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TEATRO
"A Máscara do Imperador", de Samir Yazbek, reúne atores como Caco Ciocler e Giulia Gam
Peça revela imperador de cada um
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A trama é palaciana, desfia amores
vãos e poderes vis.
Poderia se passar
no Império Romano, há cerca de
2.000 anos, mas sua matéria é feita
de vicissitudes humanas e extemporâneas.
"A Máscara do Imperador", nova peça de Samir Yazbek, esculpe
as faces oculta e explícita de um
soberano. A idéia é refletir o
quanto tal arquétipo pode fazer
de todo homem "um pequeno algoz, deixando um legado de
opressão e fúria por onde passa".
O texto participa hoje do ciclo
Leituras de Teatro, que acontece
no Teatro Folha, em São Paulo. A
Folha realiza este projeto de dramaturgia desde 1996.
Yazbek, 35, escreve sobre um
imperador metido em crises do
coração e da razão, entre as pressões da mulher, da amante, do general e até do criado e da governanta, vozes capitais no enredo.
À la August Strindberg (1849-1912), como quer Yazbek, citando
o autor sueco, todos os personagens não têm nome. O Imperador
(Caco Ciocler) destrata a Mulher
(Giulia Gam), que lhe cobra mais
humanidade e pede que arranque
a máscara desfigurada do soberano indiferente à miséria do povo.
Uma Amante (Leona Cavalli)
"compensa" a abstenção da Mulher, que logo toma conhecimento da traição por meio da sua Governanta (Thania Castello).
O Criado (Genézio de Barros)
também se mobiliza diante de
tanta injustiça, sobretudo aquela
que acomete a Mulher. Paralelamente, Criado e Governanta protagonizam um caso de amor cujo
desfecho, como o dos patrões, é
pleno em tragicidade.
Para além dos muros do palácio, é o General (Luciano Chirolli)
quem chega para trazer notícias
da dura realidade das ruas, fome e
desemprego. Uma rebelião popular detém um dos soldados do
exército do Imperador, que lhe
ordena o massacre.
Segundo Yazbek, a peça apresenta-se como uma metáfora sobre o uso do poder nos dias de hoje, "aprofundando a idéia do planeta regido pela ordem única do
império laico americano". "Temos, através do Imperador, o
exercício do poder privado, nas
relações de posse e opressão que
estabelece com seus próximos",
diz. "O texto denuncia o poder
público deixando de ser exercido
nesses tempos de globalização."
A máscara do título é uma chave
para leitura metateatral. "O Imperador é um ator nos palcos do
mundo e o enredo da peça, o processo de desmascaramento desse
ator", afirma Yazbek.
Esse jogo de ser e aparecer despontava em textos anteriores do
autor, como em "O Regulamento", "A Terra Prometida" e "O
Fingidor", mas agora ele acredita
ter amadurecido a abordagem.
Também está implícito em "A
Máscara do Imperador" o não
exercício de uma ética pessoal. "A
peça mostra o quanto somos auto-suficientes, quando deveríamos orientar nossas vidas pela
existência do outro."
Depois do encontro com Yazbek em "O Regulamento", na
Mostra de Dramaturgia Contemporânea, em temporada no TBC,
William Pereira dirige a leitura,
bem como a montagem prevista
para 2003, com boa parte dos atores do encontro de hoje. O evento
é às 20h, no Teatro Folha, no
shopping Pátio Higienópolis (av.
Higienópolis, 618, piso 2, SP). A
entrada é grátis. Os interessados
devem fazer reservas, das 14h às
17h, pelo 0/xx/11/3224-3473.
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