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ENQUANTO ISSO, LONGE DAS CÂMERAS...
Namoro na TV?
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
O jipe Suzuki seminovo, cor-de-grafite, está imundo. Não
vê água há semanas. O pára-brisa,
com o vidro levemente trincado,
exibe um adesivo otimista: "Sou
da paz". Na traseira do carro, outra inscrição, agora em inglês, diz
algo como "Nasci para atuar".
Sempre que circula pela pequena rua, a polícia desconfia. Imagina que o jipe seja roubado e que
os ladrões o abandonaram lá, na
porta do edifício Alfa, um condomínio de classe média em Cerqueira César (região central de
SP). O zelador, porém, logo trata
de esclarecer: "Roubado nada. O
carro pertence à dona Bárbara".
Quando não dá expediente na
"Casa dos Artistas", dona Bárbara
vive naquele prédio. Ela é a gata
borralheira do "reality show" que
termina domingo.
Gaúcha de origem humilde, órfã desde muito jovem, a modelo e
atriz Bárbara Paz, 27, parece que
finalmente fisgou um príncipe encantado: Supla, o filho roqueiro
da prefeita Marta Suplicy.
O exótico casal, de namorico,
rouba a cena durante o programa
e confunde o zelador que tanto se
empenha em desmanchar as confusões da polícia. Confunde também outros funcionários do edifício e uma porção de moradores.
O motivo do nó: um homem alto, de longos cabelos castanhos,
cavanhaque e olhos azuis, que frequenta o apartamento 64, o mesmo onde Bárbara mora.
A vizinhança já avistava o sujeito por ali antes de a moça migrar
para a casa de Silvio Santos. Depois que ela se enfurnou em rede
nacional, o cabeludo fez-se ainda
mais assíduo. Possui a chave do
quarto-e-sala, que visita dia sim,
dia não. Rega as plantas, cuida do
gato, checa as mensagens na secretária eletrônica. Age como alguém muito íntimo da modelo,
tão íntimo quanto um parente,
amigo ou... namorado!
Eis o ponto: se a cinderela tem
namorado longe das câmeras, um
véu de dúvidas recai sobre o "reality show". Pode ser que o "affair"
entre Bárbara e Supla não passe
de uma diabólica armação consentida pelos dois. Por outro lado,
pode ser que o enlace esteja de fato ocorrendo e que o pobre do cabeludo veja-se obrigado a amargar cada etapa da traição, com os
olhos azuis fixos no vídeo.
Mas pode ser pior -que Bárbara se mostre tão desprotegida e
apaixonada apenas para amolecer
o público e que Supla venha, em
breve, engrossar o ramo familiar
dos sem-sorte no amor.
Enfim: o irresistível (e ancestral)
hobby do zunzunzum corre solto
pelo edifício Alfa. A novidade é
que, desta vez, a TV o alimenta.
"Sei não", conjectura o zelador
José Ramos Pereira, 56. "Esse namoro da dona Bárbara com o tal
do roqueiro... Soa como armadilha. Coisa do meio artístico. Truque do Silvio Santos para abiscoitar um ibopezinho gostoso."
O baiano Pereira trabalha no
condomínio de 12 andares há
quase três décadas. Discreto, dá
poucos detalhes sobre a intimidade da atriz. Afirma adorar o programa do SBT e lamenta não conseguir acompanhá-lo sempre.
"Vivem me chamando na portaria." Quanto às visitas do homem
alto... "Aquele moço do cabelo
comprido? Encontro com frequência. Deve ser amigo de dona
Bárbara, né? Amigão mesmo..."
O filho do zelador, Everton, 20,
revela-se mais crédulo que o pai.
"O namoro da televisão está acontecendo realmente. Imagine se
não. Conheço a Bárbara. É uma
pessoa sincera." Conhece-a porque, certa vez, instalou um videocassete no apartamento dela.
Ressabiados, os moradores do
prédio, quando aceitam conversar com repórteres, pedem anonimato. "Bárbara e seu Supla, tal como todos os que assistem ao programa, são marionetes na mão de
um sistema que tenta nos distrair
de questões fundamentais da
existência", teoriza pausadamente um dos condôminos. Outro reitera: "Na TV, qualquer bobagem
tem script. Quem o Silvio Santos
pensa que engana?".
Há, entretanto, reações mais bélicas. ""Casa dos Artistas'?", espanta-se uma senhora com forte
sotaque estrangeiro. "Meu
querrrrido. O máximo que vejo
na televison é "Tom & Jerry". Boa
tarde." E bate o telefone.
"Não sou o corno que está levando chifre via satélite", anuncia
Raul Barretto, 42, o cabeludo que
entra e sai do apartamento 64.
"Sou apenas um palhaço."
Palhaço, sim. Ele faz parte dos
Parlapatões, trupe teatral com
viés circense. Conta que namorou
Bárbara entre janeiro de 99 e o início de 2001. "Entendo que as pessoas se confundam quando nos
avistam. É porque nunca desconstruo os amores de minha vida. Se o relacionamento de casal
termina, vou lapidando-o até virar outra coisa."
Define-se, então, como "pai, filho, irmão, saco de pancadas,
confidente e mecânico" da atriz.
"O que isso significa? Que nossa
relação não se encaixa em um rótulo social muito preciso."
Para Barretto, a modelo se apaixonou mesmo por Supla. "Sem
problemas. Torço sinceramente
pelos dois. E, se ouço comentários
desagradáveis, sigo adiante, feito
um Jair Rodrigues: "Deixa que digam, que pensem, que falem...'"
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