. O autor analisa o respaldo musical que o maestro deu ao famoso LP "Canção do Amor Demais", de Elizete Cardoso, no qual João Gilberto introduziu sua batida inconfundível, mas não despreza a glória nacional em discos lançados com Dorival Caymmi, Elis Regina, Edu Lobo e Miúcha. Machado devota atenção especial à produção sinfônica do compositor e seu estreito vínculo com a criação de canções. Quando define o "pensamento circular" de Jobim, destaca sua predileção por "regravar, reinterpretar" e "reutilizar fragmentos melódicos, rítmicos e harmônicos de um tema em outros". Tudo ocorre como se o maestro jamais desprezasse seus motivos já inseridos em outros contextos sonoros. Um tema sinfônico vira tema cancional e vice-versa. O autor ainda dedica algumas páginas à importante relação de Jobim com a literatura brasileira. Se o tema é inesgotável, não se pode negar que o volume dá início a um enfoque explicativo da obra do compositor.

LUIZ TATIT é compositor e pesquisador musical

FOLHA EXPLICA TOM JOBIM
Autor: Cacá Machado
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 17,90 (168 págs.)
Avaliação: ótimo



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