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Redes tiram cinema inglês das cinzas
DA REPORTAGEM LOCAL
Gosta de cinema inglês? Então
agradeça à televisão. Não fosse a
participação ativa da TV britânica
na produção cinematográfica dos
anos 80, talvez nunca teríamos
visto "Trainspotting" ou "Quatro
Casamentos e um Funeral".
E, por falar em casamento, o namoro entre televisão e cinema começou na década de 60, quando
os principais produtores de TV
do país se cansaram de trabalhar
com videoteipe e passaram a filmar em película de 16 mm.
Kenith Trodd, produtor veterano, parceiro de Dennis Potter e
outros diretores em vários sucessos de bilheteria, foi um dos responsáveis por essa revolução.
"Naquela época e durante os anos
70 e início dos 80, a indústria cinematográfica do Reino Unido estava pobre. Os filmes mais interessantes eram os da televisão", diz
Trodd, em entrevista à Folha.
Mas, no princípio, o romance
entre os dois mercados ainda tinha inimigos. "Por problemas
corporativos e contratuais, os filmes quase nunca podiam ser distribuídos pelos cinemas, mesmo
que houvesse grande demanda ou
ofertas altas de outros países",
afirma Trodd, que participará de
dois debates no encontro do Centro Cultural Banco do Brasil.
A relação evoluiu e o noivado se
deu em 1983, com a estréia na televisão do Channel Four, canal público, que decidiu produzir filmes
que pudessem ser exibidos primeiro no cinema e, depois, na TV.
Com o casamento sacramentado pelo enorme poder da televisão pública na era Thatcher, vieram os filhos, como "Minha Adorável Lavanderia", em 1985, e
"Quatro Casamentos e um Funeral", dez anos depois.
Aos poucos, o mel da relação foi
adoçando a tradicional rede BBC,
que resolveu também aderir ao
esquema. Entre suas produções,
uma das mais bem-sucedidas foi
"Billy Elliot" (2000).
Hoje em dia, no entanto, casamento talvez não seja mais a melhor palavra para definir a conexão entre a TV e o cinema, na opinião de Trodd. "Ainda existem alguns investimentos cruzados,
mas a indústria cinematográfica
britânica está em uma condição
muito mais saudável e independente do que a dos anos 80. Essa
"saúde" está mais relacionada a
uma maior disponibilidade de recursos financeiros do que propriamente ao sucesso de bilheteria ou qualidade artística."
E é sobre essa evolução do relacionamento entre TV e cinema
que Trodd vem falar no Brasil. Ele
diz que sabe pouco da experiência
brasileira no setor.
(LAURA MATTOS)
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