São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Sinfônica da Bahia decepciona até quem não espera nada
Montserrat Caballé salva o concerto no Teatro Municipal

IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Carisma, domínio do palco e capacidade de comunicação com o público: a experiente soprano espanhola Montserrat Caballé lançou mão de todas suas qualidades extra-musicais para salvar o concerto de anteontem à noite, no Municipal.
A exemplo de sua apresentação no ano passado, com a Sinfônica de Porto Alegre, a récita paulistana de Caballé foi uma espécie de corrida de obstáculos, tudo contra a música.
Havia um público atrasado e barulhento e um programa caro (R$ 15) e desatualizado, de cujas alterações os organizadores não informaram a platéia.
Mas tudo isso são pequenezas se levarmos em conta o nível subterrâneo da Sinfônica da Bahia -uma orquestra que consegue decepcionar até quem dela nada esperava.
Nem os reforços chamados para o concerto conseguiram salvar uma sinfônica essencialmente antimusical.
O ápice foi uma versão desafinada e prostituída da "Meditação", da ópera "Thaïs". A harpa imaginada por Massenet foi substituída por um piano.
Diante de tamanha miséria, o regente espanhol José Collado , que Caballé trouxe na frasqueira, não conseguiu operar milagres, mas se revelou um bom acompanhador, sensível às necessidades da cantora no que tange a tempos e respiração.
Milagre reside, sim, é na voz imaculada de Caballé. Os longos agudos em pianíssimo, que parecem ser sustentados sem esforço, poderiam ser explicados pela técnica; mas que uma mulher de 66 anos continue tendo um timbre tão belo e tão fresco, escapa à nossa vã filosofia.
A exigente cena do "Otello", de Verdi, evidenciou certa insegurança no centro grave; e, com mais volume, ela não teria sido encoberta pela orquestra em "Il est doux, il est bon", da "Hérodiade", de Massenet.
Mas seria muito mesquinho se ater a estes detalhes para resumir um concerto que teve uma entrega tão expressiva de "I o son l'umile ancella", da ópera "Adriana Lecouvreur", de Cilea; e interpretações charmosas, bem-humoradas e cheias de verve de zarzuelas espanholas.
No bis, mais zarzuela, o indefectível "Babbino caro", de Puccini, e "Like a Dream", de Vangelis -um pop aquoso do qual Caballé bem que poderia ter poupado nossos ouvidos.


Avaliação:    


Texto Anterior: Música: Osesp divulga seu programa de 2000
Próximo Texto: Livro/Lançamento: Operariado é reformista, diz Gorender
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.