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Paz prevê fundo e doações de obras para museu de Inhotim
Empresário quer aprofundar dimensão pública da maior instituição de arte contemporânea do país
Museu mineiro ao ar livre recebeu, no último fim de semana, artistas, curadores e galeristas para inaugurar novas obras e pavilhões
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO
No fim de semana passado, o
Instituto Cultural Inhotim recebeu uma romaria de ilustres
representantes do circuito de
arte contemporânea. Centenas
de convidados, entre os quais
alguns dos mais prestigiados
artistas, curadores e galeristas
do mundo, desfilaram pelos
jardins do luxuriante museu ao
ar livre para presenciar a inauguração de nove instalações.
Foram recebidos pelo empresário Bernardo Paz, que
concebeu e criou a instituição,
plantada numa antiga fazenda
em Brumadinho, a 60 km de
Belo Horizonte. Para júbilo do
anfitrião, o fim de semana artístico foi precedido por uma
boquiaberta reportagem da revista "Travel", do "New York
Times", que chamava Inhotim
de "nova maravilha do mundo".
Paz, 59, milionário do setor
de mineração e siderurgia, começou a ganhar projeção no
meio das artes no início dos
anos 2000, quando se tornou
um comprador agressivo de
obras, com vistas a criar seu
inusitado museu.
A ideia ganhou corpo depois
que ele, em 1995, aos 45 anos,
sofreu um derrame, em Paris
-escala de uma de suas incontáveis viagens de negócios à
China. "Eu realmente vi que as
pessoas morrem e fiquei com a
sensação clara de que aquele
não era mais meu caminho."
Alguns anos depois, já não tinha dúvidas sobre abrir uma
coleção de arte para o público
nos jardins que construía em
Inhotim -propriedade comprada em 1984. Foi o artista
Tunga quem o incentivou a investir em arte contemporânea.
"Ele dizia que a arte moderna
estava virando enfeite na parede e que a arte contemporânea
tinha vindo para ficar."
Paz percebeu que os 40 hectares de Inhotim eram propícios a abrigar grandes instalações em meio à natureza -um
tipo de obra que poderia ser adquirida a preços atraentes, por
ser de difícil comercialização.
"Naquela época eu ainda não
sabia se ia conseguir", diz.
Conseguiu, mas não sem enfrentar percalços e suspeitas.
Festejado por muitos como um
desprendido benfeitor das artes, mas visto por alguns como
um excêntrico desmedido, ele
despertou desconfianças quando, em meio a dificuldades, decidiu vender boa parte do seu
acervo com a mesma agressividade com que comprara.
"Vendi para continuar construindo o museu", justificou-se
em entrevista à Folha, concedida em sua casa, em Inhotim.
"E depois recomprei muita coisa." Há quem diga que ele aceitou preços menores do que os
que havia pago. Ele relativiza:
"Quando o objetivo é maior,
qualquer coisa que se diga é
menor do que o objetivo. Não
me preocupa o que disseram,
mas o que Inhotim representa
hoje para o Brasil".
Doação
O mais importante centro de
arte contemporânea do país -e
um dos melhores do mundo-
vem passando por um processo
de formalização institucional.
Já há seis anos, a direção artística está nas mãos de um trio de
curadores formado pelo americano Allan Schwartzman, pelo
alemão Jochen Volz (também
cocurador da Bienal de Veneza)
e pelo mineiro Rodrigo Moura.
Os próximos passos vão na
direção de aprofundar a dimensão pública do museu e de criar
condições para que se sustente
ao longo do tempo. Estão em
curso estudos para um "endowment" (fundo de manutenção)
e para transformar Inhotim em
organização social de interesse
público. Em breve, dez obras do
colecionador serão doadas ao
instituto, que nos últimos 12
meses atraiu 211 mil visitantes
-sendo 38 mil estudantes.
Hoje, a manutenção de Inhotim beira os R$ 20 milhões por
ano, valor basicamente coberto, segundo o empresário, por
recursos provenientes de
seus negócios. Captações
por lei de incentivo representam 5%. Para se ter
um parâmetro, a Pinacoteca de SP, ressalvando-se as diferenças, tem um
custo anual semelhante.
Paz diz que "há muitos
gênios nos botequins" e
que o importante é a persistência -característica que experimenta com tormento: "É
um sofrimento que não me deixa dormir. A felicidade é minha
família. O resto é angústia, ansiedade e inquietude".
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