São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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Paz prevê fundo e doações de obras para museu de Inhotim

Empresário quer aprofundar dimensão pública da maior instituição de arte contemporânea do país

Museu mineiro ao ar livre recebeu, no último fim de semana, artistas, curadores e galeristas para inaugurar novas obras e pavilhões


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO

No fim de semana passado, o Instituto Cultural Inhotim recebeu uma romaria de ilustres representantes do circuito de arte contemporânea. Centenas de convidados, entre os quais alguns dos mais prestigiados artistas, curadores e galeristas do mundo, desfilaram pelos jardins do luxuriante museu ao ar livre para presenciar a inauguração de nove instalações.
Foram recebidos pelo empresário Bernardo Paz, que concebeu e criou a instituição, plantada numa antiga fazenda em Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte. Para júbilo do anfitrião, o fim de semana artístico foi precedido por uma boquiaberta reportagem da revista "Travel", do "New York Times", que chamava Inhotim de "nova maravilha do mundo".
Paz, 59, milionário do setor de mineração e siderurgia, começou a ganhar projeção no meio das artes no início dos anos 2000, quando se tornou um comprador agressivo de obras, com vistas a criar seu inusitado museu.
A ideia ganhou corpo depois que ele, em 1995, aos 45 anos, sofreu um derrame, em Paris -escala de uma de suas incontáveis viagens de negócios à China. "Eu realmente vi que as pessoas morrem e fiquei com a sensação clara de que aquele não era mais meu caminho."
Alguns anos depois, já não tinha dúvidas sobre abrir uma coleção de arte para o público nos jardins que construía em Inhotim -propriedade comprada em 1984. Foi o artista Tunga quem o incentivou a investir em arte contemporânea. "Ele dizia que a arte moderna estava virando enfeite na parede e que a arte contemporânea tinha vindo para ficar."
Paz percebeu que os 40 hectares de Inhotim eram propícios a abrigar grandes instalações em meio à natureza -um tipo de obra que poderia ser adquirida a preços atraentes, por ser de difícil comercialização. "Naquela época eu ainda não sabia se ia conseguir", diz.
Conseguiu, mas não sem enfrentar percalços e suspeitas. Festejado por muitos como um desprendido benfeitor das artes, mas visto por alguns como um excêntrico desmedido, ele despertou desconfianças quando, em meio a dificuldades, decidiu vender boa parte do seu acervo com a mesma agressividade com que comprara.
"Vendi para continuar construindo o museu", justificou-se em entrevista à Folha, concedida em sua casa, em Inhotim. "E depois recomprei muita coisa." Há quem diga que ele aceitou preços menores do que os que havia pago. Ele relativiza: "Quando o objetivo é maior, qualquer coisa que se diga é menor do que o objetivo. Não me preocupa o que disseram, mas o que Inhotim representa hoje para o Brasil".

Doação
O mais importante centro de arte contemporânea do país -e um dos melhores do mundo- vem passando por um processo de formalização institucional. Já há seis anos, a direção artística está nas mãos de um trio de curadores formado pelo americano Allan Schwartzman, pelo alemão Jochen Volz (também cocurador da Bienal de Veneza) e pelo mineiro Rodrigo Moura.
Os próximos passos vão na direção de aprofundar a dimensão pública do museu e de criar condições para que se sustente ao longo do tempo. Estão em curso estudos para um "endowment" (fundo de manutenção) e para transformar Inhotim em organização social de interesse público. Em breve, dez obras do colecionador serão doadas ao instituto, que nos últimos 12 meses atraiu 211 mil visitantes -sendo 38 mil estudantes.
Hoje, a manutenção de Inhotim beira os R$ 20 milhões por ano, valor basicamente coberto, segundo o empresário, por recursos provenientes de seus negócios. Captações por lei de incentivo representam 5%. Para se ter um parâmetro, a Pinacoteca de SP, ressalvando-se as diferenças, tem um custo anual semelhante.
Paz diz que "há muitos gênios nos botequins" e que o importante é a persistência -característica que experimenta com tormento: "É um sofrimento que não me deixa dormir. A felicidade é minha família. O resto é angústia, ansiedade e inquietude".


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