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CINEMA
Organizadas pela viúva Christiane Kubrick, fotos registram da infância ao set do último trabalho do cineasta
Álbum imprime lenda Stanley Kubrick
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"Stanley Kubrick - A Life in
Pictures" vai muito além
da celebração de um gênio por
sua viúva. A ex-atriz e frágil artista
plástica Christiane Kubrick, a terceira e última mulher do diretor
de "De Olhos Bem Fechados"
(99), selecionou e escreveu as legendas do extraordinário álbum
de fotografias que acompanha
Kubrick do berço às locações do
último filme.
Como o documentário homônimo, disponível em DVD no
Brasil e dirigido por Jan Harlan,
irmão de Christiane, há no volume um inequívoco tom solene e
oficial. Seria um motivo tolo demais para desprezar a ambos, filme e livro. Há qualidades suficientes nos dois para torná-los
obrigatórios para quem pretenda
pesquisar a esfinge Kubrick.
O volume começa com duas
epígrafes do próprio cineasta.
"Não é uma mensagem que tentei
transmitir por palavras", diz a primeira. "Real é bom, interessante é
melhor", assevera a segunda. Seguem-se, antes das fotos, um prefácio de Steven Spielberg, a introdução de Christiane e uma cronologia sintética. Fechando o volume, um valioso apêndice com fichas técnicas da carreira do diretor.
Spielberg lembra a relação pessoal e profissional com Kubrick,
que legou a ele o irregular e subestimado "Inteligência Artificial"
(2001). Nada como um grande batendo continência para outro,
ainda maior. "Stanley Kubrick foi
o grande mestre do cinema. Criou
mais que filmes. Deu-nos completas experiências ambientais
que se tornam mais, e não menos,
intensas quanto mais as vemos",
sustenta. "Ele não copiou ninguém, enquanto todos nós rastejávamos tentando imitá-lo."
Christiane, lembra Spielberg,
esteve casada com Kubrick por 42
anos. Sua devoção emana de cada
texto abaixo das fotos. Não se furta mesmo a incluir um belo flagrante de camarim da bailarina
Ruth Sobotka, a segunda mulher
do jovem Kubrick -esquecida
pelo documentário de Harlan.
O álbum cumpre o que promete
no título -uma vida em fotos. Eis
Kubrick das origens numa ascendente família nova-iorquina ao
set britânico de filmagens de "De
Olhos Bem Fechados". As imagens comprovam: Kubrick viveu
para filmar. Raras são as fotos
eminentemente privadas -várias tiradas por ele mesmo.
Estrutura-se o volume em duas
partes e um intervalo. Neste,
Christiane reúne oito retratos que
fez do marido. Cinco são pinturas, sendo uma póstuma. Três são
fotográficos: sem barba, abraçando a primeira filha, em 1959; barbudo, ao lado do cachorro, em
1978; e tomando um café na cozinha de casa, no final de 1998.
Na primeira parte, de 1928 a
1964, reúnem-se os retratos do artista quando jovem. A imensa
maioria traz Kubrick sem barba,
trajando terno e gravata, ao lado
de uma câmera, fotográfica ou cinematográfica. Não faltam instantâneos colhidos por ele mesmo, seja em sua primeira carreira,
como fotojornalista, seja do curioso cineasta, incansavelmente
flagrando colaboradores como o
roteirista Terry Southern ou o camaleônico Peter Sellers.
Duas sequências celebram uma
das admirações maiores de Kubrick: o fotógrafo americano de
origem austro-húngara Arthur H.
Fellig, mais conhecido como
Weegee (1899-1968). De 1965 a
1999, na parte final, foram apenas
seis filmes. Cristaliza-se a imagem
tornada mítica: um Kubrick barbudo, despojadamente vestido,
com um sorriso a desafiar a lenda
de seu temperamento difícil. Quase todas as fotos mostram-no em
cenários ou locações, como se Kubrick não vivesse fora dali. Parece
justo: imprima-se a lenda, se é
mais verdadeira que a verdade.
Stanley Kubrick - A Life in Pictures
Autora: Christiane Kubrick
Editora: Little, Brown and Company
Quanto: cerca de R$ 145 (192 págs.)
Onde encomendar: www.amazon.com
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