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CRÍTICA
Sinfônica da Bahia decepciona até quem não espera nada
Montserrat Caballé salva o concerto no Teatro Municipal
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Carisma, domínio do palco e
capacidade de comunicação
com o público: a experiente soprano espanhola Montserrat
Caballé lançou mão de todas
suas qualidades extra-musicais
para salvar o concerto de anteontem à noite, no Municipal.
A exemplo de sua apresentação no ano passado, com a Sinfônica de Porto Alegre, a récita
paulistana de Caballé foi uma
espécie de corrida de obstáculos, tudo contra a música.
Havia um público atrasado e
barulhento e um programa caro
(R$ 15) e desatualizado, de cujas
alterações os organizadores não
informaram a platéia.
Mas tudo isso são pequenezas
se levarmos em conta o nível
subterrâneo da Sinfônica da Bahia -uma orquestra que consegue decepcionar até quem dela nada esperava.
Nem os reforços chamados
para o concerto conseguiram
salvar uma sinfônica essencialmente antimusical.
O ápice foi uma versão desafinada e prostituída da "Meditação", da ópera "Thaïs". A harpa
imaginada por Massenet foi
substituída por um piano.
Diante de tamanha miséria, o
regente espanhol José Collado ,
que Caballé trouxe na frasqueira, não conseguiu operar milagres, mas se revelou um bom
acompanhador, sensível às necessidades da cantora no que
tange a tempos e respiração.
Milagre reside, sim, é na voz
imaculada de Caballé. Os longos
agudos em pianíssimo, que parecem ser sustentados sem esforço, poderiam ser explicados
pela técnica; mas que uma mulher de 66 anos continue tendo
um timbre tão belo e tão fresco,
escapa à nossa vã filosofia.
A exigente cena do "Otello",
de Verdi, evidenciou certa insegurança no centro grave; e, com
mais volume, ela não teria sido
encoberta pela orquestra em "Il
est doux, il est bon", da "Hérodiade", de Massenet.
Mas seria muito mesquinho se
ater a estes detalhes para resumir um concerto que teve uma
entrega tão expressiva de "I o
son l'umile ancella", da ópera
"Adriana Lecouvreur", de Cilea;
e interpretações charmosas,
bem-humoradas e cheias de
verve de zarzuelas espanholas.
No bis, mais zarzuela, o indefectível "Babbino caro", de Puccini, e "Like a Dream", de Vangelis -um pop aquoso do qual
Caballé bem que poderia ter
poupado nossos ouvidos.
Avaliação:
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