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BIA ABRAMO
"Sistema" tem boas piadas e horário ruim
Apostas mais criativas da programação da Globo ficam escondidas nas noites de sexta
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NÃO DÁ para entender por que
as apostas mais criativas e diferenciadas da programação
da Rede Globo ficam escondidas no
incômodo horário das 23h da sexta-feira.
Justamente por essas características menos convencionais, teriam
potencial para atrair públicos mais
refratários à programação normal
da TV.
No entanto, ficam sempre relegados à sexta-feira, dia de sair ou de assistir a filmes locados. Essa intuição de que sexta-feira não é dia de TV,
para esse público mais afeito a novidades, parece reger, por exemplo, a
lógica dos canais de TV paga que exibem séries: os dias dos seriados mais
quentes são no meio da semana.
Assim, as séries e programas desses acabam por enfrentar um desafio a mais, que é o de emplacar num
horário já de antemão esvaziado.
"O Sistema", sitcom escrito por
Alexandre Machado e Fernanda
Young e dirigido por José Lavigne,
nem bem havia estreado, na sexta-feira da semana passada, e os sites
com "notícias" de TV já decretavam
sua audiência abaixo da expectativa
e atribuíam a rejeição do público ao
fato de o programa ser muito "moderno".
Embora não dê para confiar na
qualidade de reportagem, nem na
argúcia de análise da maioria desses
sites, a leitura é sintomática.
Sugere, por exemplo, que qualquer ousadia de formato será culpada por baixa audiência e, mais, indica
que a TV ainda pensa seu público de
forma muito homogênea.
"O Sistema" não é exatamente
"muito moderno", mas é uma paródia amalucada, de humor debochado e bizarro.
O ponto de partida é excelente: um
sujeito comum, o fonoaudiólogo
Matias (Selton Mello) compra uma
briga com o "sistema" -com o duplo
sentido de "o establishment" e dos
sistemas de informação.
Ele destrata a atendente de telemarketing Regina (Graziella Moretto) e tem sua existência apagada e
junta-se a um grupo de ativistas paranóicos.
As referências a filmes de ficção
científica distópica como "Brazil, o
Filme" e "Matrix" e a trama de espionagem entram no liqüidificador
de uma esculhambação generalizada, em que se misturam teorias da
conspiração, lenda urbanas e muitas
piadas boas.
De quebra, a série traz Maria Alice
Vergueiro de volta à TV, depois de
ter se tornado uma celebridade do
YouTube com o enorme sucesso de
"Tapa na Pantera" ano passado - e
só por isso valeria a curiosidade.
biabramo.tv@uol.com.br
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