São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2000

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RELÂMPAGOS

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JOÃO GILBERTO NOLL

Ela poderia responder à repentina necessidade de ação, antes que a fome a obrigasse a se postar diante da geladeira. Antes disso, poderia escrever a carta cujo destinatário estava prestes a se definir, poderia umedecer a pele, cantar. Só quando a fome viesse a lhe enrijecer as mandíbulas, se isso de fato pudesse acontecer, só aí ela esqueceria sua amada atividade para se dedicar a pôr nutrientes para dentro de si. Por enquanto, a fome ainda era uma presença encabulada. A moça faria tudo para esquecer que o corpo estava muito assiduamente à sua espera para se refazer. Agora pegaria o alaúde raro. Ou lavaria o vestido com a mancha segredada. E não engoliria nem um único farelo. Só, só essa água que pinga pelo peito antes que, afoita, ela corra para começar...


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