São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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LIVRO/LANÇAMENTO
Historiador, autor de "O Combate nas Trevas", lança "Marxismo sem Utopia" hoje em SP
Operariado é reformista, diz Gorender

Antônio Gaudério/Folha Imagem
O historiador marxista Jacob Gorender, em sua casa, na Pompéia, zona oeste de São Paulo


HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local


""Na minha idade, não quero mais ser enganado nem enganar ninguém. Chega." Aos 76 anos, o historiador marxista Jacob Gorender, ex-membro do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e do PCBR ("R" de Revolucionário), continua marxista, mas perdeu a ilusão na classe operária.
"O proletariado é ontologicamente (em si) reformista", afirma Gorender no livro "Marxismo sem Utopia", que lança hoje. Com essa posição, vai de encontro ao que pensavam Karl Marx e Friedrich Engels, pais do marxismo e autores do "Manifesto Comunista" e de "O Capital".
Marx e Engels acreditavam que o proletariado era ontologicamente revolucionário. Significa que os operários travariam necessariamente uma luta pela expropriação dos meios de produção da burguesia.
Gorender acredita que a história do século 20 provou que Marx e Engels estavam errados -foram utópicos, apesar de buscarem eliminar a utopia da análise que faziam da sociedade capitalista. Para Gorender, os operários lutam para reformar o capitalismo e não para acabar com ele.
"Estou sendo coerente com "Que Fazer", de Lênin (líder da Revolução Russa). Ele afirma que, deixado na sua evolução espontânea, o proletariado só atinge uma consciência sindical. Para ter uma consciência revolucionária, precisa da contribuição da "intelligentsia". Lênin não concluiu, mas o que é uma classe que não chega à consciência revolucionária? Exatamente uma classe ontologicamente reformista", diz.
Com isso, perde força, por exemplo, a categoria de "traidores", que recaiu sobre a social-democracia alemã em 1914, quando esta apoiou a guerra. Quando não se idealiza a classe operária, é preciso reconhecer que ela apoiava a posição dos deputados.
Hoje, a tendência não só entre os marxistas, mas também de desenvolvimentistas e da social-democracia, é a da defesa da utopia como arma política. Um dos que adotam essa posição é o historiador britânico Eric Hobsbawn ("A Era dos Extremos").
"Tenho em grande conta Hobsbawn como historiador. Num prefácio ao "Manifesto", ele diz que a visão de Marx do proletariado como revolucionário não pode ser extraída logicamente de seu sistema, o que é verdade. Mas também Lester Thurow, um keynesiano, fala em utopia, para salvar o capitalismo. O filósofo Richard Rorty fala na necessidade utopia social-democrata, Jünger Habermas também defende uma utopia. Todos querem acreditar numa utopia", diz Gorender.
Na opinião do brasileiro, que acredita "nadar contra a corrente dos intelectuais de esquerda", defender um projeto utópico "é a força da fraqueza: não temos força, temos a utopia; quanto mais fracos, mais utópicos".


Livro: Marxismo sem Utopia Autor: Jacob Gorender Lançamento: Ática Quanto: R$ 29,90 (288 págs.) Quando: hoje, às 18h30 Onde: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel.0/xx/11/285-4033)

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