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LIVRO/LANÇAMENTO
Historiador, autor de "O Combate nas Trevas", lança "Marxismo sem Utopia" hoje em SP
Operariado é reformista, diz Gorender
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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O historiador marxista Jacob Gorender, em sua casa, na Pompéia, zona oeste de São Paulo |
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
""Na minha idade,
não quero mais ser
enganado nem enganar ninguém.
Chega." Aos 76
anos, o historiador
marxista Jacob Gorender, ex-membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e do PCBR ("R"
de Revolucionário), continua
marxista, mas perdeu a ilusão na
classe operária.
"O proletariado é ontologicamente (em si) reformista", afirma
Gorender no livro "Marxismo
sem Utopia", que lança hoje. Com
essa posição, vai de encontro ao
que pensavam Karl Marx e Friedrich Engels, pais do marxismo e
autores do "Manifesto Comunista" e de "O Capital".
Marx e Engels acreditavam que
o proletariado era ontologicamente revolucionário. Significa
que os operários travariam necessariamente uma luta pela expropriação dos meios de produção
da burguesia.
Gorender acredita que a história do século 20 provou que Marx
e Engels estavam errados -foram utópicos, apesar de buscarem eliminar a utopia da análise
que faziam da sociedade capitalista. Para Gorender, os operários
lutam para reformar o capitalismo e não para acabar com ele.
"Estou sendo coerente com
"Que Fazer", de Lênin (líder da Revolução Russa). Ele afirma que,
deixado na sua evolução espontânea, o proletariado só atinge uma
consciência sindical. Para ter uma
consciência revolucionária, precisa da contribuição da "intelligentsia". Lênin não concluiu, mas o
que é uma classe que não chega à
consciência revolucionária? Exatamente uma classe ontologicamente reformista", diz.
Com isso, perde força, por
exemplo, a categoria de "traidores", que recaiu sobre a social-democracia alemã em 1914, quando
esta apoiou a guerra. Quando não
se idealiza a classe operária, é preciso reconhecer que ela apoiava a
posição dos deputados.
Hoje, a tendência não só entre
os marxistas, mas também de desenvolvimentistas e da social-democracia, é a da defesa da utopia
como arma política. Um dos que
adotam essa posição é o historiador britânico Eric Hobsbawn ("A
Era dos Extremos").
"Tenho em grande conta Hobsbawn como historiador. Num
prefácio ao "Manifesto", ele diz
que a visão de Marx do proletariado como revolucionário não pode
ser extraída logicamente de seu
sistema, o que é verdade. Mas
também Lester Thurow, um keynesiano, fala em utopia, para salvar o capitalismo. O filósofo Richard Rorty fala na necessidade
utopia social-democrata, Jünger
Habermas também defende uma
utopia. Todos querem acreditar
numa utopia", diz Gorender.
Na opinião do brasileiro, que
acredita "nadar contra a corrente
dos intelectuais de esquerda", defender um projeto utópico "é a
força da fraqueza: não temos força, temos a utopia; quanto mais
fracos, mais utópicos".
Livro: Marxismo sem Utopia
Autor: Jacob Gorender
Lançamento: Ática
Quanto: R$ 29,90 (288 págs.)
Quando: hoje, às 18h30
Onde: Livraria Cultura (av. Paulista,
2.073; tel.0/xx/11/285-4033)
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