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LITERATURA
Livro do poeta (e em breve contista) Paulo Henriques Britto levou os R$ 100 mil do prêmio Portugal Telecom
"Macau" vira poesia mais valiosa das letras brasileiras
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
É um livrinho de capa prateada,
de breves 80 páginas, batizado em
homenagem a uma ilhota de português no meio da China: "Macau". É um livrinho de poemas
com nomes como "Biodiversidade", "De Vulgari Eloquentia" e
"Súcubo". Era um livrinho de um
poeta chamado Paulo Henriques
Britto brigando com obras de nomões como Augusto de Campos,
Décio Pignatari, Manoel de Barros, Sérgio Sant'Anna e Chico
Buarque, e com as novas estrelas
literárias Bernardo Carvalho e
Marcelo Mirisola.
E, de repente, não mais que de
repente, virou um dos livros de
poesias mais valiosos da história
da literatura brasileira. "Macau"
ganhou na noite de terça-feira o
prêmio Portugal Telecom, o mais
rico das letras nacionais. Paulo
Henriques Britto saiu da festa na
Sala São Paulo com um troféu e
um cheque de R$ 100 mil.
Não foi curta a alquimia do livrinho prateado em pote de ouro.
Resultado de anos de produção
poética do carioca de 53 anos, que
diz que escreve três ou quatro
poemas por ano ("Em um ano
ótimo faço seis"), "Macau" deu as
caras no fim de 2003, lançado por
uma editora sem tradição em
poetas brasileiros de pouca projeção, a Companhia das Letras.
A primeira barragem ultrapassada pelo livrinho foi em fevereiro. Uma manada de críticos, jornalistas e professores de todo o
país, 213 no total, indicaram os livros que acreditavam os melhores
de 2003. "Macau" ficou em lista
com outros mais de 500 títulos
lançados no ano que passou.
Depois veio a escolha de um
"Júri Nacional" com 20 votantes,
em julho, de um "Júri Final", em
agosto, e da lista de dez finalistas.
Anteontem de manhã, uma dezena de críticos de cinco Estados
fez a eleição final, com votos individuais e secretos. "Macau" ganhou dez "xizinhos", quatro deles
como o melhor livro do ano, e
Henriques Britto levou a centena
de milhar de reais, deixando Sérgio Sant'Anna em 2º (também
com dez votos) e, surpresa 2, Luiz
Antonio de Assis Brasil, em 3º.
Nos corredores da Sala São Paulo, menos cheia do que na primeira edição (que premiou a dobradinha Dalton Trevisan e Bernardo
Carvalho, dois homens da prosa),
os convidados se perguntavam:
"Mas quem é esse Henriques?".
A surpresa não era geral. Pouco
conhecido do grande público (do
médio e pequeno também), o premiado tem prestígio no alto mundinho literário, seja por seus econômicos versos (só publicados
em quatro livros), seja pelas aulas
que dá na PUC carioca, seja pela
extensa carreira como tradutor da
língua inglesa, ramo em que é tido
como o "número 1" no país.
Henriques Britto estava, por
coincidência, para mostrar este
mês uma quarta faceta literária.
Com "Paraísos Artificiais", que
deve sair entre o final de novembro e o começo de dezembro,
também pela Companhia das Letras, ele se lançará como contista.
Assim como nos versos, é uma
prosa que vem de longe, à conta
gotas. O escritor diz que começou
a escrevê-los em 1972, quando foi
estudar cinema na Califórnia. Lá,
e então, foi que decidiu que gostava era de literatura. Mas logo trocou a prosa pela poesia.
A primeira coletânea de narrativas curtas, com título "roubado
de Baudelaire", terá textos ainda
desta velha safra, mesclados com
contos que fez aos poucos desde
então, sempre de olho (em poesia
ou prosa) no coloquialismo. Um
poema à esmo de "Macau" exemplifica: "A tarde devora o dia/que
já estrebucha entre nuvens./É noite./ Manhã engole essa noite/encaroçada de estrelas. É dia". Assim diz Henriques Britto, o homem que engoliu a noite.
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