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CINEMA
Filme de Djalma Batista inspirado no poeta português tem pré-estréia promovida por amigos da Cinemateca
"Bocage" é ode ao desejo e à liberdade
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
"Bocage - O Triunfo do Amor",
de Djalma Limongi Batista, é puro
cinema de inspiração.
O filme, que tem hoje pré-estréia
promovida pela Sociedade Amigos
da Cinemateca, foi o grande injustiçado do Festival de Gramado
deste ano, de onde saiu só com o
prêmio especial do júri.
A partir da figura do português
Manuel Maria Barbosa du Bocage
(1765-1805) -um dos maiores e
mais controvertidos poetas da língua-, "Bocage" erige uma ode à
poesia, ao desejo e à liberdade.
O elenco, com Victor Wagner à
frente, é quase todo oriundo da
montagem teatral de "Calígula",
dirigida pelo próprio Batista.
Parece incrível, mas uma produção feita só com atores de teatro,
com figurinos e cenários reciclados, fortemente teatral na estilização, na cenografia e na encenação,
e ainda por cima baseada essencialmente na declamação de poemas, resultou num filme de beleza
e intensidade invulgares.
As primeiras imagens causam
estranhamento: o poeta, dentro de
uma gaiola em forma de astrolábio, flutua solitário no mar, pouco
antes de atracar numa praia cheia
de homens musculosos e bizarramente vestidos (ou despidos).
A expansão ultramarina, o degredo e o desejo. É no jogo entre
esses termos que o filme se desenvolverá, dividido grosso modo em
três partes: o amor, a língua portuguesa, a amizade.
Superado o susto inicial, o espectador embarca na experiência ímpar de acompanhar um cinema
que se inventa a cada cena.
As imagens, captadas em cinemascope em praias do Ceará, na
Amazônia, no Iguaçu e em aldeias
portuguesas, são de uma exuberância avassaladora, mas não se
esgotam no pictórico: integram-se
organicamente ao movimento
dramático do filme.
Os achados de cenografia se sucedem: quando fala da língua portuguesa, Bocage está cercado de
palavras manuscritas nas paredes
e no chão; em outra cena, as luzes
de repente se apagam, deixando o
poeta iluminado apenas por uma
constelação de velas.
A liberdade narrativa é total.
Uma personagem sai de um palácio e vê-se diante de uma tapera de
pau-a-pique. Os continentes, cenários e paisagens misturam-se
acintosamente, sem que se perca o
fio da narrativa: o inventário sexual e afetivo do poeta.
Os excessos alegóricos do filme
não comprometem sua opulência
visual e sonora. Obra de paixão
transbordante, "Bocage" não recua nem diante do kitsch nem do
obsceno. Poesia visual não-pasteurizada, enfim.
Filme: Bocage - O Triunfo do Amor
Direção: Djalma Limongi Batista
Quando: pré-estréia hoje, às 21h, no cine
Bristol
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