São Paulo, Sábado, 11 de Dezembro de 1999 |
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FESTIVAL DE HAVANA Premiação terá presença de Wenders; Brasil tem menos chances na distribuição dos Corais "Buena Vista" encerra festival em Cuba
AMIR LABAKI enviado especial a Havana A primeira reunião em Havana da banda completa "Buena Vista Social Club" encerra hoje o 21º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano de Havana. O show vai suceder a projeção do documentário homônimo, de Wim Wenders -na presença do cineasta-, e a premiação. A produção brasileira teve suas chances reduzidas na distribuição dos prêmios Corais, com o cancelamento da participação de três longas de ficção. Não chegaram ao festival as cópias legendadas em espanhol de "Ação entre Amigos", de Beto Brant, "O Primeiro Dia", de Walter Salles e Daniela Thomas, e "Traição", dirigido por Arthur Fontes, Claudio Torres e José Henrique Fonseca, da produtora Conspiração. Apenas três filmes nacionais concorrem aos Corais de ficção: "Amores", de Domingos de Oliveira, "Por Trás do Pano", de Luiz Villaça, e "Um Copo de Cólera", de Aluizio Abranches. Assim, a representação brasileira na disputa de documentários acabou superando em títulos os de ficção. Só entre longas e médias, participam da competição "Cine Mambembe - O Cinema Redescobre o Brasil", de Lais Bodanski e Luis Bolognesi, "Fé", de Ricardo Dias, e "Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos", de Marcelo Masagão -além de "Milagre em Juazeiro", de Wolney Oliveira, que trocou de categoria dado seu caráter híbrido, e "Pierre Verger - Mensageiro entre Dois Mundos", de Lula Buarque de Holanda. Borges e Fidel A competição de documentários esquentou também com a inclusão, após o fechamento do catálogo, de "Los Livros e la Noche", do argentino Tristán Bauer. Com "Evita", Bauer saiu vitorioso da disputa há dois anos. Seu novo filme é um elaborado retrato de Jorge Luis Borges, cujo centenário de nascimento foi celebrado em agosto passado. Bauer combina um valioso material de arquivo a longas sequências com atores para dar conta da vida e da obra do autor de "História Universal da Infâmia". O cineasta argentino foi particularmente feliz em articular dramatizações com leituras em "off" de trechos de contos, crônicas e poemas de Borges, girando em torno de temas caros a ele, como o mundo como labirinto e a biblioteca como paraíso terrestre. Recursos de computação gráfica também são usados com parcimônia e contundência. Outra adição inesperada ao programa celebrou os 40 anos do poder do comandante Fidel Castro. Dirigido por Estela Bravo, uma norte-americana radicada em Cuba, o documentário "Fidel" resume em 75 minutos a trajetória do líder cubano. O resultado é um modelo de hagiografia. As críticas às restrições aos direitos humanos são ligeiramente apresentadas e veementemente rebatidas -pelo próprio Fidel Castro. O acesso privilegiado aos arquivos traz curiosas imagens, sobretudo do jovem Castro. Por outro lado, o filme abre mão de lançar maiores luzes sobre a vida privada do comandante, citando a expressa vontade de Fidel. O filme cresce sempre que recorre a depoimentos de personalidades, como um dos irmãos de Castro, Ramón, os escritores Frei Betto e Gabriel García Márquez e o cineasta Sydney Pollack. Apesar do oficialismo, "Fidel" reafirma Castro como um personagem excepcional -ainda à espera de um retrato fílmico mais complexo. Amir Labaki está em Havana como membro do júri da crítica Texto Anterior: Notas Próximo Texto: Walter Salles: O crime de Mônaco, Hitchcock e Orson Welles Índice |
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