São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO

"A Máscara do Imperador", de Samir Yazbek, reúne atores como Caco Ciocler e Giulia Gam

Peça revela imperador de cada um

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A trama é palaciana, desfia amores vãos e poderes vis. Poderia se passar no Império Romano, há cerca de 2.000 anos, mas sua matéria é feita de vicissitudes humanas e extemporâneas.
"A Máscara do Imperador", nova peça de Samir Yazbek, esculpe as faces oculta e explícita de um soberano. A idéia é refletir o quanto tal arquétipo pode fazer de todo homem "um pequeno algoz, deixando um legado de opressão e fúria por onde passa".
O texto participa hoje do ciclo Leituras de Teatro, que acontece no Teatro Folha, em São Paulo. A Folha realiza este projeto de dramaturgia desde 1996.
Yazbek, 35, escreve sobre um imperador metido em crises do coração e da razão, entre as pressões da mulher, da amante, do general e até do criado e da governanta, vozes capitais no enredo.
À la August Strindberg (1849-1912), como quer Yazbek, citando o autor sueco, todos os personagens não têm nome. O Imperador (Caco Ciocler) destrata a Mulher (Giulia Gam), que lhe cobra mais humanidade e pede que arranque a máscara desfigurada do soberano indiferente à miséria do povo.
Uma Amante (Leona Cavalli) "compensa" a abstenção da Mulher, que logo toma conhecimento da traição por meio da sua Governanta (Thania Castello).
O Criado (Genézio de Barros) também se mobiliza diante de tanta injustiça, sobretudo aquela que acomete a Mulher. Paralelamente, Criado e Governanta protagonizam um caso de amor cujo desfecho, como o dos patrões, é pleno em tragicidade.
Para além dos muros do palácio, é o General (Luciano Chirolli) quem chega para trazer notícias da dura realidade das ruas, fome e desemprego. Uma rebelião popular detém um dos soldados do exército do Imperador, que lhe ordena o massacre.
Segundo Yazbek, a peça apresenta-se como uma metáfora sobre o uso do poder nos dias de hoje, "aprofundando a idéia do planeta regido pela ordem única do império laico americano". "Temos, através do Imperador, o exercício do poder privado, nas relações de posse e opressão que estabelece com seus próximos", diz. "O texto denuncia o poder público deixando de ser exercido nesses tempos de globalização."
A máscara do título é uma chave para leitura metateatral. "O Imperador é um ator nos palcos do mundo e o enredo da peça, o processo de desmascaramento desse ator", afirma Yazbek.
Esse jogo de ser e aparecer despontava em textos anteriores do autor, como em "O Regulamento", "A Terra Prometida" e "O Fingidor", mas agora ele acredita ter amadurecido a abordagem.
Também está implícito em "A Máscara do Imperador" o não exercício de uma ética pessoal. "A peça mostra o quanto somos auto-suficientes, quando deveríamos orientar nossas vidas pela existência do outro."
Depois do encontro com Yazbek em "O Regulamento", na Mostra de Dramaturgia Contemporânea, em temporada no TBC, William Pereira dirige a leitura, bem como a montagem prevista para 2003, com boa parte dos atores do encontro de hoje. O evento é às 20h, no Teatro Folha, no shopping Pátio Higienópolis (av. Higienópolis, 618, piso 2, SP). A entrada é grátis. Os interessados devem fazer reservas, das 14h às 17h, pelo 0/xx/11/3224-3473.



Texto Anterior: Cinema: Álbum imprime lenda Stanley Kubrick
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.